domingo, 3 de junho de 2018

"Lóbis das imobiliárias estão a varrer as pessoas do Porto e das cidades vizinhas"



"Lóbis das imobiliárias estão a varrer as pessoas do Porto e das cidades vizinhas"

Marcelo Rebelo de Sousa foi confrontado com uma manifestação, no Porto

Foto: Leonel de Castro/Global Imagens

01 Junho 2018 às 22:25

Os despejos e a especulação imobiliária no Porto estão a "descaracterizar e esvaziar" a cidade, sendo urgente que o Governo faça cumprir o direito constitucional à habitação, argumenta o movimento Direito à Cidade.

Numa iniciativa pública de rua, intitulada de "Microfone Aberto" e cujo o objetivo era ouvir os moradores, em Cedofeita, no Porto, o movimento, que já realizou uma manifestação a 7 de abril, exigiu medidas efetivas contra a "escalada louca" dos preços das rendas para combater a especulação imobiliária, um forte investimento na habitação pública, a limitação gradual da proliferação do alojamento local e a suspensão de novas licenças para empreendimentos hoteleiros.

Uma das impulsionadoras, Nicole Santos, vincou que hoje é "extremamente difícil" para um jovem conseguir arrendar uma casa no Porto porque um T1 custa entre 600 a 650 euros, o que é incomportável para quem tem um salário mínimo de 580 euros e um salário médio de 630.

"Assim, ninguém consegue. Esta situação afeta transversalmente toda a população, desde jovens, famílias e idosos", referiu.

Nicole Santos enalteceu as alterações que foram feitas à lei dos despejos, contudo considerou não serem suficientes para resolver o problema.

"Não existe vontade política e coragem para quebrar os lóbis das imobiliárias, as populações estão a ser varridas do Porto e dos concelhos vizinhos, por isso, quem tem responsabilidades no Governo e na câmara deve tomar uma posição", entendeu.

Atualmente, a cidade está vazia, não tem habitantes no centro, está descaracterizada e a ser direcionada única e exclusivamente para o turismo, lembrando haver grupos internacionais e nacionais e investir em ruas inteiras, frisou.

Nicole Santos vincou não ter nada contra o turismo, dado até ser o seu setor profissional, mas adiantou que este deve ser equilibrado, regulamentado e limitado.

Para tentar inverter a situação, o movimento Direito à Cidade enviou um manifesto a todos os grupos parlamentares da Assembleia da República, à Presidência da República e à Câmara Municipal do Porto, tendo até agora obtido como única resposta um e-mail de receção do documento.

"Há uns anos, a nossa cidade entrou num processo de descaracterização. Os nossos cafés, tascos, quiosques e alfarrabistas desapareceram para dar lugar a lojas de "souvenirs" e restaurantes gourmet. Há hotéis e hostels em todas as ruas, esquinas e becos, em detrimento de habitação permanente", lê-se no manifesto.

O documento realça que não importa que o Porto seja "Best European Destination" todos os anos, se quem cá está continua a ganhar um salário mínimo "de miséria" que não chega para pagar a renda.

A forma como a cidade está a ser desenhada implica o desprezo pelos seus moradores, sendo hora de reivindicar o direito à cidade, afiançou o movimento, acrescentando que o Porto não é uma montra.

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