Pura Propaganda Institucional ... Sim, rede de eléctricos,
mas para quem ? Para os habitantes Locais ou para os Turistas !? Todas as carreiras
de eléctricos foram transformadas exclusivamente em Atracções Turísticas, onde
nenhum habitante local, já consegue entrar. O eléctrico 24 na mesma ... Ler o
artigo de Fernando Sobral em baixo.
OVOODOCORVO
"Foi um grande erro destruir a
rede de elétricos em Lisboa"
Fernando Medina e o vereador Sá Fernandes com a comitiva da
câmara que esteve na Holanda para a eleição da Capital Verde Europeia | LUÍS
CATARINO / CML
O eléctrico 24 e a triste Lisboa
O 24 não vai resolver nenhum problema de mobilidade dos cidadãos:
pelo contrário transtorna e dificulta o percurso do autocarro 58, que liga
partes extremas de Lisboa. A política é clara: é bom para os turistas!
Fernando Sobral
Fernando Sobral | fsobral@negocios.pt
03 de maio de 2018 às 22:55
Com elevada pompa e muita circunstância foi inaugurada a
circulação do eléctrico 24 que liga o Largo Camões a Campolide. Passados uns
dias fizemos a experiência, o que no início parecia ser gratificante. Íamos
meia dúzia de passageiros e nenhum turista. Até que o eléctrico, na terrífica
Rua da Escola Politécnica, parou. Um carro mal estacionado impedia o progresso.
Fomos avisados de que a paragem não prevista era agora um hábito porque o 24
encontrava sempre pelo caminho carros mal estacionados. Não demoraria muito,
porque já a prever isso a Polícia Municipal e um carro de reboque estavam
estacionados no Príncipe Real e rapidamente a situação seria desbloqueada. Pior
ficou o autocarro 58, que seguia atrás, e que não o podia ultrapassar, cheio de
pessoas, e que teve de parar durante todo aquele tempo. Percebi depois que o que
acontecera naquele momento era um hábito, o que estava a tornar a já complicada
Escola Politécnica uma rua impossível de circular para os transportes públicos.
Ou seja, o 24, criado para atrair turistas, é mais um exemplo de como em Lisboa
a Câmara Municipal e a intervencionada Carris não pensam no trânsito dos
moradores e dos que utilizam os transportes públicos para circular na cidade.
Sonham apenas com o postal ilustrado para os turistas. O 24 não vai resolver
nenhum problema de mobilidade dos cidadãos: pelo contrário transtorna e
dificulta o percurso do autocarro 58, que liga partes extremas de Lisboa. A
política é clara: é bom para os turistas! Quanto aos cidadãos que pagam
impostos e passes sociais, que se lixem! Ainda antes desta euforia turística,
já a Carris, dentro do seu espírito ao serviço da mobilidade urbana, tinha
encerrado a actividade do autocarro 100 que ligava duas colinas lisboetas. Uma
carreira como essa, fundamental, não é reactivada. O 24, para uso turístico, é
que é uma prioridade.
Nada que surpreenda dentro da política de transformação de
Lisboa num mero postal ilustrado turístico. A própria decisão do Governo de
"limitar" as "rendas acessíveis" de um T2 a 1.050 euros em
Lisboa e de um quarto a 360 euros vai apenas servir para inflacionar ainda mais
os preços na capital. Está claro: nem a CML nem o Governo querem portugueses de
classe média (já nem se fala dos outros de menores possibilidades) na zona
central de Lisboa. Que vão morar para a margem sul ou para Vila Franca de Xira.
Sabemos que as cidades voltaram a ser redutos de quem tem posses e locais
privilegiados para turistas. Mas é assim que se assassina a vida própria de uma
cidade, a sua memória e a capacidade de atrair as pessoas criativas que as
tornam locais diferentes. Um dia destes morarão em Lisboa franceses e
brasileiros ricos e alguma classe alta portuguesa. Quando se quiserem fazer as
marchas populares alguém contratará figurantes a agências de modelos. Até para
dar de Lisboa a ideia de uma cidade jovem, bonita e "cool". É essa a
herança que a CML de Fernando Medina e Manuel Salgado estão a legar ao futuro:
uma Lisboa sem alfacinhas. Sem vida própria, sem memória, onde é impossível
circular. Lisboa está cada vez mais triste.
Sem comentários:
Enviar um comentário