sábado, 15 de março de 2014

Projecto urbanístico que inclui academia Aga Khan em Cascais gera polémica. Lê-se na Petição Pública :


Projecto urbanístico que inclui academia Aga Khan em Cascais gera polémica
Petição contra megaurbanização surge após câmara prometer aprovar construção da academia e de projecto do Lusofundo
Marisa Soares / 15 mar 2014 / PÚBLICO

Um grupo de cidadãos lançou uma petição pública contra um projecto de urbanização com uma área total de construção de 160 mil metros quadrados em Birre, perto do Guincho, Cascais, por considerar que este viola o Plano Director Municipal (PDM), em fase final de revisão. A Câmara de Cascais acusa os peticionários, que ontem eram mais de 500, de conduzirem uma “campanha de desinformação”.
A petição surge na sequência da aprovação, em reunião de câmara, a 13 de Janeiro, de um memorando de entendimento assinado em Fevereiro entre a autarquia, a Fundação Aga Khan Portugal — que integra uma rede internacional de cooperação ligada à comunidade muçulmana ismaili — e a Norfin, proprietária dos terrenos com mais de 500 mil metros quadrados e gestora do fundo imobiliário Lusofundo, participado por um fundo luxemburguês e pela Caixa Geral de Depósitos.
Neste memorando — que teve os votos contra da oposição PS e CDU e a abstenção da vereadora do movimento independente Ser Cascais —, o executivo compromete-se a tomar “todos os procedimentos que sejam legalmente necessários para a aprovação da operação urbanística, na medida do possível, mesmo antes da entrada em vigor do novo PDM”. Esta “operação urbanística” divide-se em dois: a construção de uma academia da Fundação Aga Khan, com 40 mil metros quadrados; e um projecto imobiliário a cargo do Lusofundo, que inclui equipamentos, habitação, serviços e hotelaria, em 120 mil metros quadrados, “com respeito dos parâmetros que vierem a ser definidos para a zona” através do novo PDM.
No PDM ainda em vigor, os terrenos situados no final da A5, a norte da estrada de Birre-Areia, estão classificados quase na totalidade como sendo de baixa densidade de construção ou como espaço de protecção. Algumas parcelas estão inseridas na Rede Ecológica Nacional e na Rede Agrícola Nacional. Os signatários da petição consideram que o projecto implica a “urbanização significativa” da zona e antevêem que o novo plano, que deve entrar em discussão pública após o Verão, possa aumentar a densidade de construção.
O presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras (PSD), não esteve disponível ontem para falar com o PÚBLICO. O gabinete de comunicação da autarquia responde que a petição assenta em pressupostos “tendencialmente falsos” e está inserida numa “campanha de desinformação”. A autarquia acusa os autores da petição de “irresponsabilidade ao tentarem pôr em causa o projecto da academia de excelência Aga Khan”, que “irá criar centenas de postos de trabalho num campus ao estilo universitário e que contribuirá para que Cascais se assuma como um novo eixo de crescimento”. A autarquia realça que o projecto da Aga Khan “fica abaixo” dos valores de construção que constam do PDM actual.
Mas para o vereador da CDU no executivo municipal, Clemente Alves, o problema não está no projecto da Fundação. “Não temos nada contra o projecto, pelo contrário, achamos que tem interesse para o município”, garante. Questiona, sim, a participação da Norfin no memorando. “Pensamos que a Fundação está a ser indevidamente utilizada para esconder um megaprojecto de urbanização desnecessário para Cascais, onde há um superavit de habitação”, afirma.
O projecto da Aga Khan (presente em Portugal desde 2005) foi conhecido no Verão passado, quando o príncipe Aga Khan, líder espiritual da Comunidade Muçulmana Ismaelita, visitou os terrenos acompanhado por Carlos Carreiras e mostrou interesse em construir ali a primeira academia da Fundação na Europa (tem outras em África e Ásia). Segundo o memorando, ao qual o PÚBLICO teve acesso, a fundação pagará cinco milhões de euros à Norfin pela propriedade.


Lê-se na Petição Pública :

Mega Urbanização junto ao Guincho: Não!
Para: Presidente da Câmara Municipal de Cascais
Os abaixo assinados

manifestam a sua total oposição ao projecto de urbanização da zona norte da estrada Birre-Areia, constante do " Memorando de entendimento" entre o Município de Cascais , a Norfin S.A. e a Aga Khan Foundation Portugal, que prevê uma área de construção de 160 000 metros quadrados, incluindo equipamentos, habitação, comércio, serviços, hotelaria e as infraestruturas correspondentes, nomeadamente vias de grande circulação.

A oposição que manifestamos é extensiva a qualquer projecto com características semelhantes e que implique a urbanização significativa da mesma área, incluindo a eventual revisão do P.D.M. no mesmo sentido.


Qualquer instrumento de ordenamento do território que seja aprovado para a zona, deverá manter um nível de protecção semelhante ao constante do P.D.M.actualmente em vigor, mantendo as características locais, de baixa densidade de habitação e construção, com tipologias, imagem urbana e densidade de habitação e construção semelhantes às que existem actualmente na envolvente de Birre e Areia, mantendo o enquadramento de grandes espaços verdes.

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