( ...) “Se Marcelo não tivesse aparecido, os media teriam comentado
muito mais o discurso de Santana Lopes, que foi completamente ofuscado. Sinal
particular: o último parágrafo do comentário de Marcelo na TVI foi dedicado a
zurzir em Santana.
Quanto ao resto, o comentador que não é candidato assinou o
momento do congresso, divertindo Passos, a direcção do partido e os ex-líderes
presentes. Ficou demonstrado que os comentadores (todos os comentadores), mesmo
criticando, pertencem à tribo e fizeram a vénia ao chefe da tribo. Cada um à
sua maneira. Marcelo com muito mais brilho do que os outros.
No jogo de aparecer e não aparecer que é o das
presidenciais, Marcelo foi marcar espaço para impedir Santana de fazer o mesmo.
Para manter o jogo em aberto e condicionar os candidatos que ainda não
apareceram e o aparelho partidário.
Mas o congresso acabaria por ficar marcado pelo misterioso
regresso de Miguel Relvas, ele próprio um fantasma político. A prova: o facto
de ter liderado uma lista ao conselho nacional do partido sem pôr os pés no
Coliseu. Se Marcelo foi para não desaparecer, Relvas não foi para poder
aparecer.
Esta lógica de vasos comunicantes estendeu-se para lá do
congresso. Tal como a pressão de Paulo Rangel levou Seguro a antecipar o
anúncio de Assis, o ausente Relvas precedeu em alguns dias o anúncio de que
Jorge Coelho ia ajudar o líder socialista. Há neste paralelismo mais do que uma
história de homens do aparelho mobilizados em véspera de um ciclo eleitoral
complexo.
Para Relvas ser chamado, Passos deixou claro que quem,
dentro do PSD, se meter com o seu amigo de sempre, leva. O regresso de Jorge
Coelho tem uma nuance em relação ao passado: a missão do antigo ministro de
Guterres já não é dizer que quem se mete com o PS, leva. É dizer que quem,
dentro do PS, se meter com o líder, leva.
Mas o apoio que quer um quer outro trazem aos respectivos
líderes pode ir mais longe do que as legislativas. Porque tanto um como outro
poderão estar a apostar em que esses líderes, um pouco mais à frente, venham a
apoiar Durão Barroso e António Guterres como candidatos presidenciais do
centro-direita e do centro-esquerda.
Seguro tem muito a ganhar com a nova aquisição, dada a forma
como tem sido atacado dentro do partido. Já Passos foi entronizado há uma
semana, mas não se libertou do fantasma de um desaire nas europeias.”
Comentário Miguel Gaspar / in Público
O grande Carnaval
Vasco Pulido Valente/ 2-3-2014/ PÚBLICO
Num partido em que os “notáveis” só se preocupam com a sua
carreira e com os seus “negócios”, não admira que já haja três candidatos à
presidência da República e que a questão se discuta ardorosamente por aí. Os
três candidatos são Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso e Santana Lopes e
todos fazem a sua humilde corte ao PSD, de que precisam para ser candidatos,
primeiro, e eleitos, depois.
É difícil escolher o pior. Mas como nenhum, por mais que se
esforçasse, poderia ser pior do que o Prof. Cavaco, o país, que devia andar
aterrado, anda tranquilo. De resto, o estatuto e a influência do Presidente
caíram tanto de há vinte anos para cá que ele se tornou num ornamento inócuo do
regime, a que ninguém atribui especial importância e que desceu, por sua
própria conta, a angariador de investimentos para Portugal.
De qualquer maneira, este extraordinário trio talvez nos
consiga divertir no meio da desgraça. É pena que Marcelo nos prive da sua missa
dominical, em troca da vista de Belém, embora talvez nos compense com a sua
inclinação para o inesperado e a sua congénita malícia política: o país precisa
que o agitem. Pedro Santana Lopes apareceu agora, desde que lhe deram a
Misericórdia, com um arzinho de frade franciscano, que lhe fica bem e o ajuda a
competir com o Papa. E Durão Barroso teoricamente traz consigo um cheiro a
Europa de que os portugueses sempre gostaram. Claro que nada disto se consegue
levar a sério. Mas, na tristeza do dia-a-dia, o absurdo distrai e até consola.
Verdade que os três candidatos (ou “protocandidatos”) não chegam para uma
orquestra. Nem se pede tanto, com as dificuldades da pátria: hoje basta um trio
enquanto o “Titanic” se afunda.
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