quarta-feira, 8 de maio de 2013

Portugal e os Mercados Financeiros.


A crise política não comove os mercados.


Muito mais que a crise no Governo ou a pressão do PS, o que move os investidores é a austeridade.

08/05/2013 Editorial / Público


Pela segunda vez em poucos meses, Portugal foi capaz de colocar nos mercados financeiros internacionais Obrigações do Tesouro a médio e longo prazo. Todos os indicadores objectivos indicam que a operação correu bem. A procura triplicou a disponibilidade da oferta (três mil milhões de euros), a maior parte dos investidores são estrangeiros e a taxa de juro ficou abaixo dos 5,7%, o que, sendo altíssima para um país endividado, é melhor do que a média registada em 2011, tempos em que o dinheiro circulava com outra abundância nas praças financeiras. Não admira, por isso, que o ministro das Finanças, Vitor Gaspar, e o Banco Central Europeu tenham concordado em declarar a operação como um "enorme sucesso". Ainda assim, vale a pena temperar o optimismo e procurar explicações sobre o que levou os investidores a correr pela dívida portuguesa (além da taxa que vão cobrar). Em primeiro lugar, há a referir que uma operação sindicada por bancos não tem o mesmo valor que uma acção directa no mercado. Esse mesmo facto foi reconhecido num relatório da troika revelado no último Ecofin, realizado em Dublin. Em segundo lugar, o risco dos investidores em apostarem a um prazo de uma década revela, como sublinhou a agência Moody"s, "a crescente confiança na determinação da Europa em manter vivo o projecto europeu e a zona euro intacta". Mas há sobre este comportamento dos investidores um juízo sobre a situação interna que vale a pena considerar. A começar, as ameaças do PS e os seus pedidos de antecipação de eleições nada valem nesta equação. A bicefalia do Governo entre a ala Gaspar e a ala Portas são ignoradas. O que continua a ter peso no comportamento dos investidores é a famigerada austeridade. Só isso explica o momento escolhido para a operação: as águas políticas estão turvas, mas nada disso importa se o Governo mantiver firme a promessa de cortar 4800 mil milhões de euros na despesa do Estado.




Emissão foi "positiva", mas faltam passos
08/05/2013 in Público

Rendibilidade trouxe investidores, diz Moody"s

Para a Moody"s, uma das três grandes agências de rating que mantêm a classificação de Portugal como "lixo" (afastando muitos investidores), a emissão de ontem foi uma "boa notícia". No entanto, de acordo com Kristin Lindow, analista responsável pelo acompanhamento de Portugal, não foi "uma surpresa", já que "a procura de dívida portuguesa tem ficado imune aos desenvolvimentos na Europa, em especial do resgate caótico de Chipre, e mesmo da situação em Portugal, que está a rever as suas metas para o défice orçamental pela segunda vez desde Setembro". Segundo esta analista, citada pela Lusa, o sucesso da emissão "não significa que Portugal já tem acesso pleno ao mercado". "Esta operação reflecte a procura dos investidores por elevadas rendibilidades, assim como a sua crescente confiança na determinação da Europa em manter vivo o projeto europeu e a zona euro intacta", sublinhou.
O tom geral, de resto, foi de nota positiva, mas com a noção de que falta ainda percorrer mais caminho Ricardo Reis, professor de Economia na Universidade de Colúmbia (EUA), começou por destacar o "grande sucesso" da operação. De seguida, afirmou que não se deve "entrar em euforias". E explicou: "É apenas uma emissão e temos de continuar a merecer a confiança dos credores internacionais, tendo em conta que somos um país altamente endividado e que o Estado continua com um défice todos os anos".
Filipe Silva, analista do Banco Carregosa, sublinhou à Lusa o facto de as taxas de juro nas maturidades mais longas terem vindo a descer nos últimos meses. Neste momento, "Portugal acaba por tirar partido disso, com o mercado a demonstrar que não tem receio em investir na dívida pública portuguesa". Por seu lado, Filipe Garcia, analista do IMF, destacou a forte procura, afirmando que Portugal beneficiou de um contexto favorável a nível externo, com destaque para "a janela de oportunidade que se abriu desde a emissão da Irlanda". Já Albino Oliveira, da Fincor, disse à Lusa que "as indicações de procura representam um sinal de confiança dos investidores relativamente a Portugal, mas também à forma como as autoridades europeias estão agora a lidar com a crise na zona euro", nomeadamente por parte do BCE. Por parte da banca portuguesa, o presidente do BES teve apenas palavras positivas. Para Ricardo Salgado, a emissão foi "espectacular". Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, foi menos efusivo, afirmando que "foi um passo importante de um conjunto de etapas que se tem que prosseguir" para voltar em pleno aos mercados, alertando que não é tempo de se fazerem "auto-elogios".


