Imagem de OVOODOCORVO |
Esta inquietante Câmara de Lisboa…
Se Medina não respondesse a um
munícipe seria estranho. Não responder à presidente da Assembleia Municipal é
inquietante.
JOSE CYMBRON
25 de Julho de 2017, 6:28
Lisboa foi e é para mim, cada vez mais, uma cidade de
Desassossego. Sossego, por vários momentos (e monumentos) arrebatadores da sua
História, pela sua Geografia e porque aqui nasceram quase todas as pessoas que
me são particularmente queridas. Desassossego, porque poderia ser muito mais do
que é; bastaria que os munícipes se empenhassem mais e que a câmara funcionasse
e, internamente, comunicasse.
O meu primeiro contacto crítico com o trabalho realizado
pela CML deu-se em finais dos anos 1980, quando li o livro Lisboa (obra apoiada
pela CML), com texto de Werner Radasewsky e prefácio do vereador Victor
Gonçalves. Diz o autor (homem que “tem a particularidade de saber captar o modo
de viver nos países estrangeiros integrando-o na sua História e cronologia”):
“Depois chegaram os Mouros que se instalaram na península durante séculos, até
1247. D. Afonso Henriques, depois de violentas lutas, expulsou-os do território
português. Em 1260, deste Castelo, D. Afonso Henriques proclama Lisboa como
capital de Portugal e são definidas as fronteiras do reino, que se mantêm até
hoje.” (pp. 46-47) Cinco erros histórico-cronológicos em quatro linhas, é obra!
E este livro foi traduzido para alemão, francês e inglês!
Em finais da primeira década deste século, a Fundação
Aristides de Sousa Mendes (da qual eu era membro) quis participar activamente
na organização duma homenagem ao seu patrono, com a colocação de um monumento
no Jardim do Arco do Cego. Poucos dias antes do evento — que contaria com a
presença confirmada do Presidente da República, do cardeal Patriarca, de
embaixadores e outras altas individualidades —, a Fundação teve conhecimento de
que o espaço supostamente reservado para o monumento a Aristides estava
reservado para o monumento que lá está hoje: uma representação da mágica mão de
Jorge Luís Borges! Alguns dias depois viríamos a saber que a presidência da
câmara ignorava praticamente tudo! As cartas, entregues em mão na recepção dos
Paços do Concelho, não subiram até ao gabinete da presidência!
Passemos, agora, para a câmara do Dr. Medina. Em Setembro de
2016, exausto e decepcionado por não conseguir encontrar em Lisboa um jardim
limpo onde pudesse levar os meus netos, escrevi uma carta ao presidente da
câmara na qual mostrava o meu espanto e indignação: “[…] Quem viver em Lisboa
mais de uma semana e olhar para ela com objectividade, resistindo ao
deslumbramento e ilusão que a luminosidade provoca, não poderá deixar de chegar
à conclusão de que a nossa capital é uma cidade cheia de MERDA […]. Os pais e
avós das nossas crianças têm muita dificuldade em encontrar um jardim limpo e
agradável onde possam deixar os filhos e netos brincarem sem a constante
preocupação de se depararem com dejectos de cão, vidros e beatas. […] E o que
dizer em relação aos invisuais, principalmente quando pensamos nas suas
deslocações diárias nos passeios de Lisboa?”
Entretanto fui contactado por um assessor do Dr. Duarte
Cordeiro (vice-presidente) que me propôs uma reunião a agendar num novo
telefonema. As semanas iam passando e o contacto para o agendamento da reunião
não foi feito. Consegui, entretanto, contactar directamente o vice-presidente.
Combinámos ter duas reuniões de trabalho, as quais aproveitei para expor
detalhadamente a minha opinião sobre a falta de civismo de um número
considerável de munícipes e para desafiá-lo a analisar duas propostas: uma visa
o desenvolvimento do Turismo Literário (Pessoa e Sá Carneiro) em zonas da
cidade com pouca carga turística; a outra propõe a criação de um Evento
Cultural Âncora anual entre 7 e 13 de Junho, período que engloba os
aniversários do Tratado de Tordesilhas, de Camões, de Santo António e de
Pessoa.
As promessas que me foram feitas agradaram-me e resolvi
esperar. Em finais de Março, como o prometido estava esquecido, apresentei uma
reclamação na Assembleia Municipal. Com enorme rapidez a presidente da
Assembleia Municipal (Arq.ª Helena Roseta) escreveu ao presidente do executivo,
solicitando que fosse “providenciada a informação a ser prestada ao exponente”.
Estamos em Julho e a informação, apesar de nova carta de
Helena Roseta a Fernando Medina, não foi providenciada!... Se Medina não
respondesse a um munícipe seria estranho, não responder à presidente da
Assembleia Municipal é inquietante.
Tendo em consideração que as eleições autárquicas estão à
porta, quero deixar aqui bem claro que gostaria que este texto não fosse
interpretado como um manifesto partidário (se as eleições fossem hoje, eu
votaria nulo). Quero, somente, que:
haja respeito e comunicação entre os órgãos do poder
municipal;
seja dada mais atenção ao Turismo Cultural;
seja possível encontrar, sem dificuldade, espaços verdes
públicos onde avós e pais possam brincar e sonhar com as suas crianças;
os invisuais consigam caminhar nos passeios desta cidade de
luz com segurança e dignidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário