Barreto Xavier promete multa
entre 100 mil e 500 mil euros pela saída das obras de Miró
CLÁUDIA CARVALHO
19/03/2014 - PÚBLICO
Presidente da
Parvalorem e da Parups, sociedades proprietárias das obras, recusa ilegalidade
e contesta contra-ordenação pedida pelo secretário de Estado da Cultura.
Há mais de um mês
que se sabe que as 85 obras de Joan Miró saíram ilegalmente de Portugal para
Londres, onde se previa que fossem leiloadas na Christie’s em Fevereiro. O que
continua por apurar são os responsáveis por todo este procedimento. Esta
quarta-feira, no Parlamento, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto
Xavier, reiterou que não cometeu “nenhuma ilegalidade” e responsabilizou pela
saída irregular das obras a Parvalorem e a Parups, contra as quais pediu que se
abrisse um processo contra-ordenacional.
Ao PÚBLICO,
Francisco Nogueira Leite, presidente das sociedades anónimas proprietárias das
obras, garantiu que não ter incorrido “em qualquer ilicitude”, contrapondo que,
ao contrário do que afirmou Barreto Xavier, “não foi aberto qualquer processo
de contra ordenação”.
Para o secretário
de Estado da Cultura, ouvido na Assembleia da República por requerimento do PS
para prestar esclarecimentos sobre a saída da colecção Miró em Janeiro, as
irregularidades detectadas pelo tribunal no início de Fevereiro, que apontaram
um despacho ilegal de Barreto Xavier, “são um comentário” apenas, uma vez que a
sentença não proibiu a venda das obras.
“Não houve
ilegalidade nenhuma e sempre que for necessário responderei em sede própria”,
disse Barreto Xavier, destacando ainda, como já tinha defendido anteriormente,
que, quando alertado pela Direcção Geral do Património Cultural (DGPC) para a
saída ilegal das obras, iniciou um procedimento contra-ordenacional contra a
Parvalorem e a Parups, sociedades que foram criadas pelo Ministério das
Finanças para recuperar créditos do BPN.
“Quando a DGPC se
apercebeu da saída das obras sem autorização, o que fez um membro do Governo? Compete
ao Estado proteger a lei, coisa que fiz”, disse Barreto Xavier, admitindo que
“as obras não podiam ter saído daquela maneira”. E, por isso, as empresas terão
de responder, incorrendo numa multa, segundo o secretário de Estado, entre os
100 mil e os 500 mil euros.
Na última semana
de Fevereiro, as obras voltaram a Portugal por decisão do Governo, que já tem
novo leilão marcado para Junho em Londres. A Christie’s cancelou o primeiro
leilão por sentir que não estavam reunidas todas as condições que lhe
assegurassem uma venda sem complicações futuras para os seus clientes.
Questionado pelo
PÚBLICO, Francisco Nogueira Leite
precisou que as empresas apenas foram "notificadas da intenção da
DGPC de instaurar um processo contra-ordenacional e nos termos legais
apresentaram a sua contestação a essa intenção". Nogueira Leite
acrescentou que “cumpre à DGPC analisar a contestação e decidir se instaura
algum procedimento contra-ordenacional”. O presidente das empresas voltou a
afirmar que não foi cometida nenhuma ilegalidade da sua parte, uma vez que
seria a Christie’s a responsável por todo o processo que culminaria no leilão
das obras, como determina o contrato de “chave na mão” alegadamente celebrado
com a leiloeira.
A 31 de Janeiro,
por despacho, Barreto Xavier declarou que considerava “extintos todos os
procedimentos” relativos aos pedidos de expedição das obras por parte da
Parvalorem e da Parups. Nesse despacho pedia à então directora-geral do
Património, Isabel Cordeiro, a abertura de um procedimento contra-ordenacional.
Porém, a notificação sobre a ilicitude da saída das obras para Londres só foi
enviada às empresas a 24 de Fevereiro, segundo a Lusa. E, por isso, explica
fonte da DGPC ao PÚBLICO, “ainda só se está na fase da notificação”, estando o
processo a seguir os “trâmites normais”.
Esta
quarta-feira, Barreto Xavier afirmou, no entanto, ter dado recentemente
indicações à DGPC para que se trabalhe a legislação na área do património
móvel, no sentido de se criar “uma maior facilidade operativa no que diz
respeito à matéria da inventariação, da classificação, da expedição”.
Mas no que a esta
alteração diz respeito, Barreto Xavier não adiantou mais informação, escusando-se
também a responder aos jornalistas no fim da audição. Mais tarde, ao PÚBLICO, o
assessor de Barreto Xavier, João Póvoas, esclareceu que à DGPC foi dada
indicação da "necessidade de se criar um diploma de desenvolvimento da Lei
de Bases do Património de 2001 para a área do Património Móvel, sendo que já
existem diplomas de desenvolvimento nas áreas do património imóvel e
imaterial". Sobre a indicação dada, o mesmo assessor explicou que o
"objectivo é desenvolver aspectos que não estão concretizados na Lei de
Bases".
Barreto Xavier
adiantou ainda que pediu à Parvalorem e à Parups uma lista de todas as obras na
sua posse. Sabe-se que, além dos 85 Miró, estão na posse destas sociedades
anónimas obras de artistas como Paula Rego, Vieira da Silva ou Júlio Pomar.
Antes ainda de o leilão ter sido cancelado, Francisco Nogueira Leite já tinha
dito ao PÚBLICO que a inventariação destas obras estava a ser feita para que
também estas sejam vendidas.
Já uma exposição
com os Miró, antes de serem vendidos em Junho, também não é uma hipótese em
cima da mesa: Barreto Xavier explicou que “não é viável”, destacando que a
Parvalorem, em acordo com a leiloeira, quer pôr as obras em circulação
internacional antes do leilão. Também sobre esta itinerância, o secretário de
Estado não deu mais esclarecimentos.
Ainda esta
quarta-feira, o PS deu entrada a um requerimento que pede uma visita dos
deputados da Comissão de Ciência, Educação e Cultura ao local de depósito das
obras - a Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa.
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