Projeto-piloto vai criar uma rede social só para o bairro. Uma espécie de
Facebook para os moradores
Mouraria renasce com tecnologia e
pastéis
Por Ana Rita
Guerra in Dinheiro Vivo
Mais tarde, a
ideia é estender o piloto a outros bairros da cidade de Lisboa, e eventualmente
a outras cidades do país. “Se isto funcionar como é o meu sonho, poderemos ter
a médio prazo um Facebook para a cidade, com um valor acrescentado muito
grande: não é apenas troca de informação, de fotografias, é participação em
serviços que interessam às pessoas que vivem ali.”
Além disso, serão
usadas, tanto online como offline, estratégias inovadoras, como a gamificação -
termo utilizado para descrever a aplicação da mecânica dos jogos para manter as
pessoas envolvidas e interessadas. Manuel Oliveira, do centro de pesquisa
norueguês SINTEF, explica: “Mesmo que se desenvolva algo de que as pessoas
precisam, elas podem aborrecer-se e não o usar.” Por exemplo, perante umas
escadas rolantes e outras fixas, que é preciso subir, a maioria das pessoas
escolhe as escadas rolantes. Mas se as escadas normais forem transformadas em
teclas gigantes de piano, que dão música quando são pisadas, a maioria das
pessoas irá por aí - como ficou provado na experiência feita em Estocolmo,
Suécia, em 2009.
A Mouraria no Brasil
“Estou convencido
de que um dos males da nossa sociedade é termos chegado à exclusão dos
contactos, não conhecemos o nosso vizinho.” Se estes projetos forem capazes de
mudar isso na Mouraria, Álvaro Oliveira acredita que é possível que o façam
também do outro lado do mundo. A equipa do empresário português parte
segunda-feira para o Brasil, onde irá avaliar a implementação do
MyNeighbourhood na favela da Rocinha e no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro. “A
experiência da Mouraria vai já ser usada. Ainda estamos a trabalhar na Mouraria
e já estaremos no Rio a fazer o mesmo.” Por coincidência, a equipa tinha estado
no Rio a fazer uma primeira abordagem no ano passado, algumas semanas antes de
irromperem os grandes protestos que entupiram as grandes cidades brasileiras.
“O
MyNeighbourhood também cobre isso: ouvir e falar com ‘a rua’. Isso é a fase de
aproximação entre o governo e o cidadão.” No Brasil, todo o investimento será
privado e suportado pela Alfamicro, já numa lógica de negócios futuros
associados à tecnologia. Mas quanto custa? Bastante. O mentor da iniciativa
calcula em “40 a
50 milhões de euros” o alargamento destes micro pilotos a uma cidade inteira, o
que também dependerá da sua dimensão e número de bairros.
Na Mouraria, o
elemento agregador “é o fado”. Mas pode passar a ser outras coisas, como os
pastéis que João Guedes pretende vender para todo o lado e que, por enquanto,
só estão disponíveis na pastelaria Doce Mila, no Beco dos Cavaleiros. Os outros
bairros terão de descobrir o que os define.
Certo, diz Álvaro
Oliveira, é que é importante a infraestrutura estar lá. No entanto, mais
importante ainda, é a inovação social. “As cidades estão cheias de pessoas
isoladas”, diz Diogo Rebelo, da tecnológica DRI. “No entanto, a necessidade de
pertencer a uma comunidade existe, e mais forte do que nunca.”
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