domingo, 1 de junho de 2014

A Casa dos Espíritos (parte II)


Esta é a segunda e última parte da saga da família Espírito Santo, que a jornalista Inês Dentinho publicou na revista do jornal O Independente em Março de 2000 e que o Dinheiro Vivo volta agora a publicar
A Casa dos Espíritos (parte II)
30/05/2014 | 16:04 |  Dinheiro Vivo

Quando Ricardo do Espírito Santo Silva morre, em 1955, a Família dobra uma esquina no tempo. Esgotam-se os anos de afirmação financeira, cultural e social. E resta ao irmão mais novo, Manuel, consolidar a herança a par de um regime que se extingue devagar. Para trás ficara a obra de José Maria, seu pai [ver A Casa dos Espíritos. A história da única família de banqueiros portuguesa (I)], que, do nada, erguera um nome e uma casa bancária imune às crises da monarquia e ao caos da I República. Ficara também a exigente travessia da Grande Guerra e a difícil fundação do banco (1920) suportada pelo irmão mais velho.
Ficara ainda a projecção financeira atingida pelo irmão do meio, Ricardo Espírito Santo Silva. Em pouco mais de 20 anos, o novíssimo banqueiro ligara-se ao Banco Comercial de Lisboa (1937) e espalhara uma rede de balcões por todo o País. Antes da hora, preparava uma estrutura capaz de absorver os benefícios da economia da II Guerra Mundial, instalando o Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa no topo da banca privada portuguesa.
A par das conquistas financeiras, Ricardo dera dimensão cultural à segunda geração da Família Espírito Santo. Deixara ao País uma fundação com a mais completa coleção de peças de arte portuguesa, perdidas durante o tumultuoso século XIX e resgatadas pelo banqueiro nos cantos mais escondidos da Europa e dos Estados Unidos. Organizara em Paris uma grande exposição de ourivesaria portuguesa, que seria inaugurada pelo Presidente René Coty pouco depois da sua morte. E é também com Ricardo Espírito Santo que a Família se estreia numa teia de valiosos contactos internacionais que dão escala ao nome e ao negócio.
O terceiro irmão, Manuel, será um anfitrião de primeira água, fortalecendo a rede dos Espíritos. "Podia ter sido diplomata. Tinha um trato extraordinário", lembra Ferreira Neto [no ano 2000] presidente do BIC. Chega a ser convidado por Marcello Caetano para ocupar a embaixada de Portugal em Washington.
"O meu pai dava muita importância aos estrangeiros. No mundo dos negócios, são contactos que ficam", diz José Manuel E.S. Lembra-se, em pequeno, de ver lá em casa os condes de Paris, Calouste Gulbenkian, o duque de Kent, os condes de Barcelona, o rei de Itália, Richard Nixon, Giscard d'Estaing, os Firestone, Bernardo da Holanda, os irmãos Rockefeller, as famílias reais do Luxemburgo e do Liechtenstein e George Woods, presidente do Banco Mundial.

Mas a história desta Família parece ser feita apenas por homens. Na sombra, as mulheres construíam um mundo que os fazia existir a tamanha escala. Isabel Pinheiro de Melo, mulher de Manuel, empresta aos Espírito Santo o mundo tradicional que a pacatez dos anos salazaristas devolve a algumas famílias de Lisboa. Filha do conde de Arnoso, um dos Vencidos da Vida, amigo e secretário do rei D. Carlos, "é uma grande figura do matriarcado e da dignidade", nas palavras de Augusto Athaíde [no ano 2000; entrou para o grupo Espírito Santo no Brasil, depois de abril de 1974. Entre outros cargos que ocupou no grupo, foi presidente do Banco Internacional de Crédito, integrado depois por fusão no Banco Espírito Santo].

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