O dogma reiterado por Dijsselbloem.
Editorial / Público
28/05/2013 -
A Europa, ao contrário do Japão ou dos EUA, acredita que se pode vencer a crise sem lhe dar luta
A cada semana que passa, a sensação de que a política europeia se afunda no irrealismo e na demissão não pára de aumentar. Ontem, na sua visita a Portugal, o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, reconheceu que a gravidade da crise não estava nas perspectivas dos que desenharam a "estratégia" de ajustamento, mas o erro de previsão não se resolverá com a mudança da receita que em grande medida o explica. Haverá, quando muito, ajustes a essa estratégia, o que, como toda a gente, a começar pelo Governo, já percebeu, se traduzirá em sucessivas revisões do défice ou dos prazos de pagamento da dívida. Quando, perante as dificuldades da conjuntura, a Reserva Federal (uma espécie de banco central dos Estados Unidos) continua a injectar quantidades gigantescas de dinheiro na economia, quando o Governo do Japão começa a viver a esperança de um novo ciclo de crescimento à custa de um programa de estímulo que aponta para um crescimento suplementar do PIB em 2%, a União Europeia rende-se aos dogmas, cede aos factos e abdica de os tentar influenciar. Percebe-se que a capa da revista britânica The Economist chame aos seus líderes "sonâmbulos", ou que o Nobel Paul Krugman lembre que uma política orçamental expansionista à escala europeia permitiria a Portugal superar os seus problemas ("conhecidos há muitas décadas") e, assim, acabar com o "pesadelo" que os portugueses vivem. Claro que ninguém esperava que Dijsselbloem viesse a Lisboa dizer algo de diferente do que o Eurogrupo ou a Comissão ou o Banco Central Europeu têm dito. Nestes tempos de paralisia em que as lideranças deixam de o ser ao aterem-se ao curto prazo, nada distingue trabalhistas como o ministro holandês das Finanças ou conservadores. Enquanto americanos e japoneses ousam, os europeus renunciam. Já o sabíamos e não precisávamos que alguém viesse de Haia para o sublinhar.
Primeiro, fazer tudo para cumprir o défice. Depois, talvez mudar o objectivo.
Por Sérgio Aníbal in Público
28/05/2013
Jeroen Dijsselbloem, Vítor Gaspar, Passos Coelho e Paulo Portas acertaram todos o discurso. Primeiro, Portugal vai ter de fazer tudo o que for possível para cumprir os actuais objectivos para o défice público definidos durante a sétima avaliação da troika. E só mais tarde, se a economia não ajudar, a flexibilização das metas pode vir a ser discutida e adoptada. De visita a Lisboa durante o dia de ontem, o presidente do Eurogrupo deu o mote. Na conferência de imprensa que realizou em conjunto com Vítor Gaspar, Jeroen Dijsselbloem, que também é ministro das Finanças da Holanda, disse que, caso Portugal atinja os objectivos definidos para o défice estrutural, "se for necessário dar mais tempo a Portugal, então esse tema [a flexibilização adicional do objectivo para o défice nominal em 2014] será debatido".
O líder do Eurogrupo salientou, contudo, que agora é tempo de cumprir aquilo que ficou acordado no decorrer da sétima avaliação do programa de ajustamento.
Vítor Gaspar defendeu também que o essencial é agora cumprir o que ficou acordado, lembrando, porém, o novo princípio assumido pelas autoridades europeias de que o importante é cumprir os limites definidos para os défices estruturais. "Não podemos excluir que seja necessária mais flexibilidade no futuro, mas apenas se houver circunstâncias que o tornem necessário", disse. "Depende de nós cumprirmos a nossa parte do acordo."
Horas mais tarde, Passos Coelho, que na sexta-feira no Parlamento tinha afirmado não ser "de excluir, por parte do Governo, que uma flexibilização dessas metas possa ser importante para 2014", esclareceu ontem que nunca falou de valores para essa flexibilização: "Isso não está em cima da mesa nesta altura. Sinalizei que, se isso tiver de acontecer, o Governo não deixará de o solicitar."
Paulo Portas, que tinha sido o primeiro no Governo a mostrar-se insatisfeito com a meta de 4% para o défice de 2014, disse ontem considerar "prudente a declaração que o primeiro-ministro fez no Parlamento admitindo a hipótese de, no momento próprio e na circunstância certa, flexibilizar certos objectivos".
