António Costa regressa aos Paços
do Concelho “à procura de novas Mourarias”
No Intendente foi feito um investimento público de 11 milhões de euros no
património e de 2,5 milhões no domínio social
Inês Boaventura /
27 mar 2014 / PÚBLICO
O presidente da
Câmara de Lisboa vai abandonar o gabinete de trabalho que ocupa no Intendente
há cerca de três anos e regressar aos Paços do Concelho, pelo menos enquanto
estiver “à procura de outras Mourarias”. António Costa congratula-se com os
progressos alcançados nesta zona, nomeadamente ao nível da criação de emprego,
mas admite que “vários dos problemas estruturais persistem”.
Foi em Abril de
2011 que o autarca se mudou para o número 27 do Largo do Intendente Pina
Manique, onde em tempos tinha funcionado uma fábrica de azulejos da empresa
Viúva Lamego, com o objectivo anunciado de imprimir a esta área “a dinâmica de
regeneração” de que há muito tempo carecia. O imóvel foi arrendado por dez
anos, por um total de 672 mil euros, mas desde o início do processo António
Costa foi dizendo que só lá ficaria até à mudança que ambicionava estar “em
velocidade de cruzeiro”.
Ontem, o autarca
afirmou, numa reunião da câmara, que chegou “o momento de mudar de página” e de
“regressar aos Paços do Concelho, à procura de outras Mourarias”. O edifício
que desocupará em breve, revelou, será cedido à Junta de Freguesia de Arroios,
que “está a precisar de novas instalações”.
António Costa
destacou que aquilo que foi “original” neste caso foi “a metodologia aplicada”,
que passou pelo desenvolvimento em simultâneo de intervenções de diferentes
naturezas. Não escondeu que a sua ambição é que esta metodologia possa agora
ser replicada “noutras zonas da cidade”: “Há outras Mourarias na cidade a que
temos de acorrer”, disse, não revelando que localizações possíveis para um
futuro gabinete tem em mente.
Esta reunião
camarária contou com uma apresentação do coordenador do Gabip da Mouraria (o
gabinete institucional criado para coordenar a actuação nesta área de Lisboa),
que afirmou que nos últimos anos foram aqui realizados in-
“Há outras
Mourarias na cidade a que temos de acorrer”, diz Costa vestimentos públicos de
11 milhões de euros em obras no edificado e no espaço público e de 2,5 milhões
no domínio social. Os principais objectivos, lembrou João Menezes, eram
“melhorar a vida” de quem já aqui vivia ou trabalhava e “atrair novas pessoas”,
fossem residentes, trabalhadores ou turistas, mas também “evitar um excesso de
gentrificação, de turistificação e de especulação imobiliária”, acrescentou.
Um dos aspectos
positivos destacados pelo coordenador do Gabip foi a criação do Mouraria +
Emprego, um gabinete de apoio à empregabilidade, que segundo disse tem mais de
600 pessoas inscritas e permitiu o surgimento de mais de 200 empregos não
precários. Já António Costa sublinhou que essa criação de postos de trabalho
foi feita “em contraciclo” com aquilo que se verificou no país.
“Foi muito
importante o que está feito, mas também o que está para ser”, afirmou ainda o
autarca, reconhecendo que há “problemas estruturais” por resolver e obras por
concretizar. Entre elas a “intervenção no espaço público da parte alta da
Mouraria, e a articulação com a Graça” e a criação de uma praça com uma
mesquita, projecto que implicará a demolição de um edifício na Rua da Palma.
O vereador do
Urbanismo e da Reabilitação Urbana aplaudiu a “transformação profunda”
verificada na Mouraria, mas confessou estar preocupado com “o caminho perigoso”
que se avizinha. “Infelizmente estamos a ser vítimas do nosso próprio sucesso”,
disse Manuel Salgado, referindo-se ao facto de não só aí, mas na generalidade
do centro histórico, estarem a surgir muitos alojamentos de curta duração, o
que “faz subir os preços e torna difícil a fixação de novas famílias”.
Nesta reunião foi
aprovado, com a abstenção do PCP e o voto favorável de todas as outras forças
políticas, o pedido de licenciamento (apresentado pela Estamo) para a
construção de uma residência de estudantes, no Largo do Intendente Pina
Manique. Costa anunciou que este equipamento vai ser explorado pela
Universidade de Lisboa, e defendeu que será “uma âncora muito sólida” para o
desenvolvimento da Mouraria.
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