terça-feira, 10 de junho de 2014

Marine versus Jean-Marie: a Frente Nacional discute em público./ PÚBLICO Jean-Marie Le Pen réplique à sa fille / LE MONDE.


Marine versus Jean-Marie: a Frente Nacional discute em público
MARIA JOÃO GUIMARÃES 09/06/2014 - PÚBLICO
Marine Le Pen critica pela primeira vez publicamente o pai, por comentários “maldosamente interpretados” como anti-semitas.

A estratégia de normalização da Frente Nacional de Marine Le Pen acabou de levar uma machadada precisamente numa altura em que ela precisava que o partido estivesse na sua forma mais respeitável, quando se esforça para negociar um grupo europeu de partidos anti-euro e anti-imigração, o que lhe daria mais verbas e relevância no Parlamento Europeu.

Por isso, Marine, que herdou a liderança do partido de extrema-direita em 2011, viu-se obrigada a responder, publicamente, pelo comentário do seu pai dizendo que faria uma “fornada” com críticos, incluindo um judeu, e acusá-lo de ter cometido “um erro”. Jean-Marie, que é o presidente honorário da FN, parece não ter vontade de se calar e lembrou que tem o título de modo “vitalício”.

Tudo começou quando Jean-Marie Le Pen comentou as críticas ao partido feitas por uma série de artistas e de outras personalidades – entre eles, a cantora Madonna, o humorista Guy Bedos, o antigo campeão de ténis Yannick Noah e o cantor (judeu) Patrick Bruel. Questionado sobre como responderia, Le Pen riu-se: “Da próxima vez, faremos uma fornada com eles.”

Marine Le Pen manteve a resposta pronta que o seu pai sempre tem perante acusações de racismo ou anti-semitismo: que ele não é racista nem anti-semita, e que estas interpretações são feitas pelos seus opositores com intenção de o denegrir. Embora dizendo-se “convencida de que o sentido dado às suas palavras vem de uma interpretação maldosa”, Marine ousou criticar o pai: dada a sua “longa experiência”, o facto de “não ter antecipado a interpretação que seria feita dessa formulação foi um erro político do qual a Frente Nacional vai sofrer as consequências”.

Marine tentou, ainda, transformar a situação a seu favor: “Esta polémica pode ter um lado positivo, que é o de me permitir lembrar que a Frente Nacional condena do modo mais firme toda a forma de anti-semitismo.”

Mas o comentário é desastroso pelo alvo e pelo timing. Uma coisa é Le Pen falar do ébola como possível regulador do “problema da imigração em França” antes da votação para as europeias, e aí Marine ter-lhe-á chamado a atenção, em privado. Outra coisa é falar em “fornos” a propósito de um judeu precisamente na altura em que a filha precisa da aura de respeitabilidade que tem tentado dar ao partido para conseguir acordos com outros partidos europeus para formar um grupo no parlamento de Bruxelas. Pode até causar problemas com um partido que está na aliança inicial, o PVV holandês, de Geert Wilders, que tem uma postura anti-imigração, mas para quem o anti-semitismo é intragável (Wilders, político que começou com uma forte veia anti-islão, recebe apoio de Israel e há alguns anos recusava qualquer associação com Jean-Marie Le Pen, classificando-o como “horrível”).

Em editorial, o diário Le Monde diz que Le Pen “lembra à sua filha de onde vem a Frente Nacional”. Le Pen pai já foi condenado por dizer, em 1987, que as câmaras de gás eram “um detalhe” na II Guerra – Marine Le Pen disse, por seu lado, em 2011, que os campos nazis eram “o supra-sumo da barbárie”.


Associações anti-racismo já anunciaram que vão pedir que lhe seja retirada a imunidade parlamentar (Jean-Marie é um dos 24 eurodeputados da FN), para o acusar de anti-semitismo. Outros responsáveis da Frente Nacional, incluindo alguns que sempre lhe foram leais, criticaram o erro e até chegaram a aconselhar-lhe a reforma. O presidente honorário da FN não recuou. À filha, não disse “nada”: “Não tenho nada a dizer, o que tiver, direi no seio das instâncias da Frente Nacional”, cita o site da revista Le Point. Mas confessou ver as declarações da filha “um pouco como uma traição”. Mais lembrou ter o título “vitalício” de presidente honorário do partido e criticou quem na FN fizer uma interpretação dos seus comentários como anti-semitas: “Quem, no meu campo, fizer isso, é um imbecil”.

Le Monde.fr | 09.06.2014 à 08h38 • Mis à jour le 09.06.2014

Répliquant au désaveu de sa fille Marine concernant une vidéo publiée vendredi sur le site du Front national, dans laquelle il suggérait de faire une « fournée » d'artistes anti-FN, Jean-Marie Le Pen a déclaré aux micros de RMC que « la faute politique » était de « s'aligner sur la pensée unique ».
« Je considère que la faute politique, c'est ceux qui se sont alignés sur la pensée unique. Ils voudraient ressembler aux autres partis politiques. Si c'est le vœu d'un certain nombre de dirigeants du FN, ils ont réussi. C'est eux qui ont fait une faute politique, pas moi », a affirmé M. Le Pen.
Le président d'honneur du Front national a à nouveau récusé toute connotation antisémite dans ses propos, et s'en est pris directement au parti mené par sa fille, affirmant que le Rassemblement Bleu Marine était « une espèce de formation bizarre et sans consistance ».
« Moi je suis un homme libre, je ne me sens pas obligé de marcher dans les sentiers tracés par la pensée unique », a-t-il assuré, rejetant à nouveau toute idée de retraite. « Je vous mets au défi de trouver une phrase antisémite dans ma vie politique », a lancé le député européen, réélu avec 23 autres députés FN fin mai. D'après lui, « l'antisémitisme c'est le crime parfait, le crime le plus odieux du monde. Quand on arrive à porter cette accusation sur quelqu'un, on lui porte tort ».

« CONSTERNANT »
Marine Le Pen a pris ses distances dimanche de façon spectaculaire avec son père après une nouvelle sortie controversée qui a créé l'émoi au sein même du Front national et suscité une avalanche de condamnations des organisations antiracistes.
Louis Aliot, vice-président du FN et compagnon de Marine Le Pen, a dénoncé le premier « une mauvaise phrase de plus. C'est stupide politiquement et consternant ». Réponse cinglante de l'ancien leader frontiste de 85 ans : « S'il y a des gens de mon camp qui l'interprètent de cette manière, c'est que ce sont des imbéciles ! »
En fin de journée, Marine Le Pen elle-même est montée au créneau pour regretter la « faute politique » de son père, tout en se disant « convaincue que le sens donné à ses propos relève d'une interprétation malveillante ». Vu la « très longue expérience » de son père, « ne pas avoir anticipé l'interprétation qui serait faite de cette formulation est une faute politique dont le Front national subit les conséquences », a-t-elle affirmé.
Depuis le début de cette polémique, et notamment après la réaction de Marine Le Pen, le père et la fille ne se sont ni vus ni entretenus. « Ce n'est pas à moi d'être demandeur dans ce genre d'affaires », a estimé Jean-Marie Le Pen sur Europe 1. Quant à savoir s'ils ont en froid : « Mmmmh... sans commentaire ! », a conclu le patriarche.
Florian Philippot a déclaré sur RTL lundi qu'« il y aura forcément une explication entre Marine et son père », estimant n'avoir « pas de leçon à recevoir de ce show-biz qui croule sous le fric ».

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