sábado, 23 de junho de 2018

Moda dos cubículos a 800 euros chega ao bairro de Alcântara



Moda dos cubículos a 800 euros chega ao bairro de Alcântara

Leonor Paiva Watson
20 Junho 2018 às 16:00
Moda dos cubículos a 800 euros chega ao bairro de Alcântara

Aumento de rendas e ameaças de despejos fazem disparar queixas na junta de freguesia Presidente Davide Amado diz que urge regular o Alojamento Local e aprovar Lei de Bases.

Os moradores de Alcântara enfrentam um aumento de rendas colossal e uma crescente ameaça de despejos. As queixas "no atendimento das assistentes sociais e no apoio jurídico da junta de freguesia crescem de dia para dia", avança o presidente Davide Amado. Maria Bernardo, por exemplo, 28 anos, recém-casada e chegada da Escócia, paga por um T1 806 euros, ou seja, "o mesmo que pagava no Reino Unido, ganhando metade" e está a pensar em "voltar a sair do país".

O bairro de Alcântara é um dos mais emblemáticos da cidade mas foi escapando até agora à especulação, isto é, à onda de ferozes aumentos de rendas e despejos que estão a verificar-se em outros pontos da cidade, como, por exemplo, na Madragoa ou Alfama. A situação mudou e o que aconteceu naqueles bairros "está a começar a ter aqui bastante força", garante Davide Amado, acrescentando que "são cada vez mais as pessoas na casa dos 50 e 60 anos que, de repente, se vêm a braços com uma renda que não podem pagar".

Porta sim, porta sim, os relatos corroboram o que diz o presidente e "a causa está no Alojamento Local", diz o proprietário de uma desses espaços, Carlos Moura. A explicação é simples: "Eu alugo um dos meus apartamentos por 65 euros por noite. Faça as contas e veja quanto é ao fim do mês. Além disso, quem vem não estraga a casa, porque é só para dormir, passando os dias na rua", resume. Cada vez mais se adere e basta olhar para a rua que leva até ao portão da LX Factory (um ex-complexo industrial com lojas artísticas) para perceber que há prédios quase inteiramente dedicados ao Alojamento Local.

Oitocentos euros por um T1

Quem não pode investir, aumenta exponencialmente as rendas aos inquilinos. Maria e o marido pagam por um T1, numa espécie de pátio, 806 euros. A casa está arranjada, mas é muito pequena, ainda assim, melhor do que em Alfama, onde estiveram a viver três meses quando chegaram da Escócia. "Nessa de Alfama pagávamos 700 por um T1 a cair de podre".

Maria diz que só é possível comportar a renda atual porque não está sozinha e porque o marido "trabalha para uma empresa estrangeira". Ainda assim, vão "voltar a sair do país".

Para Cármen Almeida, moradora naquele bairro há 50 anos, "parece que nunca saímos da crise". Ao JN conta que a casa onde mora é mesmo sua, mas que "à volta há muita gente que viveu a vida toda no bairro e agora aos 60 começa a ter de pensar onde vai morar".

"Está tudo louco", sumariza Domingos Pereira, proprietário da Tasca Golfinho. O espaço onde serve cafés e copos "15 horas por dia" não é seu e também já teve "um aumento de renda de 150 para 500 euros". Refere-o, mas não se queixa, prefere falar da vizinha de 80 anos, cujo prédio foi vendido, e "está apavorada por não saber para onde vai".

"Nem os mais pobres nem a classe média têm acesso a casa. Urge regular o Alojamento Local e aprovar a Lei de Bases da Habitação", conclui Davide Amado.

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