Portugal, o dealer que tomou de assalto o mercado dos
vistos
Por Filipe Paiva Cardoso
publicado em 5 Mar 2014 in (jornal) i online
A estratégia de Paulo Portas, de transformar Portugal numa
espécie de Feira de Vistos, já vendeu 542 gold visa de livre acesso a toda a
Europa
"Olá Lisboa! Milionários chineses monopolizam os vistos
dourados de Portugal." É com este título que o "South China Morning
Post", primeiro jornal em língua inglesa de Hong Kong, atrai a atenção dos
seus leitores para uma reportagem sobre a ideia peregrina de Paulo Portas, a
criação de um mercado de vistos europeus: quem tem dinheiro para um país, tem
visto para andar livremente pelos 26 países de Schengen.
A ideia do vice-primeiro-ministro é simples: uma oferta
especial de vistos dourados para quem investir mais de um milhão de euros no
país, crie 30 empregos ou compre 500 mil euros em imobiliário. Até ao momento,
oito em cada dez vistos desta "promoção especial" de Portas foram
tomados por investidores chineses - 433 em 542 vistos aprovados -, segundo
dados da APEMIP avançados pelo "SCMP". Em 2º lugar surgem os russos,
com 23 vistos.
Apesar de muito atractiva para algum tipo de capital, esta "feira
de vistos" levou algum tempo a arrancar, o que obrigou Portugal a
facilitar ainda mais a obtenção de um visto: se antes era preciso ficar pelo
menos 30 dias no país, agora bastam sete. Em resultado, a procura disparou.
"Cerca de 90% dos interessados não querem viver em Portugal. Planeiam
antes investir só para obter a cidadania [que podem pedir ao fim de seis
anos]", explicou Paul Williams, director da agência imobiliária "La
Vida Portugal", sedeada em Londres, ao "South China". No ano
passado, o número de habitações vendidas no país cresceu 70% muito graças à
oferta de um visto automático, salientou ainda Williams. Os preços do
imobiliário em Portugal estiveram em queda nos últimos anos mas já estão a
recuperar, ao contrário do que ocorre no Reino Unido: "Se compras uma casa
em Londres, não tens direito a visto", sintetiza Williams.
FEIRANTES AUMENTAM Segundo dados oficiais, em 2013 a oferta de vistos por
Portugal conseguiu atrair 471 milionários, que investiram 306,7 milhões de
euros no país para obter o golden visa de Portas. O resultado financeiro da
operação, que contrasta com o tortuoso caminho diplomático percorrido por
Portugal para obter autorização europeia para 'vender' vistos europeus, acabou
por levar a que outros países aflitos recorressem ao mesmo esquema: Espanha,
Grécia e Chipre já avançaram com modelos semelhantes ao português, com alguns
detalhes próprios. Chipre e Grécia impõem tectos mais baixos, investimentos de
300 e 250 mil euros, respectivamente. Espanha riscou a linha nos 500 mil euros.
PROMOÇÃO ESPECIAL: OMÃ Paulo Portas apontou recentemente que
espera 'vender' 500 milhões de euros em vistos dourados este ano. Portugal
aponta agora baterias a Omã, alvo de uma visita comercial recentemente para
promover a promoção de vistos.
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