Manuela Ferreira
Leite com outros ex-ministros das Finanças no debate desta quarta-feira
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Reestruturação? "A minha
posição é semelhante à de Alexander Hamilton", respondeu Vítor Gaspar
SÉRGIO ANÍBAL
19/03/2014 - PÚBLICO
Ex-ministro
recorreu ao exemplo do homem que assumiu a pasta das finanças após a
independência dos Estados Unidos.
O debate sobre o
presente e futuro das finanças públicas reunia quatro dos seis últimos
ministros das Finanças em Portugal, mas rapidamente, pela mão de Vítor Gaspar,
o pensamento de figuras do século XVIII e XIX como Oliveira Martins, Dias
Ferreira e Alexander Hamilton ganharam lugar de destaque na discussão.
Gaspar, o mais
recente dos ex-ministros – acompanhado por Manuela Ferreira Leite, António
Bagão Félix e Fernando Teixeira dos Santos na sessão de abertura do Fórum das
Políticas Públicas realizado esta quarta-feira no ISCTE –, começou por dizer
que não podia nem queria assumir uma posição sobre a proposta de reestruturação
de dívida. "Mas vou dizer umas coisas", avisou. E o que disse, em
resumo, foi: "A minha posição é semelhante à de Alexander Hamilton."
E quem foi
Alexander Hamilton? Secretário do Tesouro dos Estados Unidos desde a
independência em 1789 até 1795, teve de enfrentar uma grave crise financeira e
orçamental no país, optando por proceder ao pagamento integral da dívida, não
seguindo os apelos à concretização de um default.
Não querendo
referir-se explicitamente ao actual caso português e ao manifesto lançado por
74 personalidades, Vítor Gaspar usou a argumentação utilizada por Hamilton há
mais de duzentos anos para defender que um Estado tem todas as vantagens em
cumprir os seus compromissos de dívida. Cinco razões deu Hamilton para que um
país evite a todo o custo um default: um
Estado irá precisar, no futuro, de realizar despesas extraordinárias e irá
necessitar de ter crédito para obter financiamento; um país precisa de
investimento externo; a existência de um activo sem risco como o sector público
é uma pedra angular para o funcionamento do sistema bancário; o sistema
financeiro é fundamental para o desenvolvimento; por fim, a capacidade de
sustentar o crédito público é um bom indicador da capacidade de um Estado para
prosseguir as políticas públicas. "Não consigo fazer melhor do que
Alexander Hamilton", disse Gaspar.
Antes já tinha
falado de um paralelo em Portugal, quando no meio de uma crise financeira e
orçamental grave em 1892, o ministro das Finanças, Oliveira Martins, debatia um
default com o líder do Governo, José Dias Ferreira, bisavô de Manuela Ferreira
Leite.
Extremismos
Curiosamente,
tinha sido a ministra das Finanças do Governo de Durão Barroso a lançar, na sua
intervenção inicial na conferência desta quarta-feira, o tema da reestruturação
de dívida e da dificuldade de Portugal cumprir as regras impostas pelo Tratado
Orçamental, que força um país a fortes reduções anuais da dívida pública até
que esta atinja os 60% do PIB.
"Tanto é
extremista aquele que diz simplesmente que não pagamos a dívida, como é
extremista quem diz que assinámos o Tratado Orçamental e que por isso não
devemos discutir o assunto. É tão grave uma coisa como a outra", afirmou
Manuela Ferreira Leite, alertando ainda que "não há nada mais perigoso
para um país do que as posições extremistas".
Para a
ex-ministra, "entre os dois extremos, há com certeza uma posição de bom
senso",' referindo-se implicitamente às propostas realizadas no recente
manifesto para a renegociação da dívida pública, do qual Ferreira Leite foi uma
das subscritoras. "É o momento adequado para fazermos uma ponderação sobre
o que nos espera", afirmou, defendendo que o impacto da aplicação das
regras de redução da dívida previstas no Pacto Orçamental, "caso seja
concretizável, é muito penoso".
Na sua resposta a
Ferreira Leite, Vítor Gaspar não parece ter ficado embaraçado com a possibilidade
de ser visto como extremista, de acordo com a definição da ex-ministra, e
defendeu que as regras europeias são para cumprir, o que se deve debater é
apenas de que forma. "A questão não é sobre as regras, que estão definidas
e são reconhecidas, é sobre a qualidade da execução", afirmou
relativamente ao Tratado Orçamental europeu, que diz ter sido a grande novidade
na mudança das regras a nível europeu durante a crise.
