A loja que se transforma chegou à
baixa do Porto
RICARDO COUTO
24/06/2014 - PÚBLICO
O espaço alberga 22 empresas, de diferentes estruturas e proveniências.
Uma loja que são
muitas lojas e que, simultaneamente, nunca é a mesma loja. Este é o conceito da
Workshops Pop-Up, situada na Rua do Almada, no Porto. O objectivo é que, no
mesmo espaço, de forma temporária, convivam vários estilos de criação e
diferentes tipos de produtos.
“São lojas
pop-up, lojas temporárias com a ideia que, sempre que o público cá vier, vai
haver novidades”, explica Rita Almada, responsável pelo espaço. É numa das ruas
mais tradicionais do Porto que vive um dos conceitos mais inovadores, dos
muitos que invadem a baixa portuense por estes dias.
Aberto desde o
ano passado, começou por ser um local, exclusivamente, dedicado aos workshops. A
génese da ideia surgiu na experiência de Rita como organizadora de eventos:
“Fazia muitos eventos com chefs de cozinha e fiquei viciada nesses trabalhos
porque os chefs são pessoas incríveis, com muita criatividade e porque
descobrimos que as pessoas adoram cozinha, adoram esse tipo de experiências”.
Os workshops
foram a primeira fase do projecto mas, depois do sucesso da experiência,
pensou-se em alargar o conceito de exposição temporária de componente criativa
às lojas. O espaço construiu-se em torno de “uma ideia de mutação que suscitou
a vontade de ter um espaço que surpreendesse as pessoas”.
O espírito
transbordou para a decoração do espaço, “não muito sofisticada”, que ajuda os
clientes a terem “um comportamento muito informal, divertido, com pouca
expectativa, cooperante”. No fundo, um ambiente mais alternativo.
As diferentes
lojas e criações que, na sua diversidade, formam a identidade comum da
Workshops Pop-Up foram, segundo Rita Almada, escolhidos “por serem exemplos de
vida, não necessariamente profissionais”. As 22 lojas que compõem o espaço têm
diversas origens, “desde empresas que estão a começar até pessoas individuais
que ainda não começaram a sua empresa e que começaram aqui o seu negócio,
passando por empresas com estruturas enormes e que querem vir para aqui”.
Os padrões
coloridos das sapatilhas da Cortebel são presença assídua. Fundada em 1965, foi
responsável pela produção das botas militares e, mais tarde, dos sapatos
desportivos que encheram as aulas de ginástica. Apesar da tradição, “os novos
caminhos” fizeram Artur Piano abrir o seu espaço aqui: “Estas lojas são canais
diferentes e têm um público mais específico, menos formatado, muitos
estrangeiros e pessoas que querem ser surpreendidas”.
Aos novos
públicos, juntam-se as oportunidades de negócio. “Nós temos um conjunto de
stocks muito antigos, de há 20 anos, que são restos de produção e a ideia era
apresentarmos aqui os nossos produtos vintage e os nossos produtos novos e não
é fácil arranjar uma loja onde temos essas duas propostas juntas”, explica
Artur Piano. Esta ideia é também seguida pela Don Caco: “Lidamos com
quantidades muito grandes, com produtos originais e ficamos com excedentes que
pomos à venda em Portugal, aqui na Workshops Pop Up”.
Raul Pulido
Valente, responsável pela marca, explica que os produtos de cerâmica “são
feitos para clientes estrangeiros”, embora “produzidos em fábricas
portuguesas”. A presença neste espaço permite que “produtos que, às vezes, no
estrangeiro atingem valores muito altos, consigam um nível de preço muito
competitivo”.
“Acho que é
importante porque as pessoas que vêm ver as outras marcas, vêem também a nossa
e vice-versa e gera-se uma dinâmica entre os clientes que têm uma escolha muito
mais ampla”, considera Raul. Presente na loja desde Fevereiro, tem como
companheiros cervejas feitas artesanalmente, quadros personalizados e marcas de
roupa, como a Cool, Soft & Chic, onde Teresa e Helena criam e comercializam
os seus modelos.
“Aqui pode-se
encontrar um universo que corresponde às necessidades de cada um porque em vez
de ir a tantas lojas, neste conceito consegue-se encontrar resposta para o que
se procura para várias situações”, consideram as duas criadoras que destacam
ainda “as sinergias que, se cada um abrisse a sua própria loja, não seriam
criadas”.
A convivência, no
mesmo espaço, de diversos criadores já levou a interacções e colaborações, como
a artista Barts que já desenhou sapatilhas para a Cortebel.
Na cozinha,
passa-se o mesmo. “Eu acho que o espaço reflecte-se, depois, no resultado
final. Usamos tudo o que nos rodeia para pôr no prato. Uso coisas como latas de
conserva para adequar o que faço ao espaço”, explica Rui Reigota. O chef já foi
responsável por seis workshops culinários desde a abertura da loja. “Foram
trabalhos como esses que me fizeram sair de quatro paredes, não estar preso a
uma ementa fixa, nem estar escondido atrás de uma cozinha sem os clientes me
poderem ver directamente”, explica.
A movida
portuense começa a destacar-se nos roteiros turísticos. A onda de visitantes,
impulsionada pela escolha da cidade como destino europeu do ano, abre espaço
para o aparecimento de diferentes conceitos que, como na Rua do Almada,
convivem com os modelos tradicionais.
Texto editado por Ana Fernandes
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