Esta é a segunda
e última parte da saga da família Espírito Santo, que a jornalista Inês
Dentinho publicou na revista do jornal O Independente em Março de 2000 e que o
Dinheiro Vivo volta agora a publicar
A Casa dos Espíritos (parte II)
30/05/2014 |
16:04 | Dinheiro Vivo
Quando Ricardo do
Espírito Santo Silva morre, em 1955,
a Família dobra uma esquina no tempo. Esgotam-se os anos
de afirmação financeira, cultural e social. E resta ao irmão mais novo, Manuel,
consolidar a herança a par de um regime que se extingue devagar. Para trás
ficara a obra de José Maria, seu pai [ver A Casa dos Espíritos. A história da
única família de banqueiros portuguesa (I)], que, do nada, erguera um nome e
uma casa bancária imune às crises da monarquia e ao caos da I República. Ficara
também a exigente travessia da Grande Guerra e a difícil fundação do banco
(1920) suportada pelo irmão mais velho.
Ficara ainda a
projecção financeira atingida pelo irmão do meio, Ricardo Espírito Santo Silva.
Em pouco mais de 20 anos, o novíssimo banqueiro ligara-se ao Banco Comercial de
Lisboa (1937) e espalhara uma rede de balcões por todo o País. Antes da hora,
preparava uma estrutura capaz de absorver os benefícios da economia da II
Guerra Mundial, instalando o Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa no topo
da banca privada portuguesa.
A par das
conquistas financeiras, Ricardo dera dimensão cultural à segunda geração da
Família Espírito Santo. Deixara ao País uma fundação com a mais completa
coleção de peças de arte portuguesa, perdidas durante o tumultuoso século XIX e
resgatadas pelo banqueiro nos cantos mais escondidos da Europa e dos Estados
Unidos. Organizara em Paris uma grande exposição de ourivesaria portuguesa, que
seria inaugurada pelo Presidente René Coty pouco depois da sua morte. E é
também com Ricardo Espírito Santo que a Família se estreia numa teia de
valiosos contactos internacionais que dão escala ao nome e ao negócio.
O terceiro irmão,
Manuel, será um anfitrião de primeira água, fortalecendo a rede dos Espíritos.
"Podia ter sido diplomata. Tinha um trato extraordinário", lembra
Ferreira Neto [no ano 2000] presidente do BIC. Chega a ser convidado por
Marcello Caetano para ocupar a embaixada de Portugal em Washington.
"O meu pai
dava muita importância aos estrangeiros. No mundo dos negócios, são contactos
que ficam", diz José Manuel E.S. Lembra-se, em pequeno, de ver lá em casa
os condes de Paris, Calouste Gulbenkian, o duque de Kent, os condes de
Barcelona, o rei de Itália, Richard Nixon, Giscard d'Estaing, os Firestone,
Bernardo da Holanda, os irmãos Rockefeller, as famílias reais do Luxemburgo e
do Liechtenstein e George Woods, presidente do Banco Mundial.
Mas a história
desta Família parece ser feita apenas por homens. Na sombra, as mulheres
construíam um mundo que os fazia existir a tamanha escala. Isabel Pinheiro de
Melo, mulher de Manuel, empresta aos Espírito Santo o mundo tradicional que a
pacatez dos anos salazaristas devolve a algumas famílias de Lisboa. Filha do
conde de Arnoso, um dos Vencidos da Vida, amigo e secretário do rei D. Carlos,
"é uma grande figura do matriarcado e da dignidade", nas palavras de
Augusto Athaíde [no ano 2000; entrou para o grupo Espírito Santo no Brasil,
depois de abril de 1974. Entre outros cargos que ocupou no grupo, foi
presidente do Banco Internacional de Crédito, integrado depois por fusão no
Banco Espírito Santo].
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