segunda-feira, 13 de maio de 2013

Ministro francês queixa-se de "fadiga da austeridade"

Pierre Moscovici quer margem para crescer e criar empregos

Ministro francês queixa-se de "fadiga da austeridade"

Por José Manuel Rocha in Público
13/05/2013

Ministro das Finanças gaulês quer evitar recessão e criar empregos; relatório do Governo alemão pede mais consolidação no Sul

O debate sobre a forma como conciliar austeridade e crescimento na zona euro pode ganhar uma nova amplitude nas próximas semanas, com o braço-de-ferro entre a Alemanha e os países do Sul a subir de tom.
Ontem, o ministro das Finanças gaulês, Pierre Moscovici, usou as palavras sem rodeios, ao afirmar que a França está a entrar num estado de "fadiga da austeridade" e que o desafio nos tempos mais próximos é o de garantir o crescimento para criar emprego.
"Se tivermos muito ajustamento, o que é que isso vai significar? Vai significar que a nossa economia estaria em recessão, e isso não podemos aceitar", sustentou Moscovici, no final de um encontro dos ministros das Finanças das sete maiores economias do mundo, que decorreu nos arredores de Londres.
As palavras do ministro gaulês foram registadas no dia em que a revista germânica Der Spiegel revelava a existência de um documento, elaborado pelo gabinete de Angela Merkel, que defende precisamente que os países do Sul da Europa devem acelerar as reformas e reforçar a política de austeridade, de forma a colocarem as finanças públicas em ordem. O gabinete da chanceler recusou comentar a notícia.
O relatório elaborado pelos técnicos da chancelaria está em linha com aquilo que tem sido a política oficial germânica. Mas surpreende pelo momento em que surge, ou seja, quando o crescimento descontrolado do desemprego parece exigir políticas que lhe ponham travão.
O documento tem indicações precisas sobre os caminhos que os países devem trilhar, as reformas estruturais que devem levar a cabo para garantirem "maior competitividade". Em relação à Itália, o relatório defende que ainda "há muito espaço para liberalizar o mercado de trabalho", enquanto em Espanha e na Grécia o objectivo deve ser o de acabar com a rigidez das leis laborais.
Em relação à França, os técnicos da chancelaria alemã reconhecem que houve um esforço para aumentar a receita, mas sustentam que o Governo deve avançar agora para cortes de despesa do Estado, ou seja, para um regime mais alargado de austeridade.
Ora, é precisamente nisto que Pierre Moscovici não gosta de ouvir falar. "Eu não gosto da palavra "austeridade", porque a austeridade não é só um ajustamento ou um ajustamento estrutural, significa mais do que isso." Austeridade, explicou, é "cortar além do que é necessário, significa ficar mais pobre, significa quebrar o modelo social", concluindo: "É por isso que nunca uso a palavra "austeridade"."
"Isso não quer dizer que agora podemos relaxar - não podemos relaxar. Mas quer dizer que temos de pensar as nossas reformas estruturais. Temos primeiro que tudo de reduzir o défice estrutural e, ao mesmo tempo, preservar a capacidade da França de crescer e criar empregos", disse ainda o ministro das Finanças francês.



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