Moda dos cubículos a 800 euros chega
ao bairro de Alcântara
Leonor Paiva Watson
20 Junho 2018 às 16:00
Moda dos cubículos a 800 euros chega ao bairro de Alcântara
Aumento de rendas e ameaças de despejos fazem disparar
queixas na junta de freguesia Presidente Davide Amado diz que urge regular o
Alojamento Local e aprovar Lei de Bases.
Os moradores de Alcântara enfrentam um aumento de rendas
colossal e uma crescente ameaça de despejos. As queixas "no atendimento
das assistentes sociais e no apoio jurídico da junta de freguesia crescem de
dia para dia", avança o presidente Davide Amado. Maria Bernardo, por
exemplo, 28 anos, recém-casada e chegada da Escócia, paga por um T1 806 euros,
ou seja, "o mesmo que pagava no Reino Unido, ganhando metade" e está
a pensar em "voltar a sair do país".
O bairro de Alcântara é um dos mais emblemáticos da cidade
mas foi escapando até agora à especulação, isto é, à onda de ferozes aumentos
de rendas e despejos que estão a verificar-se em outros pontos da cidade, como,
por exemplo, na Madragoa ou Alfama. A situação mudou e o que aconteceu naqueles
bairros "está a começar a ter aqui bastante força", garante Davide
Amado, acrescentando que "são cada vez mais as pessoas na casa dos 50 e 60
anos que, de repente, se vêm a braços com uma renda que não podem pagar".
Porta sim, porta sim, os relatos corroboram o que diz o
presidente e "a causa está no Alojamento Local", diz o proprietário
de uma desses espaços, Carlos Moura. A explicação é simples: "Eu alugo um
dos meus apartamentos por 65 euros por noite. Faça as contas e veja quanto é ao
fim do mês. Além disso, quem vem não estraga a casa, porque é só para dormir,
passando os dias na rua", resume. Cada vez mais se adere e basta olhar
para a rua que leva até ao portão da LX Factory (um ex-complexo industrial com
lojas artísticas) para perceber que há prédios quase inteiramente dedicados ao
Alojamento Local.
Oitocentos euros por um T1
Quem não pode investir, aumenta exponencialmente as rendas
aos inquilinos. Maria e o marido pagam por um T1, numa espécie de pátio, 806
euros. A casa está arranjada, mas é muito pequena, ainda assim, melhor do que
em Alfama, onde estiveram a viver três meses quando chegaram da Escócia.
"Nessa de Alfama pagávamos 700 por um T1 a cair de podre".
Maria diz que só é possível comportar a renda atual porque
não está sozinha e porque o marido "trabalha para uma empresa
estrangeira". Ainda assim, vão "voltar a sair do país".
Para Cármen Almeida, moradora naquele bairro há 50 anos,
"parece que nunca saímos da crise". Ao JN conta que a casa onde mora
é mesmo sua, mas que "à volta há muita gente que viveu a vida toda no
bairro e agora aos 60 começa a ter de pensar onde vai morar".
"Está tudo louco", sumariza Domingos Pereira,
proprietário da Tasca Golfinho. O espaço onde serve cafés e copos "15
horas por dia" não é seu e também já teve "um aumento de renda de 150
para 500 euros". Refere-o, mas não se queixa, prefere falar da vizinha de
80 anos, cujo prédio foi vendido, e "está apavorada por não saber para
onde vai".
"Nem os mais pobres nem a classe média têm acesso a
casa. Urge regular o Alojamento Local e aprovar a Lei de Bases da
Habitação", conclui Davide Amado.
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