As ondas de calor
e as inundações já são os efeitos das alterações climáticas, dizem os
investigadores
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Cientistas das Nações Unidas vêem
futuro cinzento se não se combater alterações climáticas
AFP 23/03/2014 –
PÚBLICO
Rascunho do segundo volume do quinto relatório de avaliação do IPCC aponta
os impactos das alterações climáticas, antecipando custos altos e conflitos se
não se travar as emissões de dióxido de carbono.
O mais negro
relatório sobre os impactos das alterações climáticas anuncia um futuro cheio
de inundações, secas, conflitos e perdas económicas, se as emissões de carbono
não forem controladas. O relatório está pronto para ser anunciado pelos
cientistas das Nações Unidas.
Um rascunho, a
que a AFP teve acesso, que faz parte de uma revisão feita pelo Painel
Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês), irá
provavelmente moldar as políticas e as conversações sobre o clima nos próximos
anos. Os cientistas e os representantes dos governos vão reunir-se em Yokohama,
no Japão, a partir de terça-feira, quando o sumário de 29 páginas for
publicado. O relatório completo será revelado a 31 de Março.
“Temos uma visão
muito mais clara de muitos dos impactos e das suas consequências… incluindo as
implicações para a segurança”, disse Chris Field, do Instituto Carnegie dos
Estados Unidos, que liderou a produção deste segundo relatório. O trabalho é
publicado seis meses depois do primeiro volume da quinta avaliação do IPCC ser
revelado.
No primeiro
volume, os cientistas anunciaram com uma certeza quase absoluta de que a
actividade humana estava a causar o aquecimento global, o relatório prevê um
aumento das temperaturas médias do globo entre os 0,3 e os 4,8 graus até 2100. No
final do século, o nível médio do mar terá subido entre os 26 e os 82
centímetros.
O rascunho avisa
agora que os custos vão subir em espiral com cada grau a mais da temperatura da
Terra. Um aquecimento de 2,5 graus em relação aos níveis pré-industriais – o
que representa um aumento de 0,5 graus acima do objectivo das Nações Unidas –
pode custar entre 0,2 e 2% do PIB mundial, o que pode representar muitos
milhares de milhões de euros.
“As avaliações
que são possíveis fazer por enquanto ainda devem provavelmente subestimar os
impactos reais das alterações climáticas futuras”, disse Jacob Schewe, do
Instituto Potsdam para o Estudo dos Impactos Climáticos, na Alemanha. O
investigador não esteve envolvido no rascunho, mas explica que muitos
cientistas concordam que as recentes ondas de calor e inundações mostram as
alterações climáticas já em marcha – o pronúncio de um futuro onde fenómenos
que acontecem uma vez em muito tempo passam a ser menos raros.
Alguns dos
perigos enunciados no rascunho são as inundações, as secas, o aumento do nível
médio do mar, a fome, a extinção de espécies e a ameaça à segurança dos países.
O relatório refere que a Europa e a Ásia são os continentes mais expostos às
inundações. No pior dos cenários, haverá três vezes mais pessoas vulneráveis a
inundações causadas por rios. Por cada grau no aumento de temperatura, mais 7%
da população mundial vai ficar com um quinto do acesso que tem hoje à água.
A produtividade
média do trigo, do arroz e do milho vão diminuir 2% por cada década ao mesmo
tempo que a necessidade de culturas de cereais vai aumentar em 14% até 2050
devido ao aumento de população. A falta de alimentos vai ser sentida
principalmente pelas populações pobres, principalmente nos países tropicais.
“As alterações
climáticas ao longo do século XXI vão trazer novos desafios aos estados e vão
cada vez moldar mais as políticas de segurança nacionais”, lê-se no sumário do
rascunho. “As pequenas ilhas-estado e outros estados muito vulneráveis ao
aumento do nível médio do mar vão enfrentar grandes desafios em relação à sua
integridade territorial.”
“Alguns impactos
das alterações climáticas que transpõe fronteiras, como as mudanças no gelo nos
mares, fontes de água partilhadas e a migração dos cardumes de peixe, têm o
potencial de aumentar a rivalidade entre os estados. A presença de instituições
robustas pode gerir muitas destas rivalidades para reduzir o risco de
conflitos”, lê-se ainda no documento.
Ao reduzir as
emissões de dióxido de carbono “nas próximas décadas”, o mundo pode evitar
muitas das piores consequências climáticas no final do século, diz o relatório.
O IPCC está a
finalizar ainda um terceiro volume da quinta avaliação com as estratégias para
diminuir as emissões de carbono, que vai ser publicado a 13 de Abril, em
Berlim.
Em 25 anos de
história, o painel já editou outros quatro relatórios de avaliação sobre as
alterações climáticas. Cada relatório soou um alarme mais alto em relação à
quantidade de dióxido de carbono que os países estão a lançar para a atmosfera
devido ao consumo de combustíveis fósseis.
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