Fuga de capitais da Rússia já
ascende a 3% do PIB
RITA SIZA
25/03/2014 - PÚBLICO
Investidores internacionais e grandes depositantes russos estão a
transferir o dinheiro do país. Vice-ministro da economia reconhece que o
montante retirado até agora já ultrapassa o total de 2013.
Antes da ameaça
de sanções dos Estados Unidos e da União Europeia, em resposta à anexação da
Crimeia pela Rússia, a actividade dos bancos russos já se encontrava
comprometida por um movimento acelerado de fuga de capitais dos investidores
internacionais e grandes depositantes russos, que nas estimativas dos analistas
financeiros terão transferido para fora do país um montante equivalente a 3% do
Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
De acordo com o
director-geral do Sberbank, o maior banco da Rússia, só nos primeiros dois
meses deste ano foram transferidos cerca de 25 mil milhões de euros do país. Nos
cálculos do vice-ministro da Economia, Andrei Klepatch, a fuga de capitais da
Rússia, em 2014, já ultrapassou o total de 45 mil milhões do ano passado – e
não será surpresa para ninguém se esse montante for duplicado. “Naturalmente, o
arrefecimento das relações com o Ocidente é um factor negativo importante em
termos da crescimento económico e da fuga de capitais”, declarou o governante à
agência Prime Tass.
A “desafectação
maciça” de recursos da economia russa, é um sinal da “falta de confiança dos
empresários moscovitas nas instituições do seu país”, observou Sébastien Barbé,
economista do Crédit Agricole CIB, ao jornal Le Monde. Por outro lado, a
“perspectiva de um alargamento das sanções aplicadas pelos países ocidentais a
outros sectores da economia, bem como a possibilidade de embargos comerciais,
está a inquietar os investidores”, frisava a última nota de mercado da
britânica Capital Economics.
Reunidos em Haia,
na Holanda, os chefes de Estado do G7 – EUA, Canadá, Reino Unido, França,
Alemanha, Itália e Japão – chegaram a acordo para “carregar” nas sanções se a
Rússia continuar a escalada na Ucrânia. Fonte da Administração Obama disse esta
terça-feira que as novas medidas incidiriam sobre as empresas de energia, o
sector financeiro e os fabricantes de armamento: “Reconhecemos os riscos
associados a estas acções, mas é a Rússia que tem mais a perder com o
isolamento da economia global”, admitiu.
Por enquanto, a
economia russa ainda não exibiu sinais de quebra em consequência directa do
congelamento dos bens financeiros de cerca de 30 indivíduos e instituições
russas. Segundo a consultora Macro-Advisory, sedeada em Moscovo, o “principal perigo
do prolongamento do conflito na Ucrânia para o futuro económico da Rússia tem a
ver com a redução radical do fluxo de investimento” no país, que fará disparar
o custo do financiamento da economia nos mercados internacionais. Antecipando o
inevitável, as agências de notação financeira reajustaram o outlook da Rússia
de “estável” para “negativo”, e os principais bancos reviram em baixa as suas
projecções de crescimento
O que não quer
dizer que as sanções ocidentais não tenham tido um impacto imediato: assim que
a Casa Branca divulgou a lista dos nomes punidos com sanções, todas as ligações
com empresas norte-americanas foram interrompidas. Por exemplo, todos os
clientes dos bancos incluídos na lista que detinham cartões de crédito Visa ou
Mastercard, deixaram de poder utilizá-los a partir desse momento. No dia
seguinte, a empresa de gás Novatek perdeu 12% do seu valor de mercado quando os
investidores internacionais cortaram a sua associação ao seu principal
accionista, Gennadi Timchenko, incluído na lista.
No entanto, como
argumenta Oliver Bullough, autor do livro The Last Man in Russia, num texto
para a revista do Politico, as sanções internacionais aplicadas contra os
bancos russos até podem acabar por beneficiar o Presidente Vladimir Putin, que
assim tem uma oportunidade para repatriar parte das fortunas dispersas no
estrangeiro, e aumentar em milhões de rublos a liquidez da economia do país. Segundo
o director executivo da Tax Justice Network, John Christensen, o retorno desse
dinheiro à Rússia aumentaria o investimento interno e as receitas fiscais do
país.
Ministro da Defesa ucraniano demite-se por causa da Crimeia
A anexação da
Crimeia pela Rússia fez a primeira baixa no governo interino de Kiev. O
ministro da Defesa, o general Igor Teniukh, apresentou a sua demissão e foi
substituído ontem por Mikhaïlo Koval, até agora responsável pela guarda
fronteiriça da Ucrânia. Teniukh foi duramente criticado pela forma tardia como
geriu a retirada das tropas ucranianas da Crimeia, após a anexação por Moscovo.
Na sua declaração
no parlamento de Kiev, Teniukh fez um novo balanço das deserções ocorridas nas
últimas semanas: apenas 4300 dos 18.800 soldados que estavam na Crimeia
continuam fiéis ao exército ucraniano, os restantes aceitaram a oferta da
Rússia para integrarem as suas forças armadas
Depois de votada
a nomeação de Mikhaïlo Koval , o presidente do parlamento que é também
Presidente interino do país, Olexandre Turtchinov, resumiu as dificuldades do
novo poder saído da Revolução de Maidan: “Precisamos que as pessoas que
trabalham e tomam decisões sejam especialistas, sejam pessoas capazes de tomar
as decisões certas e de dar resposta em condições extremas, em situações de
perigo e de confrontação militar.”
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