(…) O que enxergo, com o olhar de visitante, é uma cidade
exposta a um turismo massivo, como se cada detalhe da Baixa pudesse
transformar-se num souvenir sem lembranças. Sem querer, o significado de
“montras” (vitrine) revela-se nessa experiência: a imagem de uma
cidade-vitrine, que se vende a si mesma como um artigo chinês de fabricação
duvidosa. Por alguns instantes, detesto Lisboa.
Sinto vergonha ao descobrir-me na condição de turista, tão
distante da cidade imaginária desenhada na minha infância. Meu sonho voa
rapidamente do bolso da camisa como um papel de bala pelas pedras portuguesas
do Rossio. Resta apelar ao google maps e enquadrar-me como mais um dos
turistas-rinoceronte: cabeça baixa, guiado pelos smartphones e pelas “montras”.
Meu senhorio está a postos. Com orgulho, detalha a façanha
de ter quatro imóveis alugados em nome dele para sublocar aos turistas. Aponta
para o espaço e diz excitado: só este quarto, na alta temporada, paga boa parte
dos custos de todos os imóveis. Falastrão, despeja uma série de problemas com
seus inquilinos: italianos, franceses, espanhóis. Gente que aluga e deseja
antecipar a saída ou que reclama do barulho da Baixa. Ele sente orgulho desses
problemas, como um executivo de grandes negócios. Olho para aquela cama de
rentabilidade máxima, num apartamento de estilo pombalino com uma sacada.(…)
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