Querem menos marroquinos em
Haia?" Wilders promete "tratar" disso
ANA FONSECA
PEREIRA 20/03/2014 - PÚBLICO
Partido xenófobo holandês não venceu eleições na cidade, mas a tirada
centrou nele as atenções políticas.
Geert Wilders, o
político xenófobo holandês para quem a polémica é a principal arma de
sobrevivência, voltou a roubar protagonismo aos adversários embora os
resultados das eleições municipais de quarta-feira não lhe tenham sorrido como esperava.
Num comício em Haia, o líder do Partido da Liberdade (PVV) perguntou aos
apoiantes: “Querem mais ou menos marroquinos na cidade?” “Menos, menos”,
respondeu a assistência. “Vamos tratar disse”, prometeu, sorridente, Wilders.
A nível nacional,
a vitória foi dos progressistas do D66, que conquistaram quase todas as grandes
cidades da Holanda, canalizando o descontentamento dos eleitores com a
coligação que une no Governo os liberais do primeiro-ministro Mark Rutte aos
trabalhistas. O partido de Diederik Samsom, estrela das legislativas de 2012,
foi mesmo o principal castigado pelas políticas de contenção orçamental do
executivo, perdendo pela primeira vez desde o final da II Guerra Mundial o
controlo da capital, Amesterdão.
O
descontentamento com a subida dos impostos e o aumento de desemprego (um dos
mais baixos da Europa, mas superior ao que o país estava habituado)
beneficiaram também os socialistas (esquerda radical) e os partidos locais que,
juntos, somaram 30% dos votos, com a formação herdeira do populista Pym Fortuyn
a vencer Roterdão.
Mas nesta
quinta-feira falou-se sobretudo da tirada de Wilders, mesmo que o seu partido
tenha apresentado candidatos em apenas dois dos 400 municípios que foram a
votos. O PVV reconquistou Aldere, cidade dormitório de Amesterdão, mas não
conseguiu a esperada vitória em Haia, com os progressistas a negarem-lhe à
última hora um triunfo que seria a rampa de lançamento da campanha para as
europeias – eleições que, segundo as sondagens, vão dar ao partido de extrema-direita
a sua primeira vitória numa votação nacional.
“Ele foi longe de
mais”, reagiu Rutte, que disse ter ficado “com um gosto amargo na boca” ao
ouvir Wilders a incitar os seus apoiantes ao ódio racial. O primeiro-ministro –
que no mandato anterior contou com o apoio do PVV, até que Wilders lhe tirou o
tapete – disse que o importante é que “todas as pessoas que estão no país dêem
uma contribuição positiva, não o lugar de onde vêem”.
A maior
associação de holandeses de origem marroquina decidiu apresentar queixa por
discriminação contra Wilders. “Isto vai ter um enorme impacto na comunidade e
espero que haja um juiz capaz de ver isso. Ele pisou uma linha que, para ser
franco, é muito assustadora”, disse à Reuters Ahmed Charifi, presidente da SMN.
Em 2011, numa decisão polémica que encerrou um longa batalha para o condenar
por incitação ao ódio, um tribunal ilibou Wilders, concluindo que as suas
declarações incendiárias sobre o islão – chamou terrorista a Maomé e comparou o
Corão ao Mein Kampf de Hitler – visavam uma religião, não um grupo étnico
específico.
Já nesta
campanha, Wilders tinha indignado a comunidade muçulmana ao afirmar que “a
segurança nas cidades melhoraria se houvesse menos marroquinos” – um rapper de
origem libanesa reagiu difundido um videoclip simulando a execução do político,
um candidato trabalhista comparou-o a Hitler. “Este partido deixou de ter lugar
em democracia”, reagiu nesta quinta-feira o deputado trabalhista Jan Vos,
citado pelo jornal francês Le Monde.
Mas o discurso
islamofóbico e anti-imigração, a que desde o início da crise se junta o repúdio
por tudo o que vem da União Europeia, continua a ter eco na Holanda, um país
que durante décadas se afirmou modelo da tolerância e multiculturalismo. Uma
sondagem divulgada quarta-feira refere que, se as legislativas fossem agora, o
PVV elegeria 25 deputados, mais 11 dos que tem actualmente, e a apenas um de
diferença quer dos liberais, quer do D66. Os trabalhistas perderiam metade dos
seus deputados, deixando a actual coligação com menos de um terço dos lugares
no Parlamento.
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