Casas de luxo de 20 metros quadrados
vendidas com promessa de ganhos de 8%
Ana Sanlez 11.06.2018
/ 07:00
Têm pouco espaço mas rendem muito dinheiro. São casas vendidas para
Alojamento Local a 12 mil euros por metro quadrado
Já foi um modesto primeiro andar a contar vindo do chão. Tem
24 metros quadrados e fica, segundo a Remax, “no coração de uma cidade viva e
moderna, que soube acompanhar as tendências das grandes capitais europeias”.
Está à venda “para rentabilidade” por 285 mil euros. São quase 12 mil euros por
metro quadrado. Nos catálogos das imobiliárias não faltam anúncios como este.
Em Lisboa e no Porto, há centenas de casas com menos de 30 m2 à venda por 150,
200 ou até 300 mil euros. São compradas em poucos dias quase exclusivamente
para Alojamento Local, com a promessa de ganhos muito acima do que pagam os
bancos. “A rentabilidade comum ronda os 8% mas pode ser maior, depende da zona,
do plano de negócios e do preço da casa. No Chiado, por exemplo, pode chegar
aos 10% ou 15%”, explica Luís Figueiredo, agente da Remax. Em Lisboa, o preço
médio dos imóveis de gama alta já ronda os 10 mil euros por m2. Avenida da
Liberdade, Barata Salgueiro e Avenida da República são as zonas mais caras da
cidade, segundo a Confidencial Imobiliário. Para uma casa ultrapassar esses valores
“tem de ser muito especial”, afirma Patrícia Barão, diretora da área
Residencial da JLL. “Em maio vendemos uma casa no Chiado por 14 mil euros por
m2, mas era um imóvel com uma vista extraordinária sobre o Castelo e um pé
direito de 3,80 metros. A média da gama prime ronda os 8 mil euros, mas vai
sempre haver imóveis únicos com preços mais altos, e pessoas dispostas para os
comprar”. A responsável da JLL espera bater recordes de vendas este ano. E não
só com estrangeiros. “Cerca de metade dos T1 que vendemos para investimento são
para portugueses que estão a fugir de aplicações financeiras que hoje não dão
retorno”, revela. “Com a economia mais favorável e a banca a financiar as
famílias, o imobiliário está a ser usado como refúgio para investir. E o arrendamento
de curta duração hoje garante um retorno muito simpático, em torno dos 5% ou
6%”, sublinha Patrícia Barão. Na Castelhana a perceção é semelhante. Martim
Louro, diretor da imobiliária, até já fala de uma “profissionalização” deste
tipo de negócios. “Estes investimentos e serviços estão a ser terceirizados por
operadores turísticos especializados, que tratam dos assuntos operacionais em
troca de um rendimento garantido ou de uma percentagem gerada pela operação. Ou
seja, os imóveis são vendidos com gestão associada, e garantem um rendimento
fixo para o proprietário atualmente de 3% a 5% ao ano durante 3 ou 5 anos. São
muito procurados porque não têm risco associado. Além de que estes apartamentos
são geralmente vendidos completamente mobilados e decorados”, explica Martim
Louro ao DN/Dinheiro Vivo. E quem compra um, acaba muitas vezes por comprar
vários, revela também o responsável. Aqui, são os milhões dos vistos gold que
fazem a diferença. “Há pouco tempo preparámos um portfólio para um investidor brasileiro
que chegou com dois milhões de euros para comprar apartamentos para colocar em
Alojamento Local. Acabou por ficar com seis. Em vez de aplicarem o dinheiro em
fundos de investimento ou noutro produto qualquer, compram casas”, sublinha
Patrícia Barão. Na JLL, o mapa de compradores já não se limita a França e ao
Brasil. “Estamos a vender para mais de 50 nacionalidades por causa da forte
liquidez que se vive em alguns mercados. Ultimamente temos tido investidores da
Turquia, África do Sul e Estados Unidos”, destaca a responsável, que antevê,
apesar disso, uma “estabilização dos preços” nos próximos anos.
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