segunda-feira, 4 de junho de 2018

Vestígios de Lisboa ...



(…) O que enxergo, com o olhar de visitante, é uma cidade exposta a um turismo massivo, como se cada detalhe da Baixa pudesse transformar-se num souvenir sem lembranças. Sem querer, o significado de “montras” (vitrine) revela-se nessa experiência: a imagem de uma cidade-vitrine, que se vende a si mesma como um artigo chinês de fabricação duvidosa. Por alguns instantes, detesto Lisboa.
Sinto vergonha ao descobrir-me na condição de turista, tão distante da cidade imaginária desenhada na minha infância. Meu sonho voa rapidamente do bolso da camisa como um papel de bala pelas pedras portuguesas do Rossio. Resta apelar ao google maps e enquadrar-me como mais um dos turistas-rinoceronte: cabeça baixa, guiado pelos smartphones e pelas “montras”.
Meu senhorio está a postos. Com orgulho, detalha a façanha de ter quatro imóveis alugados em nome dele para sublocar aos turistas. Aponta para o espaço e diz excitado: só este quarto, na alta temporada, paga boa parte dos custos de todos os imóveis. Falastrão, despeja uma série de problemas com seus inquilinos: italianos, franceses, espanhóis. Gente que aluga e deseja antecipar a saída ou que reclama do barulho da Baixa. Ele sente orgulho desses problemas, como um executivo de grandes negócios. Olho para aquela cama de rentabilidade máxima, num apartamento de estilo pombalino com uma sacada.(…)


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