As metas acordadas entre Portugal e a troika para o défice público já foram duas vezes revistas. A última ocorreu no decorrer da sétima avaliação, quando a meta de défice de 3% foi adiada de 2014 para 2015. Para este ano, o objectivo passou de 5% para 5,5%, enquanto para 2014 passou de 3% para 4%. As autoridades europeias têm agora centrado as suas atenções no cumprimento dos objectivos do défice estrutural, que leva em conta a evolução da conjuntura económica.
A maior crítica à política europeia aplicada em Portugal surgiu ontem dos Estados Unidos. No seu blogue, o economista Paul Krugman defendeu que Portugal está a atravessar um "pesadelo" económico-financeiro e que a culpa é da política europeia de austeridade orçamental. "Ou o euro deve acabar ou algo deve ser feito para o fazer funcionar, porque aquilo a que estamos a assistir (e os portugueses a experimentar) é inaceitável", escreveu.
Paul Krugman: "O que se está a passar em Portugal é inaceitável".
Por António Ribeiro Ferreira in (jornal) i online
publicado em 28 Maio 2013
Nobel da Economia escreveu ontem dois artigos no blogue que mantém no site do "New York Times"
O Prémio Nobel da Economia Paul Krugman considerou ontem que "o que se está a passar em Portugal é inaceitável", sendo vital "fazer alguma coisa". O laureado não podia ser mais oportuno. Os artigos surgem nas vésperas da discussão do Orçamento Rectificativo, com cortes de 1326 milhões que vão compensar as normas chumbadas pelo Tribunal Constitucional, da discussão em torno dos cortes de 4800 milhões previstos para 2014 e de um mês de Junho muito quente do ponto de vista social, com greves e manifestações no horizonte, incluindo uma greve geral conjunta da CGTP e UGT.
Depois de recordar a visita a Portugal em 1976, o economista lembra a última, em 2012, quando se encontrou com Passos Coelho e Vítor Gaspar: "Lisboa foi, para ser franco, um pouco decepcionante: tinha-se tornado uma cidade europeia normal, se bem que encantadora. Mas esta normalidade era, como todos admitimos, uma coisa maravilhosa: Portugal tinha emergido de uma longa e atribulada história para se tornar parte da decência básica do modelo social europeu." "Mas, agora, tudo isso está sob cerco", avisa. Numa análise separada mas escrita quase em simultâneo, Krugman analisa a situação da economia portuguesa e verifica que o país está a ficar na mesma situação que os EUA experimentaram durante a Grande Depressão de 1929-1934. O Nobel da Economia avisa que quem quer que esteja a analisar a evolução económica "deverá focar-se, acima de tudo, em como e porque é que estamos a permitir que este pesadelo aconteça de novo, três gerações depois da Grande Depressão". E Krugman continua: "Não me digam que Portugal teve más políticas no passado e que tem agora profundos problemas estruturais. Claro que tem; como, aliás, toda a gente, e enquanto os de Portugal poderão possivelmente ser piores que os de alguns outros países, como é que pode fazer sentido 'lidar' com estes problemas através da condenação ao desemprego de vastos números de pessoas que querem trabalhar?"
MAIS INFLAÇÃO NO CENTRO DA EUROPA
Krugman avança, como solução para Portugal, uma "maior inflação" nos países do centro da Europa, bem como uma forte "ajuda da política orçamental - não uma situação onde a austeridade nos países periféricos é reforçada por austeridade nos países do centro".
Krugman sublinha ainda que, por vezes, encontra "europeus que pensam que as minhas duras críticas da 'troika' e das suas políticas significam que sou anti-europeu. Pelo contrário: o projecto europeu, a construção da paz, democracia e prosperidade através da união é uma das melhores coisas que alguma vez aconteceram à humanidade. E é por isso que as políticas erróneas que estão a desfazer a Europa são uma tragédia tão grande".
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The sleepwalkers’
“The idea that the euro is yesterday’s problem is a dangerous figment. In reality, Europe’s leaders are sleepwalking through an economic wasteland,” writes The Economist after the May 22 European Council meeting.
The weekly notes that “the euro-zone economy has just endured a sixth successive quarter of shrinking GDP. The malaise is spreading to core countries including Finland and The Netherlands,” before warning –
For as long as stagnation and recession tear at democracy, the Eurozone risks a fatal popular rejection. If the sleepwalkers care about their currency and their people, they need to wake up.
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