terça-feira, 24 de junho de 2014

O triângulo Rato, Ratton, selecção


O triângulo Rato, Ratton, selecção
Por Eduardo Oliveira Silva
publicado em 25 Jun 2014 in (jornal) i online

São três vertentes que vão dar pano para mangas nos próximos tempos, num país com problemas bem mais graves
Rato, Ratton, selecção são palavras-chave nos assuntos marcantes da actualidade doméstica, juntando-se-lhes algumas matérias variadas, como relatórios de execução orçamental que não colam com a realidade social ou sucessões bancárias em que quem é obrigado a sair quer mandar por pessoa interposta, enquanto as acções do banco vão caindo.

Não se diga que se trata de temas leves e próprios da silly season, de que nos abeiramos, embora no nosso rectângulo essa época tenha uma dimensão que apanha praticamente o ano todo.

No Rato já se viu que vale tudo. Assiste-se a uma novela mexicana com altercações, safanões e nenhum debate político, pois a única coisa que parece estar em causa é garantir um bilhete para chefe do governo. Os desenvolvimentos do caso tornam óbvio que o caminho para o vencedor da pugna será mais difícil, pois o espectáculo público oferecido é um maná de oportunidades para futuros tempos de antena dos adversários. Depois dos gritos e das acusações de traição, veremos se o passo seguinte não serão acusações mais pesadas lançadas por fontes e documentos confidenciais. Aguardemos.

Do lado Ratton, a trama não mete (por enquanto) safanões, mas já chegou a limites inauditos, com alusões a "traições" políticas de certos juízes, ultrapassando o direito à discordância. É porém de esperar que o governo baixe o volume da contestação nos próximos tempos, enquanto aguarda e prepara a dimensão da crise que irá desenvolver se efectivamente o Tribunal Constitucional inviabilizar certas medidas constantes do Orçamento Rectificativo, como a reconfiguração da CES. As circunstâncias difíceis em que está o PS permitem a Passos e Portas gerir as tensões até ao ponto de encararem um (improvável) cenário de dramatização com ameaça de legislativas antecipadas. Verdade se diga que os primeiros ensaios com esse pano de fundo não tiveram eco, tanto mais que Cavaco Silva tem sempre confrontado os partidos principais com as suas responsabilidades na estabilidade.

Os dois casos políticos referidos prometem pano para mangas e muitos desenvolvimentos, coisa que já não deve acontecer com a selecção de futebol, que está praticamente condenada a regressar a casa sem glória, depois dos jogos com a Alemanha e os Estados Unidos. Quando a eliminação efectivamente se concretizar, deixaremos os directos televisivos de todo o lado e passaremos para a fase da reflexão, da crítica e dos ajustes de contas. Possivelmente haverá uns jogadores que anunciam que não voltam a jogar na equipa das quinas, o treinador porá fatalmente o lugar à disposição e pode até sair, mas dentro de uns meses tudo estará exactamente na mesma, com estes ou outros protagonistas.


Mesmo que houvesse o "milagre" do apuramento, o facto é que a nossa selecção é banal e não faz diferença das mais medianas. Qualquer selecção tem jogadores que actuam em grandes ou bons clubes europeus. Não há portanto nada que nos distinga, se exceptuarmos objectivamente o caso de Ronaldo, que se empenhou na medida em que o seu físico permitiu, mas não ao ponto de pôr em perigo o seu futuro imediato. Racional como é, o craque português não correrá esse risco e muito bem. Hoje não há carne para canhão como, por exemplo, no tempo de Eusébio.

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