Marine versus Jean-Marie: a
Frente Nacional discute em público
MARIA JOÃO
GUIMARÃES 09/06/2014 - PÚBLICO
Marine Le Pen critica pela primeira vez publicamente o pai, por comentários
“maldosamente interpretados” como anti-semitas.
A estratégia de
normalização da Frente Nacional de Marine Le Pen acabou de levar uma machadada
precisamente numa altura em que ela precisava que o partido estivesse na sua
forma mais respeitável, quando se esforça para negociar um grupo europeu de
partidos anti-euro e anti-imigração, o que lhe daria mais verbas e relevância
no Parlamento Europeu.
Por isso, Marine,
que herdou a liderança do partido de extrema-direita em 2011, viu-se obrigada a
responder, publicamente, pelo comentário do seu pai dizendo que faria uma
“fornada” com críticos, incluindo um judeu, e acusá-lo de ter cometido “um
erro”. Jean-Marie, que é o presidente honorário da FN, parece não ter vontade
de se calar e lembrou que tem o título de modo “vitalício”.
Tudo começou
quando Jean-Marie Le Pen comentou as críticas ao partido feitas por uma série
de artistas e de outras personalidades – entre eles, a cantora Madonna, o
humorista Guy Bedos, o antigo campeão de ténis Yannick Noah e o cantor (judeu)
Patrick Bruel. Questionado sobre como responderia, Le Pen riu-se: “Da próxima
vez, faremos uma fornada com eles.”
Marine Le Pen
manteve a resposta pronta que o seu pai sempre tem perante acusações de racismo
ou anti-semitismo: que ele não é racista nem anti-semita, e que estas interpretações
são feitas pelos seus opositores com intenção de o denegrir. Embora dizendo-se
“convencida de que o sentido dado às suas palavras vem de uma interpretação
maldosa”, Marine ousou criticar o pai: dada a sua “longa experiência”, o facto
de “não ter antecipado a interpretação que seria feita dessa formulação foi um
erro político do qual a Frente Nacional vai sofrer as consequências”.
Marine tentou,
ainda, transformar a situação a seu favor: “Esta polémica pode ter um lado
positivo, que é o de me permitir lembrar que a Frente Nacional condena do modo
mais firme toda a forma de anti-semitismo.”
Mas o comentário
é desastroso pelo alvo e pelo timing. Uma coisa é Le Pen falar do ébola como
possível regulador do “problema da imigração em França” antes da votação para
as europeias, e aí Marine ter-lhe-á chamado a atenção, em privado. Outra coisa
é falar em “fornos” a propósito de um judeu precisamente na altura em que a
filha precisa da aura de respeitabilidade que tem tentado dar ao partido para
conseguir acordos com outros partidos europeus para formar um grupo no
parlamento de Bruxelas. Pode até causar problemas com um partido que está na
aliança inicial, o PVV holandês, de Geert Wilders, que tem uma postura
anti-imigração, mas para quem o anti-semitismo é intragável (Wilders, político
que começou com uma forte veia anti-islão, recebe apoio de Israel e há alguns
anos recusava qualquer associação com Jean-Marie Le Pen, classificando-o como
“horrível”).
Em editorial, o
diário Le Monde diz que Le Pen “lembra à sua filha de onde vem a Frente
Nacional”. Le Pen pai já foi condenado por dizer, em 1987, que as câmaras de
gás eram “um detalhe” na II Guerra – Marine Le Pen disse, por seu lado, em
2011, que os campos nazis eram “o supra-sumo da barbárie”.
