O prenúncio de uma crise que há-de vir.
No futuro, o Governo terá a pairar sobre o seu destino a taxa sobre as reformas que agora ficou congelada
14/05/2013 Editorial/ público
Os dois partidos do Governo bem podem esforçar-se por explicar as minudências das negociações no Conselho de Ministros ou as que culminaram no sábado a sexta avaliação regular da troika que dificilmente conseguirão evitar a sensação de que entre eles se vive mais ao nível da zaragata do que do compromisso. É verdade que, em substância, a "fronteira" traçada por Paulo Portas em relação à nova taxa sobre reformados e pensionistas ainda não foi ultrapassada. Mas se Portas ainda não foi obrigado a passar para o lado de lá é porque estamos a meses da elaboração do Orçamento do Estado de 2014, para o qual foi concebida. Na realidade, a medida existe e, descontando a cortina da semântica política, é com ela que a troika conta para abater 436 milhões de euros na despesa do Estado. No futuro próximo, o grande desafio de Portas, e do Governo, é encontrar uma receita alternativa, e a tarefa não será fácil. Porque a aplicação de uma contribuição ou de um imposto produz um resultado fácil de estimar, ao contrário do que acontece com as vagas promessas de cortes nos ministérios. Por isso, a troika e Vítor Gaspar hão-de insistir nesta solução até ao limite, o que ameaça tornar a vida política do CDS um inferno. Juntando este engulho da governação ao perigo de novas declarações de inconstitucionalidade sobre medidas do programa de corte de 4800 milhões, o futuro do Governo está ameaçado pelo drama da exaustão e da impossibilidade física de produzir novos cortes. A sua viabilidade passará assim a jogar-se no palco europeu. Ontem, num raro vislumbre de luz de um primeiro-ministro acomodado ao diktat de Bruxelas, Passos lembrou à troika que "não conseguiremos vencer sozinhos". Se na Europa nada mudar (como sugere o artigo cínico de Wolfgang Schäuble, ontem, no Financial Times, no qual colocava entraves à união bancária), a fronteira de Portas está condenada a ser violada e só um milagre fará o Governo sobreviver.
Sem comentários:
Enviar um comentário