Ferreira Leite
não ficou satisfeita e disse não ter recebido qualquer resposta aos problemas
que colocou. "O que é que acontece
às pessoas nestas circunstâncias? Cumprimos tudo, livramo-nos da dívida, mas
ficamos com um país de pobres em que os jovens saíram. É isto que queremos? Se
não queremos temos de discutir as regras a nível europeu. Não se consegue
mobilizar uma sociedade para 20 anos de sacrifícios se não responder à questão
sobre que país vamos ter", afirmou, arrancando os primeiros aplausos de
uma plateia maioritariamente constituída por alunos e professores do ISCTE.
Vítor Gaspar
respondeu novamente com Hamilton e com um estudo académico mais recente que
analisa os casos de reestruturação de dívida pública do último século e que
mostra, segundo o ex-ministro, que existem custos muito significativos para
quem não cumpre o pagamento da dívida. Vítor Gaspar concordou com Ferreira
Leite quando esta disse que este tema tem de ser discutido entre os líderes
europeus, com a participação de Portugal, mas avisou que os devedores ficam,
nestes debates, numa posição de fraqueza.
António Bagão
Félix, também um subscritor do manifesto da renegociação da dívida, criticou a
visão de que as regras europeias estejam sempre certas e de que seja preciso
cumpri-las cegamente. E condenou a forma como o Governo "e alguns
sectores" reagiram ao manifesto. "A resposta dos políticos ao
manifesto foi pavloviana"' disse.
Teixeira dos
Santos foi menos óbvio na sua posição em relação a uma reestruturação, deixando
contudo claro que considera que Portugal tem, neste momento, um poder negocial
muito reduzido. "De que é que nos serve fazer uma reestruturaçao da divida
se não resolvemos estruturalmente os problemas das nossas financas públicas? É
essa dúvida que temos de retirar dos nossos parceiros europeus", disse,
demonstrando estar muito pessimista em relação às perspectivas de crescimento
do país, num cenário de necessidade de políticas de consolidação orçamental e
elevado endividamento das empresas e das famílias.
Vítor Gaspar defende que Portugal
precisa de um seguro depois da saída da troika
SÉRGIO ANÍBAL
19/03/2014 - PÚBLICO
Ex-ministro das
Finanças defendeu no Fórum das Políticas Públicas a necessidade de uma garantia
oferecida pelos parceiros europeus.
Vítor Gaspar
defendeu nesta quarta-feira que Portugal deve garantir um seguro e a
solidariedade dos seus parceiros europeus no momento em que sair do actual
programa de ajustamento. Embora não referindo expressamente o programa
cautelar, a sua posição parece apontar para a defesa desta solução.
"Para sair
do programa com garantias de estabilidade, Portugal precisa do seguro e da
solidariedade dos parceiros europeus", afirmou o ex-ministro das Finanças
num debate realizado no ISCTE. Gaspar não concretizou se aquilo de que estava a
falar era de um programa cautelar, afirmando que "as modalidades do
mecanismo de seguro são importantes, mas não são fundamentais".
O ex-ministro das
Finanças do actual Governo participava na manhã desta quarta-feira no arranque
do Fórum das Políticas Públicas, num debate em que estavam também outros três ex-ministros:
Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix e Teixeira dos Santos.
A questão do
formato de saída do programa português foi uma das que geraram consenso entre
os intervenientes, com todos a defenderem que a existência de uma garantia
oferecida pelos parceiros europeus assegurava uma maior segurança na capacidade
de Portugal obter o financiamento de que necessita.
O Governo
português ainda está, segundo os seus responsáveis, a decidir como irá realizar
a saída do programa: se com um programa cautelar, em que os parceiros europeus
disponibilizam um seguro que pode ser accionado em caso de necessidade, se
através da chamada "saída limpa", semelhante à que a Irlanda realizou
no final do ano passado.
No mesmo debate,
Manuela Ferreira Leite criticou quem defende que não se deve discutir o que
fazer à dívida pública, classificando essa posição de "extremista".
"Tanto é
extremista aquele que diz simplesmente que não pagamos a dívida, como é
extremista quem diz que assinámos o Tratado Orçamental e que por isso não
devemos discutir o assunto. É tão grave uma coisa como a outra", afirmou a
ex-ministra das Finanças, alertando ainda que "não há nada mais perigoso
para um país do que as posições extremistas".
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