Maioria diz que a situação
financeira da Câmara de Lisboa "é sólida" mas a oposição discorda
INÊS BOAVENTURA
23/06/2014 - PÚBLICO
A Câmara de Lisboa aprovou, com os votos contra da oposição, o Relatório de
Gestão e as Demonstrações Financeiras de 2013.
O PSD diz que “a
narrativa construída pela actual maioria” da Câmara de Lisboa, segundo a qual
António Costa pôs as contas “em ordem”, “não tem correspondência com a
realidade”, alertando, juntamente com o PCP e o CDS, para a baixa taxa de
execução do orçamento e para um aumento da dívida e do passivo. Já o
vice-presidente do município garante que “a situação financeira é sólida” e
acusa a oposição de recorrer a “artifícios” para omitir aquilo que realmente
importa: que “a dívida real diminuiu”.
A Câmara de
Lisboa aprovou esta segunda-feira, com os votos contra de toda a oposição, o
Relatório de Gestão e as Demonstrações Financeiras do Município de 2013, ano em
que se registou um resultado líquido do exercício de cerca de nove milhões de
euros e um passivo de 1.420 milhões de euros. No final da reunião, que decorreu
à porta fechada, o PÚBLICO falou com vereadores de todos os partidos.
O mais crítico
foi o social-democrata António Prôa, que considera que, ao contrário do que tem
sido veiculado pela maioria, “as contas da câmara estão muito longe de estar
sólidas”. A taxa de execução do plano de actividades, cerca de 41% - o que,
segundo afirma, representa “a mais baixa dos últimos dez anos”, e o aumento da
dívida e do passivo são alguns dos aspectos que levam o autarca a dizer que vê
“com preocupação” a “dificuldade da maioria em gerir as finanças”.
Também o
comunista João Ferreira salienta a “baixíssima” taxa de execução do plano de
actividades, mesmo em áreas que são apresentadas pelo executivo como
prioritárias, como seja a reabilitação urbana. Já João Gonçalves Pereira, do
CDS, alerta para a existência de “alguns sinais que devem merecer preocupação”,
nomeadamente o acréscimo que o passivo e o endividamento tiveram entre 2012 e
2013.
O vereador
centrista apresentou uma proposta defendendo a elaboração, “tão breve quanto
possível”, do inventário do património municipal, que ao abrigo da legislação
já devia estar concluído há vários anos. PSD e PCP votaram favoravelmente mas
os eleitos do PS opuseram-se, tendo o vereador Fernando Medina deixado a
garantia de que numa das próximas reuniões camarárias faria um ponto de
situação deste processo.
Em declarações ao
PÚBLICO o autarca socialista defendeu que “a situação financeira da câmara é
sólida, como os resultados financeiros de 2013 demonstram”. Fernando Medina
destaca que “a dívida real diminuiu” e explica que essa redução só não é
visível em determinadas rubricas do passivo devido a “operações
contabilísticas” que tiveram lugar, como o aumento das provisões para fazer
face a processos judiciais e a integração no município da dívida que era da
Empresa Pública de Urbanização de Lisboa.
Quanto às taxas
de execução, o vereador das Finanças, que é também vice-presidente do
executivo, lembra que em 2013
a Câmara de Lisboa trabalhou com o orçamento transposto
do ano anterior, orçamento esse que tinha “quase 300 milhões de euros a mais de
receita”.
Apesar de tudo,
Fernando Medina admite que “há sinais de risco” a que é preciso acorrer. Entre
eles o fim anunciado do Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas de
Imóveis (IMT), “um erro grave que devia ser corrigido”, e os moldes previstos
para o Fundo de Apoio Municipal, que “podem colocar em risco municípios até
aqui numa boa situação”.
O número dois de
António Costa acrescenta que também “internamente” há trabalho a fazer para
“lidar com a questão da receita”. Questionado sobre se irão ser criadas novas
taxas, Fernando Medina diz que essa é uma questão a debater, mas admite que há
casos em que isso será inevitável, nomeadamente na taxa de resíduos, que “a lei
tornou obrigatória e a câmara não tem” de forma autonomizada.
Relatório da
reforma administrativa criticado
O PCP considera
que o 1.º Relatório de Monitorização do Processo da Reforma Administrativa de
Lisboa, que foi também aprovado esta quarta-feira, “é um mero exercício
laudatório, de apologia da reforma”.
A crítica é feita
pelo vereador João Ferreira, que condena o facto de para a sua elaboração só se
terem ouvido cinco das 24 freguesias de cidade, de não haver uma caracterização
da situação anterior com a qual se pudesse fazer uma comparação e de o
relatório ter “poucos ou nenhuns” indicadores quantitativos. “Não permite uma
avaliação rigorosa. Exigia-se outra seriedade e consistência”, resume o
vereador, acrescentando que foi rejeitada uma proposta sua que pedia o
adiamento da discussão do relatório até que este fosse melhorado.
Já o vereador do
CDS, João Gonçalves Pereira, lamenta que o documento não inclua “o que correu
menos bem”, nomeadamente ao nível da recolha de resíduos sólidos, competência
que permaneceu nas mãos do município mas foi negativamente afectada pela
transferência de recursos humanos para as juntas de freguesia.
Pelo PSD, António
Prôa lembra que este relatório se refere a “um período muito embrionário” da
reforma administrativa e defende que “um grande mérito” deste processo é o
facto de ele contemplar “uma preocupação de avaliação e monitorização”.
“Acho que é um
bom relatório. É o primeiro de vários”, diz por sua vez Fernando Medina, que também tutela os
recursos humanos, para quem “é indiscutível” que a atribuição de novas
competências às juntas de freguesia já se traduziu em melhorias na qualidade do
serviço prestado aos cidadãos.
Um dos aspectos
mencionados no documento é o facto de os presidentes de junta ouvidos durante a
sua elaboração terem defendido que “a impossibilidade de atribuição de mais
tempos inteiros aos executivos cria dificuldades óbvias a uma governação que se
pretende permanente e activa”. Tanto Fernando Medina como António Prôa admitem
que este é um problema que merece reflexão e admitem os benefícios de se
produzir uma alteração legislativa que permita que haja mais eleitos além dos
presidente de junta a trabalhar a tempo inteiro, de forma remunerada, nas
freguesias.
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