segunda-feira, 17 de março de 2014

Mouraria renasce com tecnologia e pastéis


Projeto-piloto vai criar uma rede social só para o bairro. Uma espécie de Facebook para os moradores
Mouraria renasce com tecnologia e pastéis
Por Ana Rita Guerra in Dinheiro Vivo

Mais tarde, a ideia é estender o piloto a outros bairros da cidade de Lisboa, e eventualmente a outras cidades do país. “Se isto funcionar como é o meu sonho, poderemos ter a médio prazo um Facebook para a cidade, com um valor acrescentado muito grande: não é apenas troca de informação, de fotografias, é participação em serviços que interessam às pessoas que vivem ali.”
Além disso, serão usadas, tanto online como offline, estratégias inovadoras, como a gamificação - termo utilizado para descrever a aplicação da mecânica dos jogos para manter as pessoas envolvidas e interessadas. Manuel Oliveira, do centro de pesquisa norueguês SINTEF, explica: “Mesmo que se desenvolva algo de que as pessoas precisam, elas podem aborrecer-se e não o usar.” Por exemplo, perante umas escadas rolantes e outras fixas, que é preciso subir, a maioria das pessoas escolhe as escadas rolantes. Mas se as escadas normais forem transformadas em teclas gigantes de piano, que dão música quando são pisadas, a maioria das pessoas irá por aí - como ficou provado na experiência feita em Estocolmo, Suécia, em 2009.

A Mouraria no Brasil
“Estou convencido de que um dos males da nossa sociedade é termos chegado à exclusão dos contactos, não conhecemos o nosso vizinho.” Se estes projetos forem capazes de mudar isso na Mouraria, Álvaro Oliveira acredita que é possível que o façam também do outro lado do mundo. A equipa do empresário português parte segunda-feira para o Brasil, onde irá avaliar a implementação do MyNeighbourhood na favela da Rocinha e no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro. “A experiência da Mouraria vai já ser usada. Ainda estamos a trabalhar na Mouraria e já estaremos no Rio a fazer o mesmo.” Por coincidência, a equipa tinha estado no Rio a fazer uma primeira abordagem no ano passado, algumas semanas antes de irromperem os grandes protestos que entupiram as grandes cidades brasileiras.
“O MyNeighbourhood também cobre isso: ouvir e falar com ‘a rua’. Isso é a fase de aproximação entre o governo e o cidadão.” No Brasil, todo o investimento será privado e suportado pela Alfamicro, já numa lógica de negócios futuros associados à tecnologia. Mas quanto custa? Bastante. O mentor da iniciativa calcula em “40 a 50 milhões de euros” o alargamento destes micro pilotos a uma cidade inteira, o que também dependerá da sua dimensão e número de bairros.
Na Mouraria, o elemento agregador “é o fado”. Mas pode passar a ser outras coisas, como os pastéis que João Guedes pretende vender para todo o lado e que, por enquanto, só estão disponíveis na pastelaria Doce Mila, no Beco dos Cavaleiros. Os outros bairros terão de descobrir o que os define.
Certo, diz Álvaro Oliveira, é que é importante a infraestrutura estar lá. No entanto, mais importante ainda, é a inovação social. “As cidades estão cheias de pessoas isoladas”, diz Diogo Rebelo, da tecnológica DRI. “No entanto, a necessidade de pertencer a uma comunidade existe, e mais forte do que nunca.”

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