O terceiro regresso de Portugal aos mercados
Por Ana Suspiro
publicado em 8 Maio 2013 in (jornal) i online

A secretária de Estado do Tesouro fala em passo decisivo para evitar segundo resgate e para o fim da ajuda em 2014

O leilão de dívida pública a 10 anos realizado ontem foi, no discurso do governo, o terceiro regresso de Portugal aos mercados desde que o país pediu o resgate em Abril de 2011.
Desta vez a equipa que lidera a gestão da dívida pública – ministro das Finanças, secretária de Estado do Tesouro e presidente da agência de crédito público (IGCP) – está mais confiante no sucesso e avança com vários argumentos: a procura ultrapassou em mais de três vezes a oferta, um juro de 5,65% inferior à anterior emissão a 10 anos e o regresso de investidores internacionais que fugiam da dívida pública desde 2011 – bancos centrais, seguradoras, fundos de pensões.
A emissão, nas palavras de João Moreira Rato, foi muito “similar” às que se realizavam antes da crise do euro. “Há uma clara evolução face a Janeiro”, realçou o presidente do IGCP. Este segundo regresso aos mercados foi algo ensombrado pelo perfil dos investidores. Se é certo que mais de 90% eram estrangeiros, rompendo com a dependência da banca nacional que marcou os leilões de 2012 (ver texto do lado), os compradores da dívida portuguesa a cinco anos foram sobretudo fundos de alto risco (hedge funds) e gestores de activos, em vez dos tradicionais clientes da dívida portuguesa, alertou um relatório da troika.
No primeiro regresso aos mercados, em Outubro do ano passado, os nacionais tiveram ainda grande peso na troca de obrigações com prazo mais longo.
A procura de ontem voltou a ser dominada por estrangeiros – ficaram com 86% da oferta – mas os bancos centrais, seguradoras e fundos de pensões, investidores de longo prazo e não especulativos, regressaram e ficaram com 18% da oferta. Apesar do recuo, os investidores mais especulativos ainda compraram 58% dos títulos.
Portugal vai apresentar uma estratégia de ida regular aos mercados e o presidente do IGCP admite novos leilões este ano. Os três mil milhões de euros colocados permitem já responder a necessidades de financiamento de 2014, ano em que acaba a ajuda da troika. Para Maria Luís Albuquerque, foi dado “um passo decisivo para assegurar uma transição tranquila após o fim do programa” (de ajuda a Portugal).
A secretária de Estado defende que estão criadas as condições para realizar emissões regulares em todos os prazos – a definição de estar em pleno nos mercados – o que habilitará Portugal a recorrer ao programa do Banco Central Europeu (BCE) após a saída da troika. Maria Luís Albuquerque vai mais longe e afasta um segundo resgate. “Com o cumprimento do programa de ajustamento, com o sucesso da consolidação orçamental e com esta emissão estará confirmado que o programa terminará em Junho de 2014”.
Mas se o regresso de ontem foi “espectacular”, para citar o presidente do BES, Ricardo Salgado, ainda não convence todos. Entre os mais cépticos estão as agências de rating.

Reservas Para a Moody’s, a emissão a 10 anos é uma boa notícia, mas não é surpresa. Por um lado, reflecte a procura dos investidores por elevadas rendibilidades, assim como a sua crescente confiança na determinação da Europa em manter a zona euro intacta, por outro, “não significa que Portugal já tem pleno acesso ao mercado”. Já a Fitch avisa que Portugal tem ainda um grande esforço pela frente para alcançar a sustentabilidade das finanças públicas e dá mais importância à eficácia das medidas de corte da despesa anunciadas. A reacção da Standard & Poors foi mais alinhada com a do executivo ao falar em “primeiro passo importante para o governo de modo a recuperar pleno acesso ao financiamento comercial antes do final planeado do programa de apoio da troika em Junho de 2014.

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