Almada quer mudar fachada para Lisboa
com novo Cais do Ginjal
Plano de Pormenor que entra agora em
discussão pública prevê uma espécie de Cais de Gaia no Tejo, com antigos
armazéns reabilitados, passeio público de um quilómetro à beira-rio e
construção de 330 fogos e um silo automóvel.
FRANCISCO ALVES RITO 19 de Julho de 2017, 21:41
O Plano de Pormenor do Cais do Ginjal (PMCG), que vai entrar
agora em consulta pública, propõe a transformação da emblemática zona
ribeirinha de Almada, numa nova fachada, voltada a Lisboa, para disputar a
centralidade na área metropolitana com a Praça do Comércio. O presidente da
Câmara Municipal de Almada apresentou o plano, esta quarta-feira, como um
elemento de aproximação a Lisboa.
“Temos consciência que se trata de um plano de pormenor de
uma área de grande centralidade na Área Metropolitana de Lisboa (AML), frontal
à Praça do Comércio, muito voltada para quem nos procura, do estrangeiro e de
Lisboa”, disse Joaquim Judas aos jornalistas antes do início da reunião pública
em que a autarquia ia aprovar a entrada do PMCG em discussão pública.
O plano, que abrange uma área de oito hectares, prevê a
regeneração de um quilómetro de frente de rio, com a reabilitação urbana dos
antigos armazéns que se encontram na primeira linha, o aumento do espaço de
passeio público, de circulação pedonal, e a recuperação e ampliação do cais.
Entre esta zona mais ribeirinha e as escarpas que se elevam
a dezenas de metros, o projecto propõe uma nova área de construção urbana, com
rua interior, vários edifícios de habitação, num total de 330 fogos, e um silo
automóvel com capacidade para cerca de 500 lugares de estacionamento, a
construir na zona onde actualmente se encontra a Casa da Juventude, que será
demolida.
De acordo com Samuel Torres de Carvalho, arquitecto
responsável pelo plano, o silo para automóveis, que vai ocupar 11 mil metros
quadrados, terá entrada pela zona mais baixa, próximo da quota do rio, e também
por cima, e vai servir a zona envolvente da cidade e os visitantes porque os
prédios de nova habitação vão ter garagens e serão “autossuficientes” em
estacionamento.
O plano integra ainda a transformação da antiga fábrica de
óleo de fígado de bacalhau, na zona alta, em cima das escarpas, num novo hotel.
Para permitir esta intervenção urbana, numa zona que o autor
do projecto classifica como “difícil devido à morfologia” dos terrenos, o PMCG
implica também a estabilização das arribas, através de “técnicas de engenharia
ambiental leve, que permitem a consolidação da escarpa de forma subtil”, com
recurso também a vegetação.
Ainda de acordo com Samuel Carvalho, a dimensão ambiental do
plano passa não apenas pelo “enorme desafio” da estabilização geológica das
encostas, mas também pela elevação da quota na frente de rio, antecipando já
qualquer subida futura do nível do mar.
A discussão pública vai prolongar-se durante quatro meses,
até Janeiro de 2018, num prazo que o município quis “alargado”, disse o
autarca, para que o debate não fosse afectado pelo período de campanha
eleitoral para as autárquicas de dia 01 de Outubro.
Apesar desta preocupação com o momento eleitoral, a
autarquia decidiu “não deixar a apresentação do PMCG para a nova administração
porque há que aproveitar o bom momento que o país vive internacionalmente”,
acrescentou Joaquim Judas.
Sobre valores e calendário de concretização do plano, a
Câmara de Almada remete para o promotor e para o mercado.
Tanto o presidente da autarquia como a vereadora do
Urbanismo, Amélia Pardal, referiram que o início da construção depende da
procura imobiliária, mas que a conclusão da intervenção agora projectada não
deverá levar menos de 10 anos. “É a procura que vai determinar a velocidade da
concretização do projecto”, afirmou Joaquim Judas.
Promotor é Grupo AFA
O promotor imobiliário do novo Cais do Ginjal é o grupo
madeirense AFA, líder no sector da construção civil e obras públicas na
Madeira, mas já com dimensão internacional, com negócios sobretudo em África,
nomeadamente em Angola e no Senegal.
A área imobiliária do Grupo AFA tem seguido uma estratégia,
designadamente na Calheta, Madeira, de comercializar os imóveis que constrói,
mas, no caso de Almada, a Câmara Municipal diz não poder saber se vai ser o
promotor a concretizar o projecto do Ginjal ou vai vender a outros promotores.
Segundo Joaquim Judas, o promotor adquiriu os terrenos, ao
antigo proprietário, “sem consultar” o município, mas a autarquia está atenta à
especulação imobiliária. “Temos procurado evitar o ‘engordar do porquinho’,
obviar a essa estratégia, através do planeamento”, disse o autarca.
Questionado pelo PÚBLICO sobre se este projecto pode
concorrer com o mega-empreendimento imobiliário Cidade da Água, previsto para a
Margueira, Joaquim Judas garantiu não estar preocupado com o excesso de oferta
em Almada. “São projectos diferentes e a Cidade da Água nem é das maiores
intervenções imobiliárias da Europa”, declarou o autarca, acrescentando
acreditar que “esse não seja um problema”.
Sobre a Cidade da Água, o presidente da câmara disse ainda
esperar que até ao final deste mês de Julho seja aprovado, em Conselho de
Ministros, o decreto-lei que irá permitir a regularização cadastral dos
terrenos da antiga Lisnave. O autarca referia-se às recentes declarações do
primeiro-ministro. De visita ao Barreiro, António Costa prometeu para breve a
aprovação da desafetação do domínio público dos terrenos em causa no projecto
imobiliário do Arco Ribeirinho Sul.
Novo Cais do Ginjal em números
80.400 m2 área de intervenção
970 m de extensão ao longo do rio
693 novos habitantes
330 fogos
21.500 m2 espaço público (hoje são 6.800)
98.700 m2 de construção
44.152 m2 de nova habitação
15.029 m2 de edifícios para comércio e serviços
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