O triângulo Rato, Ratton, selecção
Por Eduardo
Oliveira Silva
publicado em 25
Jun 2014 in
(jornal) i online
São três
vertentes que vão dar pano para mangas nos próximos tempos, num país com
problemas bem mais graves
Rato, Ratton,
selecção são palavras-chave nos assuntos marcantes da actualidade doméstica,
juntando-se-lhes algumas matérias variadas, como relatórios de execução
orçamental que não colam com a realidade social ou sucessões bancárias em que
quem é obrigado a sair quer mandar por pessoa interposta, enquanto as acções do
banco vão caindo.
Não se diga que
se trata de temas leves e próprios da silly season, de que nos abeiramos,
embora no nosso rectângulo essa época tenha uma dimensão que apanha
praticamente o ano todo.
No Rato já se viu
que vale tudo. Assiste-se a uma novela mexicana com altercações, safanões e
nenhum debate político, pois a única coisa que parece estar em causa é garantir
um bilhete para chefe do governo. Os desenvolvimentos do caso tornam óbvio que
o caminho para o vencedor da pugna será mais difícil, pois o espectáculo
público oferecido é um maná de oportunidades para futuros tempos de antena dos
adversários. Depois dos gritos e das acusações de traição, veremos se o passo
seguinte não serão acusações mais pesadas lançadas por fontes e documentos
confidenciais. Aguardemos.
Do lado Ratton, a
trama não mete (por enquanto) safanões, mas já chegou a limites inauditos, com
alusões a "traições" políticas de certos juízes, ultrapassando o
direito à discordância. É porém de esperar que o governo baixe o volume da
contestação nos próximos tempos, enquanto aguarda e prepara a dimensão da crise
que irá desenvolver se efectivamente o Tribunal Constitucional inviabilizar
certas medidas constantes do Orçamento Rectificativo, como a reconfiguração da
CES. As circunstâncias difíceis em que está o PS permitem a Passos e Portas
gerir as tensões até ao ponto de encararem um (improvável) cenário de
dramatização com ameaça de legislativas antecipadas. Verdade se diga que os
primeiros ensaios com esse pano de fundo não tiveram eco, tanto mais que Cavaco
Silva tem sempre confrontado os partidos principais com as suas
responsabilidades na estabilidade.
Os dois casos
políticos referidos prometem pano para mangas e muitos desenvolvimentos, coisa
que já não deve acontecer com a selecção de futebol, que está praticamente
condenada a regressar a casa sem glória, depois dos jogos com a Alemanha e os
Estados Unidos. Quando a eliminação efectivamente se concretizar, deixaremos os
directos televisivos de todo o lado e passaremos para a fase da reflexão, da
crítica e dos ajustes de contas. Possivelmente haverá uns jogadores que
anunciam que não voltam a jogar na equipa das quinas, o treinador porá
fatalmente o lugar à disposição e pode até sair, mas dentro de uns meses tudo
estará exactamente na mesma, com estes ou outros protagonistas.
Mesmo que
houvesse o "milagre" do apuramento, o facto é que a nossa selecção é
banal e não faz diferença das mais medianas. Qualquer selecção tem jogadores
que actuam em grandes ou bons clubes europeus. Não há portanto nada que nos
distinga, se exceptuarmos objectivamente o caso de Ronaldo, que se empenhou na
medida em que o seu físico permitiu, mas não ao ponto de pôr em perigo o seu
futuro imediato. Racional como é, o craque português não correrá esse risco e
muito bem. Hoje não há carne para canhão como, por exemplo, no tempo de Eusébio.
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