terça-feira, 28 de maio de 2013

Eleições locais italianas: cresce a abstenção e Grillo perde metade dos eleitores.


Eleições locais italianas: cresce a abstenção e Grillo perde metade dos eleitores.

Por Jorge Almeida Fernandes
28/05/2013

O eleitorado do comediante estará partido ao meio. Muitos eleitores exigem que os seus deputados mudem de comportamento
Aumento-recorde da abstenção e queda do eleitorado de Beppe Grillo eram os dois pontos mais frisados pela imprensa italiana perante as primeiras projecções eleitorais sobre as eleições municipais de ontem. As urnas fecharam às 15 horas locais (14 em Lisboa). O voto envolvia sete milhões de eleitores, uma pequena mas significativa parcela do corpo eleitoral.
As atenções estavam focadas em Roma. As primeiras projecções da Rai/Piepoli indicavam uma larga vantagem do candidato do centro-esquerda, Ignazio Marino, sobre o actual presidente da cidade, Gianni Alemanno, do centro-direita: 41,4% contra 30,3. Será necessária uma segunda volta, mas Marino parte com grande vantagem.
A verdadeira surpresa foi, no entanto, o resultado de Marcello de Vito, candidato do Movimento 5 Estrelas (M5S), de Beppe Grillo: teria 12,8%, depois do M5S ter obtido em Roma mais de 27% nas legislativas de Fevereiro. A Lista Cívica de Alfio Marchini teria 9,8. Os restantes candidatos têm votações residuais. É necessário ler estas projecções do fim da tarde com alguma prudência porque são feitas com um número parcial de votos contados.
Os primeiros resultados parciais favoreciam o centro-esquerda. A derrota de Roma não deixará de afectar negativamente Berlusconi. Quanto ao M5S, havia indícios claros de que se trataria de uma quebra geral. A elevada abstenção será também um factor de preocupação para o Governo. As eleições locais e regionais têm sempre um grande impacto político.
A indiferença

Num país com uma tradição de alta afluência às urnas, a abstenção aumentou 15 pontos em relação às eleições locais anteriores: votaram 62% dos inscritos contra 77. O recorde coube a Roma, onde a afluência caiu de 73,5% para 52,8. Comenta o diário La Repubblica: "A queda- recorde da afluência coloca um desafio dramático aos partidos. O desencanto transforma-se num total desinteresse." O próprio debate eleitoral foi marcado pelo desinteresse. A Itália acaba de receber boas notícias da União Europeia. Os motivos são estritamente políticos, frisa o jornal romano.
O politólogo Ilvo Diamanti faz a mesma leitura: "É o desencanto político - e antipolítico - do nosso tempo". Há um elemento mais grave: "A desafeição perante os partidos difundiu-se também a nível local. Os presidentes dos municípios, que há 20 anos eram os protagonistas da mudança, aparecem hoje confundidos na névoa da suspeição política."

O caso de Grillo

Como interpretar o flop do M5S? O analista Antonio Noto, director de IPR-Sondaggi, adverte que a derrota de ontem não significa o seu inevitável declínio nem uma crise da liderança de Grillo. O seu eleitorado não tenciona desertar do movimento, até porque não encontra uma proposta partidária em que se reconheça. Terá lançado um aviso. Mais do que abandonar definitivamente o M5S, metade dos seus eleitores pede-lhe um comportamento diverso daquele que tem tido no Parlamento, sublinha Noto.
Neste sentido, será útil perceber se os parlamentares do M5S estarão preparados para atravessar o rio, passando duma bem sucedida campanha eleitoral mediática sobre a casta e o salário dos políticos para um projecto de propostas de lei que possa contribuir para o desenvolvimento do país. Provavelmente, o eleitorado grillino está partido ao meio", conclui.



Sem comentários: