segunda-feira, 31 de julho de 2017

Marcelo perdido no seu vazio Marcelo, de tanto falar, parece já não ter nada para dizer. Está preso no vazio que criou.

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OPINIÃO
Marcelo perdido no seu vazio
Marcelo, de tanto falar, parece já não ter nada para dizer. Está preso no vazio que criou.
O que a entrevista ao Diário de Notícias mostra é um cenário pior. Marcelo Rebelo de Sousa, de tanto falar, já parece não ter nada para dizer. Ficou preso dentro do vazio que criou.

VÍTOR COSTA
31 de Julho de 2017, 6:30

Sempre que eu perguntava a Henrique Medina Carreira se o governo “A”, “B” ou “C” o tinha desiludido, invariavelmente, a resposta era a mesma: só se desilude quem se iludiu.

A gestão das expectativas é isso. E eu, iludido, me confesso.

A actual situação política, com o Governo a sofrer o seu mais forte abanão desde que tomou posse, criou-me a ilusão de que a entrevista de Marcelo Rebelo de Sousa ao Diário de Notícias, seria “O momento”, para ouvir o Presidente. Pura ilusão. Marcelo foi confrontado sobre temas importantes, mas preferiu nada dizer.

O Presidente falou da necessidade de reduzir o défice orçamental. Disse o óbvio. Invocou os compromissos internacionais. Mas preferiu não dar uma palavra sobre o Estado comatoso em que se encontram muitos serviços do Estado, por via das restrições e cativações orçamentais, em particular o Serviço Nacional de Saúde. E se não o fez, não foi por falta de informação. Foi um dos seus antecessores, Jorge Sampaio, que lhe deixou o alerta no último Conselho de Estado.

O comandante supremo das forças armadas falou do roubo em Tancos. Mas limitou-se a repetir o que tinha dito. É preciso esperar pela investigação em curso. Mas nada disse se aquele foi um caso isolado ou se o estado em que estão as forças armadas permite que outros roubos, com a facilidade do que foi feito em Tancos, podem ocorrer em qualquer outro estabelecimento das forças armadas. Do comandante esperar-se-iam garantias de que nunca mais o país passará por aquela vergonha.

Marcelo falou da tragédia de Pedrógão Grande. Mais uma vez repetiu-se. E para um Presidente que é sempre tão impulsivo na acção, não deixa de fazer “comichão” quando diz que “já não falta tanto tempo assim” para ter conclusões do Ministério Público e da comissão independente a funcionar no Parlamento. São só um mês e meio, dois meses.

O Presidente também fala da crise dos media. Nunca ninguém tinha ouvido tal coisa: os media são indispensáveis para a democracia. Mas soluções para os problemas? “Essa questão está nas preocupações do Governo”, assegura Marcelo. E o negócio da compra da TVI pela Altice? Aqui, o Presidente só pode estar a ironizar quando diz que não é “nada de melindroso”, afinal, as entidades reguladoras estão a acompanhar.

Um dos pontos a que não se podia fugir era o pacto para a Justiça. Pouco ou nada se fez, mas Marcelo está tranquilo. A seguir ao Verão haverá qualquer coisa. E o aumento das comissões cobradas pela CGD? É a vida, não havia alternativa. E as relações com Angola? Vão melhorar no futuro.


Já se sabe que Marcelo Rebelo de Sousa fala muito, comenta tudo, e essa actuação poderia levar a que quando tivesse algo de importante para dizer, ninguém ouvisse. A entrevista mostra um cenário pior. Marcelo, de tanto falar, parece já não ter nada para dizer. Está preso no vazio que criou.

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