"Lóbis das imobiliárias estão a
varrer as pessoas do Porto e das cidades vizinhas"
Marcelo Rebelo de Sousa foi confrontado com uma
manifestação, no Porto
Foto: Leonel de Castro/Global Imagens
01 Junho 2018 às 22:25
Os despejos e a especulação imobiliária no Porto estão a
"descaracterizar e esvaziar" a cidade, sendo urgente que o Governo
faça cumprir o direito constitucional à habitação, argumenta o movimento
Direito à Cidade.
Numa iniciativa pública de rua, intitulada de
"Microfone Aberto" e cujo o objetivo era ouvir os moradores, em
Cedofeita, no Porto, o movimento, que já realizou uma manifestação a 7 de
abril, exigiu medidas efetivas contra a "escalada louca" dos preços
das rendas para combater a especulação imobiliária, um forte investimento na
habitação pública, a limitação gradual da proliferação do alojamento local e a
suspensão de novas licenças para empreendimentos hoteleiros.
Uma das impulsionadoras, Nicole Santos, vincou que hoje é
"extremamente difícil" para um jovem conseguir arrendar uma casa no
Porto porque um T1 custa entre 600 a 650 euros, o que é incomportável para quem
tem um salário mínimo de 580 euros e um salário médio de 630.
"Assim, ninguém consegue. Esta situação afeta
transversalmente toda a população, desde jovens, famílias e idosos",
referiu.
Nicole Santos enalteceu as alterações que foram feitas à lei
dos despejos, contudo considerou não serem suficientes para resolver o
problema.
"Não existe vontade política e coragem para quebrar os
lóbis das imobiliárias, as populações estão a ser varridas do Porto e dos
concelhos vizinhos, por isso, quem tem responsabilidades no Governo e na câmara
deve tomar uma posição", entendeu.
Atualmente, a cidade está vazia, não tem habitantes no
centro, está descaracterizada e a ser direcionada única e exclusivamente para o
turismo, lembrando haver grupos internacionais e nacionais e investir em ruas
inteiras, frisou.
Nicole Santos vincou não ter nada contra o turismo, dado até
ser o seu setor profissional, mas adiantou que este deve ser equilibrado,
regulamentado e limitado.
Para tentar inverter a situação, o movimento Direito à
Cidade enviou um manifesto a todos os grupos parlamentares da Assembleia da
República, à Presidência da República e à Câmara Municipal do Porto, tendo até
agora obtido como única resposta um e-mail de receção do documento.
"Há uns anos, a nossa cidade entrou num processo de
descaracterização. Os nossos cafés, tascos, quiosques e alfarrabistas
desapareceram para dar lugar a lojas de "souvenirs" e restaurantes
gourmet. Há hotéis e hostels em todas as ruas, esquinas e becos, em detrimento
de habitação permanente", lê-se no manifesto.
O documento realça que não importa que o Porto seja
"Best European Destination" todos os anos, se quem cá está continua a
ganhar um salário mínimo "de miséria" que não chega para pagar a
renda.
A forma como a cidade está a ser desenhada implica o
desprezo pelos seus moradores, sendo hora de reivindicar o direito à cidade,
afiançou o movimento, acrescentando que o Porto não é uma montra.
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