Marc Blyth, autor
do livro “Austeridade”, é um dos subscritores do manifesto
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Manifesto da dívida recebe apoio
de 74 economistas estrangeiros
PEDRO SOUSA
CARVALHO e PAULO PENA 19/03/2014 - PÚBLICO
Manifesto dos 74 transpôs a fronteira e já recebeu o apoio de economistas
de 20 nacionalidades, dos EUA à Alemanha.
São 74
economistas estrangeiros que agora se vêm juntar às 74 personalidades
portuguesas que, na semana passada, publicaram um manifesto a defender a
reestruturação da dívida pública nacional. São economistas, muitos com cargos
de relevo em instituições internacionais como o FMI, editores de revistas
científicas de economia e autores de livros e ensaios de referência na área.
Estes economistas
assinam um documento – com um conteúdo muito semelhante ao manifesto promovido
por João Cravinho – intitulado “Reestruturar a dívida insustentável e promover
o crescimento, recusando a austeridade”, no qual manifestam total concordância
com o documento subscrito por vários políticos portugueses (de Manuela Ferreira
Leite a Francisco Louçã), empresários, sindicalistas, académicos e
constitucionalistas.
Neste novo
manifesto, os 74 economistas estrangeiros dizem apoiar “os esforços dos que em
Portugal propõem a reestruturação da dívida pública global, no sentido de se
obterem menores taxas de juro e prazos mais amplos, de modo a que o esforço de
pagamento seja compatível com uma estratégia de crescimento, de investimento e
de criação de emprego”.
Subscrevem este
manifesto, a que o PÚBLICO teve acesso, académicos de várias correntes de
pensamento económico e de muitas nacionalidades: dos EUA, Canadá, México,
Brasil, Argentina, África do Sul, Austrália, Alemanha, França, Reino Unido,
Itália, Espanha, Grécia, Estónia, Noruega, Dinamarca, Bélgica, Áustria, Polónia
e Suíça.
É um apoio de
peso ao manifesto dos 74 notáveis portugueses que têm estado sob fogo,
sobretudo por causa do timing que escolheram para o apresentar (dois meses
antes da saída do resgate), e que provocou um intenso debate nacional.
O primeiro-ministro,
Pedro Passos Coelho, foi um dos primeiros a criticarem o documento,
referindo-se ao grupo como “essa gente”, acusando-o de "irrealismo" e
de pôr em causa o financiamento do país.
O manifesto
original provocou duas baixas na Casa Civil de Cavaco Silva – os dois
consultores do Presidente que o subscreveram (Vítor Martins e Sevinate Pinto)
foram exonerados horas depois de ter sido tornado público.
Neste novo
manifesto de apoio, os economistas estrangeiros subscrevem um texto, espécie de
súmula do manifesto dinamizado por João Cravinho e Francisco Louçã, no qual
sublinham que, “como economistas de diversas opiniões”, têm expressado
“preocupações quanto aos efeitos da estratégia de austeridade na Europa”.
Recomendam “a
rejeição das ideias da ‘recessão curativa’ e da ‘austeridade expansionista’ e
os programas impostos a vários países”. É o caso de Portugal onde, dizem, “a
austeridade (…) agravou a recessão, aumentou a dívida pública e impôs
sofrimento social à medida que as pensões e salários foram sendo reduzidos”.
Os economistas
Entre os 74
estrangeiros que subscrevem a ideia de reestruturar a dívida portuguesa está
Marc Blyth, da Universidade Brown, nos EUA, que foi o autor do “melhor livro de
2013”
para o Financial Times, o best-seller internacional Austeridade.
Vários destes
economistas têm papéis de relevo em instituições que podem estar em causa numa
eventual reestruturação da dívida. É o caso de José Antonio Ocampo, anterior
ministro das Finanças da Colômbia e secretário-geral adjunto das Nações Unidas,
que é hoje professor da Universidade de Columbia, EUA, e consultor da ONU e do
Independent Evaluation Office do FMI.
Stephany
Griffith-Jones, outra das subscritoras, é co-autora do Relatório Warwick e foi
responsável pela apresentação do relatório sobre regulação financeira global na
última reunião dos ministros das Finanças da Commonwealth.
Um conhecedor da
realidade portuguesa é o dinamarquês Beng-Ake Lundvall, da Universidade de
Aalborg e de Sciences-Po, em Paris, que é secretário-geral de Globelics e
perito do Banco Mundial. Foi consultor do Governo português na última
presidência na União Europeia e é um grande especialista mundial em economia da
inovação, razão pela qual foi escolhido para embaixador da União Europeia.