Associações
anti-racismo já anunciaram que vão pedir que lhe seja retirada a imunidade
parlamentar (Jean-Marie é um dos 24 eurodeputados da FN), para o acusar de
anti-semitismo. Outros responsáveis da Frente Nacional, incluindo alguns que
sempre lhe foram leais, criticaram o erro e até chegaram a aconselhar-lhe a
reforma. O presidente honorário da FN não recuou. À filha, não disse “nada”:
“Não tenho nada a dizer, o que tiver, direi no seio das instâncias da Frente
Nacional”, cita o site da revista Le Point. Mas confessou ver as declarações da
filha “um pouco como uma traição”. Mais lembrou ter o título “vitalício” de
presidente honorário do partido e criticou quem na FN fizer uma interpretação
dos seus comentários como anti-semitas: “Quem, no meu campo, fizer isso, é um
imbecil”.
Jean-Marie Le Pen réplique à sa
fille http://www.lemonde.fr/politique/article/2014/06/09/jean-marie-le-pen-replique-a-sa-fille_4434456_823448.html
Le Monde.fr |
09.06.2014 à 08h38 • Mis à jour le 09.06.2014
Répliquant au
désaveu de sa fille Marine concernant une vidéo publiée vendredi sur le site du
Front national, dans laquelle il suggérait de faire une « fournée » d'artistes
anti-FN, Jean-Marie Le Pen a déclaré aux micros de RMC que « la faute politique
» était de « s'aligner sur la pensée unique ».
« Je considère
que la faute politique, c'est ceux qui se sont alignés sur la pensée unique.
Ils voudraient ressembler aux autres partis politiques. Si c'est le vœu d'un
certain nombre de dirigeants du FN, ils ont réussi. C'est eux qui ont fait une
faute politique, pas moi », a affirmé M. Le Pen.
Le président
d'honneur du Front national a à nouveau récusé toute connotation antisémite
dans ses propos, et s'en est pris directement au parti mené par sa fille,
affirmant que le Rassemblement Bleu Marine était « une espèce de formation
bizarre et sans consistance ».
« Moi je suis un
homme libre, je ne me sens pas obligé de marcher dans les sentiers tracés par
la pensée unique », a-t-il assuré, rejetant à nouveau toute idée de retraite. «
Je vous mets au défi de trouver une phrase antisémite dans ma vie politique », a
lancé le député européen, réélu avec 23 autres députés FN fin mai. D'après lui,
« l'antisémitisme c'est le crime parfait, le crime le plus odieux du monde.
Quand on arrive à porter cette accusation sur quelqu'un, on lui porte tort ».
« CONSTERNANT »
Marine Le Pen a
pris ses distances dimanche de façon spectaculaire avec son père après une
nouvelle sortie controversée qui a créé l'émoi au sein même du Front national
et suscité une avalanche de condamnations des organisations antiracistes.
Louis Aliot,
vice-président du FN et compagnon de Marine Le Pen, a dénoncé le premier « une
mauvaise phrase de plus. C'est stupide politiquement et consternant ». Réponse
cinglante de l'ancien leader frontiste de 85 ans : « S'il y a des gens de mon
camp qui l'interprètent de cette manière, c'est que ce sont des imbéciles ! »
En fin de
journée, Marine Le Pen elle-même est montée au créneau pour regretter la «
faute politique » de son père, tout en se disant « convaincue que le sens donné
à ses propos relève d'une interprétation malveillante ». Vu la « très longue
expérience » de son père, « ne pas avoir anticipé l'interprétation qui serait
faite de cette formulation est une faute politique dont le Front national subit
les conséquences », a-t-elle affirmé.
Depuis le début
de cette polémique, et notamment après la réaction de Marine Le Pen, le père et
la fille ne se sont ni vus ni entretenus. « Ce n'est pas à moi d'être demandeur
dans ce genre d'affaires », a estimé Jean-Marie Le Pen sur Europe 1. Quant à
savoir s'ils ont en froid : « Mmmmh... sans commentaire ! », a conclu le
patriarche.
Florian Philippot
a déclaré sur RTL lundi qu'« il y aura forcément une explication entre Marine
et son père », estimant n'avoir « pas de leçon à recevoir de ce show-biz qui
croule sous le fric ».
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