Teresa quê?
Em pleno Verão cheio de roubos, catástrofes e dramas,
pergunto quem se pode dar ao luxo de deitar votos para a rua em vez de os andar
a colher em todas as ruas, freguesias e bairros da cidade?
Laurinda Alves
OBSERVADOR
18/7/2017, 7:37
As redes sociais multiplicam os exemplos cómicos (e
trágicos) de cartazes de campanha para as próximas autárquicas e alguns são
verdadeiras anedotas. Fazem rir, embora não tenham sido produzidos para serem
propriamente divertidos. Digo eu, que acho que com o dinheiro não se brinca,
muito menos quando esse dinheiro não nasce nas gavetas das sedes dos partidos
nem nos bolsos de quem neles milita.
Incompreensíveis, risíveis e anacrónicos, os ditosos
cartazes afinal cumprem múltiplas funções, nem todas desejáveis ou
convergentes. Pretendem transmitir uma imagem, mas acabam por revelar uma
caricatura. O cúmulo desta paródia é um grande partido dar-se ao luxo de
produzir, pagar e colar cartazes para ajudar o povo a decorar um nome. Isto sim
é inédito.
Em Lisboa, a pouco mais de dois meses das eleições,
apareceram cartazes inteiramente vazios, sem mensagem absolutamente nenhuma,
apenas com uma fotografia a preto e branco mal recortada e mal impressa
encostada à direita, ao lado de um nome que, no entender dos experts, se
destina a dar a conhecer alguém que é desconhecido de todos. Ou quase. Ah, no
canto superior esquerdo também aparece uma seta cor de laranja a apontar para
cima, a emergir de um quadrado clássico de boletim de voto, e de certeza que
esperam que naquele quadradinho desenhado no lado que menos se vê, resida toda
a prodigiosa eloquência de um cartaz mudo.
Em meados de Julho aplicam-se a ajudar-nos a soletrar um
nome e levam-nos a associá-lo a uma cara que, insisto, está mal fotografada,
sem nitidez e sem punch suficientes; em meados de Agosto não se passa nada porque
os cidadãos eleitores ainda estão a banhos e não ligam a cartazes a não ser de
gelados e, quando muito, de festas de Verão com bons DJs; em meados de Setembro
talvez apareça uma mensagem colada no branco-vazio dos cartazes, e passadas
duas semanas chega o grande dia. O tempo daqui até 1 de Outubro é um fósforo,
mas estes senhores dão-se ao luxo de agir como se tivessem todo o tempo do
mundo.
Para quem já conhece a candidata à CM de Lisboa escolhida
pelo PSD, os cartazes são ainda mais vazios, porque já decoraram o nome e até
já sabem quem é. Ou seja, não precisam deste gigantesco jogo de memória que
consiste em publicar cartazes-mnemónicos. Em todo o caso devo dizer que mesmo
entre supostos connaisseurs já ouvi os maiores dislates. Querem ouvir? Teresa
Leal Costa, Teresa Leal Faria, Teresa Neto Coelho, Teresa Costa Coelho e até
‘aquela Teresa de que ninguém sabe o nome completo’. Bonito serviço. Realmente
assim percebe-se a campanha do nome.
Acontece que não estamos em tempo de perder tempo e, muito menos,
de desperdiçar dinheiro. A candidata tem certamente obra feita, ou não teria
sido escolhida pelo líder de um grande partido, mas se assim é porque não dá-la
a conhecer através da sua acção em vez de a reduzir à expressão mínima do nome?
Nome que, ainda por cima, nunca saberemos se vai ser devidamente conjugado e
pronunciado daqui até às autárquicas, apesar deste mega esforço para o sabermos
de cor.
Em plena campanha, em pleno Verão cheio de acontecimentos,
roubos, catástrofes e dramas, pergunto quem se pode dar ao luxo de deitar votos
para a rua em vez de os andar a colher em todas as ruas, freguesias e bairros
da cidade? Não sei porque é que os políticos não aprendem uns com os outros e
não evitam erros que outros já cometeram. Falo de todos os políticos de todos
os quadrantes, note-se. Também me interrogo sobre a estratégia dos estrategas.
Nomeadamente daqueles que em vez de capitalizarem à direita (como Costa fez e
continua a fazer à esquerda, mantendo os atrelados da geringonça todos a rodar,
mesmo os que se arrastam com rodas quadradas), dizia eu aqueles que em vez de
capitalizarem à direita e ao centro, dividem as hostes oferecendo candidatos
cuja cara, nome e obra a esmagadora maioria dos eleitores desconhecem.
Não sabemos o que vai acontecer em Outubro e há sempre a
possibilidade de crer em milagres (santa audácia! como diria Camilo Castelo
Branco), mas é difícil acreditar numa aposta tão dissonante que mais parece um
favor da direita à esquerda. Um presente que a oposição amorosamente oferece ao
governo, quero dizer.
Há, ainda, a possibilidade de Pedro Passos Coelho ter
previsto uma fraca votação na sua estimabilíssima Teresa (não quero correr o
risco de me enganar no nome e, por isso, fica assim, simplesmente Teresa), na
sua biografia de grande alcance e certamente maior impacto (a avaliar por
artigos publicados com títulos incisivos do tipo: “quem é a candidata do PSD”),
mas se assim foi poderemos inferir que foi de propósito que a fez avançar? Para
a queimar? Para ninguém o acusar de não ter um candidato próprio? Para dar a
conhecer uma cara e um nome que deixa os militantes livres para votarem noutros
candidatos? Estranha estratégia, esta.
Fernando Medina deve estar radiante com tudo isto e nem
sequer dá a cara. Desconhecido por desconhecido, prefere continuar na sua semi
sombra confortável de príncipe herdeiro que nunca foi a votos, e apostar em
cartazes desfocados de fundo branco com as caras e figuras de outros
sobrepostas (sobre-expostas, também!), tentando confundir os incautos falando sempre
em nome de Lisboa e nunca em nome próprio.
De todos os candidatos, sem excepção, espera-se ver a cara e
conhecer o nome e a obra, mas acima de tudo saber o que querem fazer por nós,
cidadãos e cidades.
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