Há também seis
editores de revistas científicas de economia, como Geoffrey Hodgson, editor do
Journal of Institutional Economics, Malcolm Sawyer, da International Review of
Applied Economics, ambos britânicos, e Louis-Philippe Rochon da Review of
Keynesian Economics.
Muitos dos que
apoiam o manifesto dos 74 são autores de livros de referência, como Richard
Nelson (ex-conselheiro para assuntos económicos de John F. Kennedy) da
Universidade de Columbia, ou Engelbert Stokhammer, de Kingston. Outros, como o
grego Yannis Varouakis, têm trabalhado a fundo a crise financeira e a sua
transformação em “crise da dívida”. Varoufakis elaborou, com Stuart Holland,
uma Modesta Proposta para Resolver a Crise da Zona Euro, apoiada, entre outros,
por Jacques Delors, Giuliano Amato, Felipe González e Guy Verhofstadt, para só
falar nos ex-responsáveis políticos mais conhecidos. A reestruturação da dívida
é um dos pilares da publicação.
Robert Pollin e
Michael Ash são outros dois subscritores do manifesto. Estes dois nomes
ganharam notoriedade no ano passado, quando detectaram erros de cálculos e no
Excel de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, contrariando assim a tese dominante
até então de que um elevado endividamento condenava uma economia a um
crescimento lento. Reinhart e Rogoff inspiraram muitos dos que defenderam a
austeridade e a redução da dívida como fórmula para superar a crise.
Texto na íntegra e lista de
apoiantes
19/03/2014 -
23:42 / PÚBLICO
Leia na íntegra o texto subscrito pelos economistas estrangeiros e a veja a
lista completa dos 74
São 74
economistas estrangeiros que agora se vêm juntar às 74 personalidades
portuguesas que, na semana passada, publicaram um manifesto a defender a
reestruturação da dívida pública nacional.
São economistas,
muitos com cargos de relevo em instituições internacionais, editores de
revistas científicas de economia e autores de livros e ensaios de referência na
área.
O PÚBLICO
reproduz na íntegra o texto que eles subscreveram e a lista dos 74 nomes
Reestruturar a
dívida insustentável e promover o crescimento, recusando a austeridade
O programa do FMI
e da União Europeia para Portugal (2011-4) deve terminar a 17 de Maio de 2014.
Nas próximas semanas será tomada a decisão de aceitação de um programa
precaucionário continuando as mesmas políticas ou de submissão à vontade dos
mercados. Em qualquer dos casos, a regra da austeridade continuaria num país em
que o nível de desemprego já duplicou para cerca de 20%, como resultado da
estratégia escolhida.
Para mais, apesar
de fortes reduções do orçamento de Estado, o rácio da dívida no PIB subiu para
129%. Nos dois anos anteriores a 2008, a dívida pública tinha aumentado 0,7%;
nos dois anos seguintes, cresceu 15%. Os resultados são claros: a austeridade orçamental
reduziu a procura agregada, agravou a recessão, aumentou o nível da dívida
pública e impôs sofrimento social à medida que as pensões e salários foram
reduzidos, os impostos foram aumentados e a protecção social foi degradada.
Como economistas
de diversas opiniões, temos expressado as nossas preocupações quanto aos
efeitos da estratégia de austeridade na Europa. Recomendámos fortemente a
rejeição das ideias da “recessão curativa” e da “austeridade expansionista” e
os programas impostos a vários países. Criticámos as decisões do BCE durante a
recessão prolongada e a recuperação medíocre. Os resultados confirmam a razão
da nossa crítica. É tempo de mudar o curso desta política.
Assim, apelamos a
uma política europeia consistente contra a recessão. Apoiamos os esforços dos
que em Portugal propõem a reestruturação da dívida pública global, no sentido
de se obterem menores taxas de juro e prazos mais amplos, de modo que o esforço
de pagamento seja compatível com uma estratégia de crescimento, de investimento
e de criação de emprego.
