Passos Coelho pede
"clarificação técnica" de partes do acórdão do TC
LEONETE BOTELHO e
LUÍS VILLALOBOS 03/06/2014 – PÚBLICO
Governo divulgou esta terça-feira a fundamentação enviada ao Constitucional
a defender o Orçamento do Estado.
O
primeiro-ministro quer que o Tribunal Constitucional dê uma "clarificação
técnica" sobre algumas partes do acórdão que, na semana passada, declarou
inconstitucional três normas do Orçamento do Estado (OE) para 2014, confirmou
ao PÚBLICO fonte do gabinete de Passos Coelho.
Para o
concretizar, e porque o Orçamento do Estado é uma lei da Assembleia da
República, o primeiro-ministro escreveu à presidente desta instituição,
Assunção Esteves, para que esta possa pedir junto do TC as respostas desejadas
pelo Governo.
No entanto, o
gabinete de Passos Coelho ainda não revelou quais as partes do acórdão que
suscitam este pedido.
Ao mesmo tempo, o
Governo divulgou no seu site oficial a argumentação, enviada ao TC, para
defender a constitucionalidade do Orçamento do Estado, em especial as normas
mais sensíveis.
O Diário
Económico noticiou esta terça-feira de manhã, na sua edição online, que o
primeiro-ministro iria pedir uma "aclaração" do acórdão do
Constitucional divulgado na sexta-feira, com vista a "esclarecer matérias
que, no seu entender, são de 'difícil interpretação' e tornam impossível saber
qual o impacto orçamental da decisão dos juízes do Constitucional em 2014 e as
alternativas possíveis". Ainda segundo o Económico, deverá ser promovida
uma conferência de líderes para decidir do pedido.
A decisão foi
conhecida pouco tempo depois de o executivo ter divulgado no portal do Governo
a documentação enviava ao Tribunal Constitucional sobre o OE de 2014. Em
primeiro lugar surgem os fundamentos sobre a constitucionalidade da lei que
aprovou o OE, e onde constam as três medidas de redução da despesa chumbadas
sexta-feira pelo Tribunal Constitucional (corte nos salários da função pública
acima dos 675 euros mas cujo chumbo não terá efeito retroactivo, taxas sobre o
subsídio de desemprego e de doença e redução de algumas pensões de
sobrevivência).
Em 30 páginas,
onde faz a defesa das medidas, o executivo destaca que o OE “não é o documento
que se ambicionava, mas é o documento necessário para lançar o futuro sem
descurar o presente”, avançando depois para a sua análise das normas cuja
fiscalização sucessiva foi requerida pelos partidos da oposição no início deste
ano.
O Governo enviou
ainda ao TC uma análise comparativa das medidas aplicadas junto da
Administração Pública na Grécia, Irlanda e Espanha, e uma outra onde se faz uma
comparação entre as remunerações dos trabalhadores do sector privado e do
sector público em Portugal feita pela Mercer no ano passado. Da mesma forma,
foram enviados, como complementos, o boletim económico de Outono de 2013
elaborado pelo Banco de Portugal, uma auditoria feita à Carris (datada de 2009)
e outra ao Metropolitano de Lisboa (2010), bem como os relatórios do OE para
2013 e para este ano.
PCP e BE contra pedido de
aclaração ao TC, PS em silêncio
NUNO SÁ LOURENÇO
03/06/2014 - PÚBLICO
Comunistas e bloquistas consideram iniciativa de Passos Coelho uma
tentativa de instrumentalização do Parlamento, num quadro de confronto entre o
Governo e o Tribunal Constitucional.
O PCP e o BE
manifestaram-se nesta terça-feira contra o pedido de aclaração que o
primeiro-ministro solicitou ao Parlamento que fizesse junto do Tribunal
Constitucional.
O líder
parlamentar do PCP, João Oliveira, classificou o pedido de Passos Coelho como
"uma tentativa de instrumentalização" do Parlamento. Pedro Filipe
Soares, do BE, seguiu a mesma linha. “Não aceitamos que o Governo não faça
outra coisa que não o cumprimento da lei", disse o bloquista.
Na sequência do
pedido do primeiro-ministro, a presidente da Assembleia da República, Assunção
Esteves, decidiu agendar uma conferência de líderes extraordinária para esta
quarta-feira. Uma reunião com que os dois partidos da esquerda não concordam.
João Oliveira
argumenta que essas movimentações transformavam o Parlamento numa "arma de
arremesso na estratégia de confronto, ameaça e afronta que o Governo pretende
prosseguir em relação ao Tribunal Constitucional (TC)".
Pedro Filipe
Soares defende que "a Assembleia da República não pode ser
instrumentalizada pelo Governo, por uma agenda pessoal do próprio Governo, e
que a realização desta conferência de líderes não pode determinar este
posicionamento da Assembleia".
Já o PS optou
esta terça-feira por ficar em silêncio sobre o pedido de aclaração que o
primeiro-ministro quer que o Parlamento faça ao Tribunal Constitucional. Depois
de recordar a conferência de líderes marcada pela Presidente da AR, Assunção
Esteves, o deputado António Braga, afirmou que o “PS ouvirá o que o Presidente
da Assembleia da República” e que só na conferência de líderes assumirá a sua
posição.
No entanto, tendo
os partidos que apoiam o governo maioria absoluta no Parlamento, o mais
provável é que a conferência de líderes aceite o pedido e o envie ao Tribunal
Constitucional.
Por seu lado, o
TC poderá ou não aceitar o pedido que venha da Assembleia da República. Mas não
se pronuncia sobre qualquer pedido de aclaração antes de o receber, afirmou
fonte oficial ao PÚBLICO.
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