Por Patrícia Carvalho
29/05/2013
A cobertura de um desenho de Hazul pelos serviços da câmara causou polémica e relançou o debate sobre os limites da arte urbana
|
Autarca admite que, se fosse ele a escolher os graffiti a apagar, teria tomado outras opções, mas recusa-se a "crucificar" os seus colaboradores. E garante que não vai mudar a política de limpeza das fachadas
O presidente da Câmara do Porto admite que "há uma diferença" entre "uma pintura e uma parede simplesmente suja e vandalizada". Rui Rio concede mesmo que, se fosse ele a escolher quais os graffiti da cidade a cobrir com uma camada de tinta uniforme, as suas prioridades seriam diferentes daquelas que têm sido as das brigadas de limpeza que colaboram com a autarquia. Mas isto não significa que Rio pretenda alterar a forma como os graffiti têm sido tratados na cidade, porque, defende, há uma questão "inultrapassável": no Porto, garante, só serão permitidos graffiti com licença da câmara.
A polémica em torno da limpeza das paredes, acentuada pela fotografia que mostra um conhecido desenho do artista urbano Hazul a ser coberto por tinta amarela, chegou à reunião do executivo de ontem pela voz da vereadora socialista Manuela Monteiro, que disse temer pelas "possíveis consequências de uma intervenção cega da Câmara do Porto relativamente aos graffiti".
Manuela Monteiro, que já apelara ao executivo para que distinguisse "o vandalismo dos tags [meras assinaturas]" de obras de "arte urbana", disse que "aconteceu o que não devia ter acontecido", quando "obras com valor reconhecido internacionalmente foram cobertas de amarelo ou cinzento". E exemplificou: "Junto à Escola Filipa de Vilhena há um muro cinzento, incaracterístico, em que foram pintados quadros extraordinários. Mas aquilo que era arte urbana, num muro que não servia para nada, completamente desqualificado, está cinzento e um dia vai encher-se de tags."
Em resposta à interpelação da vereadora, Rui Rio afirmou: "Há, obviamente, uma diferença entre uma pintura e uma parede simplesmente suja e vandalizada, mas temos uma divergência inultrapassável. A lei tem de ser igual para todos e se a senhora vereadora quiser mudar a cor [exterior] da sua casa tem de pedir uma licença à câmara. Se é assim para todos os cidadãos, os que querem pintar um muro também têm que o fazer." O autarca defendeu que "não pode haver a arrogância, que roça a estupidez, de se achar que se pode fazer o que se quer".
Rui Rio admitiu que, se fosse ele a indicar as paredes a limpar, "faria outra escolha", mas ressalvou: "Não vou crucificar quem colabora comigo." Já o vereador do Ambiente, Manuel Gonçalves, afirmou que é "mentira" que dois writers tivessem pedido uma reunião à câmara (PÚBLICO de 24/5/2013) e afirmou que a limpeza vai prosseguir como até aqui. "A cidade está a ser limpa de forma organizada. Não andamos a saltar de rua em rua", disse.
A questão dos graffiti já fora levantada na assembleia municipal de segunda-feira, também pelo PS, numa sessão convocada pela CDU para discutir a política cultural do município. A vereadora Guilhermina Rego garantiu que a câmara investiu, nos últimos quatro anos, 13 milhões de euros em cultura.
Sem comentários:
Enviar um comentário