Menezes financiará obras no Bolhão com concessão do estacionamento
Por Abel Coentrão
18/05/2013
Candidato visitou ontem mercado para "repisar" o que separa o seu projecto do apresentado por Manuel Pizarro, dois dias antes
Bata branca, debruada a laranja, o talhante e líder associativo Alcino Sousa fez questão de tomar a palavra e pedir, para o Porto, um "homem forte". À sua frente estava Menezes, que se estreou em acções de pré-campanha para a Câmara do Porto, no Mercado do Bolhão. Dois dias depois de Pizarro, o candidato do PS, ter ali apresentado o seu projecto "mais barato", Menezes - o ainda autarca de Gaia que não tem "vergonha de dizer que fez obra" no concelho vizinho - foi ao mesmo palco para "repisar" que retirará da gaveta o projecto de Joaquim Massena, financiando-o com a concessão, a quem fizer a obra, do estacionamento previsto para a cave e dos lugares na envolvente do mercado, à superfície.
Ainda à espera de mais candidatos - e outros, todos, passarão por aqui -, Augusto Coutinho, um histórico comerciante do Bolhão, diz bem do que vai na alma de quem ali trabalha. "Já vi tantos projectos... É preciso é que se faça". E nos últimos dias não tem faltado quem prometa fazer. Pizarro esteve aqui na quarta-feira, a apresentar uma solução mais minimalista, sem caves nem cobertura, com um tecto máximo de oito milhões de euros, que arrancou alguns aplausos. Ontem foi Menezes, os mesmos beijos e abraços, a mesma expectativa. "Ai, amor, anda cá", ouviu. Será desta?
Os do Bolhão estão tão fartos de promessas como dos andaimes que Rui Rio lá mandou colocar. Mas da mesma forma que incorporaram os segundos, usando-os para publicitar o que vendem, parecem habituados a ser o enquadramento das campanhas, como se, mais do que património cultural que já são, fossem uma espécie de património político da cidade. O edifício, esse, não se queixa. Apenas se esvazia, tentando não cair.
A obra é urgente. Pizarro prometeu que desta vez é que vai ser. Menezes não lhe fica atrás e, ao contrário do socialista, não abre mão do estacionamento no subsolo. "O mundo mudou. Que ninguém acredite que as pessoas virão aqui às compras e depois vão a carregar os sacos rua acima até ao Silo-Auto [que passaria a ser uma espécie de parque do Bolhão, na ideia do PS]", avisou Menezes, separando, neste aspecto, as águas em relação às intenções do adversário.
Com o social-democrata, o projecto de Massena, que já previa caves, será alterado, no subsolo, para se conseguir levar o estacionamento subterrâneo para debaixo das Ruas de Alexandre Braga e de Sá da Bandeira. Ganhando, desta forma, umas centenas de lugares que, garante, tornarão o processo mais atractivo para privados e menos dispendioso para o erário municipal. Quem construir a obra ficará com a concessão dos espaços de restauração do piso intermédio, do parqueamento do subsolo e, novidade ontem anunciada, de lugares de estacionamento nas ruas em volta.
Rui Rio tentou no ano passado concessionar o estacionamento pago na cidade. Pedia dez milhões de euros, mas o máximo que um dos concorrentes ofereceu foram quatro milhões. Luís Filipe Menezes acha que consegue melhor do que isso, e acredita que o encaixe poderá servir não apenas para financiar a componente pública do projecto do Bolhão mas também para requalificar os jardins do Palácio de Cristal. Embora se escuse, agora, a apontar uma estimativa de custos para a intervenção no mercado que ontem, ao PÚBLICO, admitia poder ficar por dez milhões.
O candidato julga ter condições para começar a obra em 2014. Dois anos depois, quem ali montar banca deixará de ser, como actualmente, ocupante, para passar a ser arrendatário, "com todos os direitos que a lei do arrandamento confere", disse o autarca de Gaia.
Num Bolhão requalificado, se Pizarro promete espaço para 300 bancas, o que permitiria criar idêntico número de postos de trabalho, Menezes quer ver 400 a 500 espaços de comércio, de modo a gerar 600 a 700 empregos. Em 1994, quando o arquitecto Joaquim Massena aqui se instalou para preparar o seu projecto, ouviu os 440 ocupantes. Hoje são pouco mais de 70 os que escutam, esperando que algo, finalmente, aconteça.
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