Emparedar Carcavelos
Por Fernando
Dacosta
publicado em 5
Jun 2014 in
(jornal) i online
Um dos locais
mais bonitos do mundo, a Costa do Sol portuguesa, vai sofrer atentados
aterradores, que, à semelhança dos ocorridos na entrada de Cascais e no Norte
da
via-férrea local,
o golpearão barbaramente. O mais grave dar-se-á em Carcavelos, nos vastos
terrenos da Quinta dos Ingleses, que os camartelos (imobiliários e autárquicos)
se preparam para desfigurar.
Ante a indignação
de centenas de munícipes, acaba, com efeito, de ser aprovado um plano
urbanístico autorizando a construção de gigantescos complexos habitacionais
(930 fogos) e comerciais (supermercados, hotéis e afins) naquela preciosa zona
verde entre a estação ferroviária e a Marginal. Vários dos edifícios terão seis
e sete andares, o que representará uma "cortina de cimento" sobre o
mar, em inconcebível atentado paisagístico, ecológico, social, civilizacional,
à semelhança dos que nas últimas décadas têm aviltado o território do país. O
projecto viu-se sancionado pelo PSD e CDS com o (inesperado) voto da presidente
da junta de freguesia, entidade que o havia, anteriormente, rejeitado. A
freguesia de Carcavelos foi uma das que a reforma administrativa extinguiu no
ano passado, ligando-a à da Parede. O nome Carcavelos provém do (excelente)
vinho generoso cultivado na zona, a zona demarcada mais pequena do país e das
mais antigas do mundo. A praia com o mesmo nome, outro ex-líbris, faz parte dos
roteiros internacionais do surf. A nossa democracia continua, como se vê, a
subordinar os interesses públicos e comunitários aos pessoais, até porque os
negócios em carteira rondam aqui os 270 milhões de euros, o que explica as
cumplicidades com semelhante hecatombe.
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