Extrema-direita fica à margem no
novo Parlamento Europeu
ISABEL ARRIAGA E
CUNHA (Bruxelas) 25/06/2014 - PÚBLICO
Marine le Pen e Geert Wilders, líderes dos partidos de extrema-direita
francês e holandês, falharam o seu objectivo de criar um grupo parlamentar no
Parlamento Europeu (PE) a tempo de poderem pesar na nova legislatura que
arranca oficialmente a 1 de Julho.
Os dois
eurodeputados que se aliaram antes das eleições europeias assumindo a missão de
destruir a União Europeia (UE) e reconstituir as fronteiras nacionais não
conseguiram preencher os requisitos necessários para a formação de um grupo
parlamentar de pleno direito, para o que necessitariam de reunir 25 eleitos de
pelo menos sete dos 28 países da UE.
Se os 23
deputados da Frente Nacional de Le Pen (contra três na anterior legislatura)
preenchiam a quase totalidade do número necessário de deputados, a
extrema-direita falhou o limiar das nacionalidades, contando com apenas cinco.
Os aliados
potenciais de Le Pen e Wilders num grupo que assumiria a denominação de Aliança
Europeia para a Liberdade, seriam a Liga do Norte italiana, o Partido da
Liberdade austríaco (FPÖ), e o Vlams Belang belga (separatista radical). Os
quatro eleitos do partido do Congresso Nova Democracia da Polónia, um novo
partido eurocéptico radical que chegou a ser dado como praticamente confirmado
no novo grupo, foram rejeitados por Wilders, por anti-semitismo e, sobretudo,
homofobia. A sétima nacionalidade que faltava poderia ter sido conseguida,
segundo as expectativas de Le Pen, com a conquista de pelo menos um dos eleitos
pela coligação eleitoral Bulgária Sem Censura, mas a sua tentativa falhou,
preferindo estes juntar-se aos conservadores ingleses.
“A nossa recusa
de nos aliar com movimentos em que alguns dos membros assumiram posições
incompatíveis com os nossos valores não nos permitiu formar um grupo político
[no PE]", afirmou a Frente Nacional, precisando que lamenta este fracasso
“a curto prazo”,mas assume-o como “uma escolha moral e política justa de longo
prazo”. Wilders afirmou igualmente que os esforços para a constituição de um
grupo parlamentar – que pode ser criado a qualquer momento – “serão
prosseguidos” com o objectivo de “formar um grupo antes do fim do ano com novos
parceiros”.
O facto de terem
falhado o prazo oficial fixado pelo PE para a constituição dos grupos
parlamentares, que terminou esta terça-feira, não permitirá aos partidos de
extrema-direita participar nas negociações que agora arrancam para a partilha
dos cargos institucionais – vice-presidências do PE, presidências e
vice-presidências das comissões parlamentares e das delegações com países
terceiros – e que são atribuídos por método proporcional. Isso significa que,
apesar da subida registada em vários países nas eleições europeias de Maio, os
partidos extremistas ficarão à margem dos centros de poder no PE.
Isto porque os 43
potenciais membros de um grupo de extrema-direita ficarão agora classificados
como “não inscritos”, o que, além de não lhes permitir aceder a cargos
importantes, lhes dará muito menos direito de palavra, apoio administrativo e
financiamento do que as outras bancadas parlamentares. Os “não inscritos” contarão com outros 11
eleitos, dos quais seis de partidos ainda mais extremistas, sobretudo de
ideologia neonazi – um na Alemanha, três na Grécia e três na Hungria –, que são
considerados infrequentáveis por todos os outros grupos. Os restantes “não
inscritos” serão dois deputados do partido comunista grego (incompatibilizados
com a formação de esquerda radical Syriza, que integrará o grupo parlamentar da
Esquerda), um deputado romeno independente e um membro do partido unionista
democrático (Irlanda do Norte).
O fracasso de Le
Pen e Wilders deveu-se em grande parte ao facto de uma parte dos seus
potenciais membros ter preferido integrar o grupo dos eurocépticos radicais –
Europa da Liberdade e Democracia, ou EFD na sigla inglesa – presidido por Nigel
Farage, líder do partido UKIP, que quer tirar o Reino Unido da UE. Desde as
eleições, aliás, que Farage e Le Pen – que recusaram criar um grupo conjunto –
rivalizaram numa verdadeira caça aos mesmos partidos extremistas e anti-UE, da
qual o britânico saiu vencedor.
Mesmo assim,
Farage teve grandes dificuldades para salvar o seu grupo devido à dissidência
de alguns dos seus antigos aliados – como os Verdadeiros Finlandeses e o
Partido Popular dinamarquês, de extrema-direita – que preferiram o grupo
conservador eurocéptico ECR.
O EFD acabou por
ser salvo apenas na semana passada graças à adesão do Movimento Cinco Estrelas
do cómico italiano Beppe Grillo. Além dos 24 deputados do UKIP e dos 17 de
Grillo, o EFD contará com uma série de pequenos partidos anti-UE com apenas um
ou dois eleitos, como o partido da Ordem e Justiça da Lituânia, os Cidadãos
Livres da República Checa, a União dos Agricultores da Letónia e os democratas
suecos. Farage só conseguiu, no entanto, atingir o limiar das sete
nacionalidades graças à dissidência de uma das deputadas da Frente Nacional
francesa, Joelle Bergeron, que se incompatibilizou com Le Pen e decidiu, já
depois de eleita, mudar para os eurocépticos radicais.
O grupo dos
conservadores eurocépticos – ECR – conseguiu, por seu lado, passar a ser o
terceiro grupo parlamentar, com 70 membros de 14 países diferentes, destronando
os Liberais, que ficaram com 67, incluindo os dois eleitos pelo Movimento do
Partido da Terra (MPT) português. Além dos 19 conservadores britânicos a que se
juntam outros 19 do Partido da Ordem e Justiça da Polónia, o ECR conseguiu
atrair os sete eleitos do novo partido Alternativa para a Alemanha, que quer
acabar com o euro.
Depois de várias
semanas de negociações desde as eleições europeias para a constituição dos
grupos parlamentares, o PPE – centro-direita, incluindo o PSD e o CDS/PP – conta,
neste momento, com 221 deputados, os socialistas – S&D – 191, a que se segue o ECR
com 70, e os Liberais – ALDE – com 67.
O grupo da
esquerda – GUE, que inclui os três deputados da CDU e um do Bloco de Esquerda –
fica com 52 membros, os Verdes com 50 e os eurocépticos radicais – EFD – com
48. Por último, 52 deputados permanecerão, por agora, como “não inscritos”.
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