Lista dos
subscritores
Alberto Recio,
Universidade Autonoma de Barcelona, Espanha
Alejandro
Florito, Universidade Lujan, Buenos Aires, Argentina
Alexander
Sulejewiz, Universidade de Varsóvia, Polónia
Alan Freeman,
Universidade Metropolitana de Londres, Reino Unido
Andrea Roventini,
Universidade de Verona, Itália
Andy Dennis,
Universidade de Londres, Reino Unido
Anton Hellesoy,
ex-vice presidente da Hoegh LNG, Noruega
Beng-Ake
Lundvall, Universidade de Aalborg, Dinamarca, secretário-geral de Globelic
Benjamim Coriat,
Universidade Paris XIII, França
Carlota Perez,
Universidade de Tallinn, Estónia
Dirk Erhuts,
Universidade de Berlim, Alemanha
Eduardo
Strachman, UNESP, Brasil
Engelbert
Stockhammer, Universidade de Kingston, Reino Unido
Erik Reinert,
Universidade Tecnológica de Tallinn, Estónia
Erisa Senerdem,
Universidade de Istambul, Turquia
Gabriel Palma,
Universidade de Cambridge, Reino Unido
Gary Dymski,
Universidade de Leeds, Reino Unido
Geoffrey Hodgson,
Universidade de Hertefordshire, Reino Unido, editor de Journal of Institutional
Economics
Georges
Caravelis, Secretariado da Comissão de Economia, Parlamento Europeu, Bélgica
Gerald Epstein,
Co-director de PERI, Universidade de Amherst, EUA
Gilad Isaacs,
Universidade de Witwaterrand, Africa do Sul
Giovanni Dosi,
Universidade de Pisa, Itália, Editor de Industrial and Corporate Change
Guglielmo
Davezanti, Universidade de Salento, Itália
Herbert Schui,
Universidade de Bremen, Alemanha
Herman Boemer,
Universidade de Dortmund, Alemanha
Ignacio Alvarez,
Universidade Complutense de Madrid, Espanha
James
Galbraith, Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, University of Texas ,
EUA
Jan Fagerberg,
Universidade de Oslo, Noruega
Jan Kregel,
Universidade de Tallinn, Estónia, Editor do Journal of Post-Keynesian Economics
Jan Toporowski,
SOAS, Universidade de Londres, Reino Unido
Jeremy
Leama, Editor de Journal of Contemporary European Studies
Jesus Ferreiro,
Universidade do País Basco, Espanha
Joannes Kpler,
Universidade de Linz, Austria
Jacob Kapeller,
Universidade de Linz, Austria
John King,
Professor honorário, Universidade La Trobe, Austrália
John Weeks,
Professor emérito, Universidade de Londres, Reino Unido
Jorge Arias,
Universidade de Leon, Espanha
Jose Antonio
Ocampo, Universidade de Columbia, EUA, consultor da ONU e do Independent
Evaluation Office do FMI
Louis-Philippe
Rochon, Universidade Laurentina, Canadá, co-editor de Review of Keynesian
Economics
Michael White,
Universidade de Monash, Austrália
Malcolm Sawyer,
Professor emérito, Universidade de Leeds, Reino Unido, Editor de International
Review of Applied Economics
Mariana
Mazzucato, SPRU, Universidade de Sussex, Reino Unido
Marica Frangakis,
Investigadora em economia
Mario Cechini,
Universidade de Turim, Itália
Mario Pianta,
Universidade de Urbino, Itália
Mark Blyth,
Universidade de Brown, EUA, autor de “Austeridade: A História de uma Ideia
Perigosa”
Martin
Heindenreich, Universidade de Oldenburg, Alemanha
Matias Vernengo,
Universidade de Bucknell, EUA
Mauro Gallegati,
Universidade de Ancona, Itália
Mauro Napoletano,
OFCE, Paris, França
Michael Ash,
Director do departamento de economia, Universidade de Amherst, EUA
Michel Husson,
IRES, França
Noemi Levy, UNAM,
México
Ozlem Onaran,
Universidade de Greenwich, Reino Unido
P. Raja Junankar,
Professor honorário, Universidade de Bona, professor emérito, Universidade de
Sidney, Austrália
Paul Hudson,
Professor universitário reformado
Peter Herrmann,
Eurispes, Roma, Itália
Rainer Bartel,
Universidade de Linz, Austria
Rainer Kattel,
Universidade de Talinn, Estónia
Raza Werner,
Euromemorandum Group, Alemanha
Riccardo
Bellofiore, Universidade de Bergamo, Itália
Richard Nelson,
Universidade de Columbia, EUA, autor de “An Evolutionary Theory of Economic
Change”, com Sidney Winter
Rorita Canale,
Universidade de Nápoles, Itália
Robert Pollin,
Universidade de Massachussets, EUA
Stephany
Griffith-Jones, Universidade de Columbia, Financial Markets Director, EUA
Sergio Cesaratto,
Universidade de Siena, Itália
Sergio Rossi,
Universidade de Friburgo, Suíça
Slavo Radosevic,
Director da Escola de Estudos do Leste Europeu, University College Londres,
Reino Unido
Stefanos Joannon,
Universidade de Leeds, Reino Unido
Trevor Evans,
Universidade de Berlim, Alemanha
Wlodzimierz
Dymarki, Universidade de Poznan, Polónia
Wolfgang Blaas,
Universidade de Viena, Austria
Wolfgang Haug,
Universidade de Berlim, Alemanha
Yannis Varouakis,
Universidade de Atenas, Grécia
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