Advogada sacou milhões com burlas nos
vistos Gold
Chegou a deslocar-se à
China e África do Sul para angariar clientes. Recebia o dinheiro mas depois
fazia as escrituras das casas em seu nome
12 DE JUNHO DE 2018
21:58
David Mandim
Os cidadãos estrangeiros acreditavam que tinha à frente uma
advogada que iria resolver os seus problemas com a autorização de residência em
Portugal através dos Vistos Gold. Eram sobretudo brasileiros, sul-africanos e
chineses e confiavam a Maria Antónia Cameira verbas avultadas, na ordem dos
milhões, para assegurar a compra de moradias, no mínimo a valer 500 mil euros.
Mas a advogada, que se encontra em prisão preventiva desde julho do ano
passado, acabava por ficar com o dinheiro e está agora acusada pelo Ministério
Público de crimes de burla qualificada e falsificação de documentos. Além da
advogada, também o escritório que representava é arguido.
De acordo com a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa
(PGDL), a acusação indica que, pelo menos desde 2014, tendo em conta os
processos de vistos gold, a arguida "elaborou um plano, utilizando uma
sociedade de advogados, da qual era legal representante, que consistia em
promover os seus serviços jurídicos, bem como a aquisição de propriedades
imobiliárias, junto dos mesmos".
Mas o esquema ia mais além do que o mero serviço jurídico.
"Como parte do plano, obtidas as quantias monetárias referentes aos imóveis,
a arguida, ao invés de efetuar as correspondentes escrituras e compra e venda,
para as quais era mandatada, vinha a fazê-las suas, forjando informações do
SEF, cadernetas prediais e certidões permanentes dos imóveis, criando aos
investidores a convicção da aquisição dos mesmos e do regular andamento do
processo junto do SEF, por forma a não ser detetada", informa a PGDL, que
não adiantou valores. Mas na altura da detenção estavam referenciados cerca de
10 milhões de euros na burla.
A advogada chegou mesmo a ir à África do Sul e à China para
contactar potenciais clientes. "Para divulgação da sua suposta atividade
de intermediação na aquisição de propriedades e prestação de serviços jurídicos
na obtenção de vistos Gold, a arguida fazia publicidade na Internet, efetuava
acordos de cooperação com agências e angariadores imobiliários e deslocava-se a
diversos países onde contactava com possíveis clientes, nomeadamente, na África
do Sul e China".
O inquérito foi dirigido pelo MP na 8ª secção do DIAP de
Lisboa, com a coadjuvação da PJ, e se os arguidos não requererem a instrução
irá em breve para julgamento.
Condenada em Inglaterra
Esta advogada já foi condenada em Inglaterra a seis anos de
prisão, por se ter apropriado de forma indevida de 312 mil euros de um cliente
de escritórios de advocacia que dirigia em Londres. O dinheiro serviu, segundo
o tribunal britânico, para pagar despesas e financiar a vida luxuosa da
portuguesa. Foi julgada à revelia em 2012 tendo fugido para Lisboa antes da
condenação.
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