quarta-feira, 8 de maio de 2013

Festa académica de Lisboa. O pior vai ser a ressaca do parque florestal de Monsanto.


Festa académica de Lisboa. O pior vai ser a ressaca do parque florestal de Monsanto

Por Kátia Catulo
publicado em 8 Maio 2013 in (jornal) i online

Ambientalistas e comissões de moradores temem danos na fauna e na flora do parque florestal. Autarquia diz que tomou medidas preventivas

Depois de oito meses a queimar pestanas a recompensa está a uma semana de distância: música, cerveja e muita farra até às seis da manhã. A festa da semana académica de Lisboa vai ter o ponto alto no dia 15, mas nem todos estão felizes com o evento que durante quatro dias irá chamar 20 mil estudantes. A enchente de universitários que se vai concentrar na maior bacia hidrográfica do Parque Florestal do Monsanto (PFM) está a deixar em pânico as associações cívicas e ambientais e ainda as comissões de moradores.

A festa da Associação Académica de Lisboa transformou-se nas últimas semanas num problema sem solução à vista: de um lado estão moradores, ambientalistas ou associações cívicas que querem preservar o PFM dos excessos estudantis; do outro estão os universitários, que se queixam de ser “sucessivamente expulsos” de todos os lugares até se fixarem este ano no Alto da Ajuda.

Será que quatro dias consecutivos de festa serão suficientes para destruir todo o trabalho dos últimos dois anos? O trabalho, neste caso, passou por plantar cerca de 2 mil árvores, entre sobreiros, oliveiras-bravas, carvalhos, azinheiras e sabugueiros, cobrir cerca de 8 hectares de solo com vegetação e ainda realinhar a linha de água. Hoje a clareira do Monsanto junto ao Pólo Universitário da Ajuda faz parte da rota da biodiversidade da capital, é o habitat de coelhos, zona de nidificação de perdizes-vermelhas e ainda lugar de passagem para as abelhas polinizadoras.

“Tudo isso foi conseguido com o voluntarismo de moradores, de escolas, de associações cívicas e ambientais, os contributos de empresas e, claro, com a coordenação dos técnicos da Câmara de Lisboa”, conta João Pinto Soares, da Plataforma por Monsanto, organização que reúne 16 associações ou comissões de moradores. E todo esse empenho está agora em perigo, segundo os ambientalistas: “A realização desta iniciativa irá produzir resíduos em grande escala, contribuir para a contaminação e a compressão dos solos e diminuir a capacidade dos terrenos para absorver águas, o que poderá ter consequências gravíssimas nos bairros de habitação que se situam em redor”, avisa a Plataforma por Monsanto.

A Câmara de Lisboa contrapõe e, em resposta ao i, fonte do gabinete do vereador José Sá Fernandes defende que o evento vai acontecer “numa área limítrofe ao Parque Florestal de Monsanto” e que a escolha desse local “minimiza o impacto e a circulação de pessoas e veículos no interior do PFM”.

Há quase um mês que as associações tentam travar a festa académica em Monsanto e o que conseguiram até agora foi uma espécie de compromisso entre os estudantes, que prometem fazer o mínimo estrago possível e compensar os danos que possam vir a acontecer no parque florestal. “Vamos cercar o recinto da festa com uma vedação de dois metros de altura impedindo as pessoas de saltarem para as zonas sensíveis. Depois da semana académica iremos limpar a zona, revolver a terra e repor o coberto vegetal”, diz o dirigente da Associação Académica de Lisboa, Marcelo Fonseca, explicando que vão gastar cerca de 5 mil euros para levar a cabo esta operação.

A operação de limpeza terá sido, segundo os ambientalistas, um dos resultados do pingue-pongue de emails entre associações e autarquia. Só que nem as suas críticas “nem o parecer dos técnicos do Parque Florestal do Monsanto contra este evento” fizeram a câmara recuar, conta Miguel Teles, da Associação Plantar Uma Árvore (P1A). Por outro lado, fonte da autarquia explicou ao i que a realização da festa no Alto da Ajuda teve o parecer favorável dos serviços de Ambiente da CML e só vai acontecer mediante várias condições.

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