(…) “Até porque, se por um lado as pessoas viajam cada vez
mais, há também cada vez mais cidades a colocar um travão na entrada de
estrangeiros. A verdade é que em algumas cidades europeias já está aberta a
caça ao turista. Há quem avance mesmo que o turismo de massas está a caminho de
uma verdadeira explosão social. Assistimos a cada vez mais manifestações, há
queixas por causa do aumento das rendas e dos custos de vida. Os velhos
habitantes falam de uma invasão e os governos tentam fazer face ao crescimento do
número de turistas.”
Lisboa, que nunca teve tantos hotéis, espera mais 25
SOFIA MARTINS SANTOS
08/04/2018 19:03
O número de hóteis na capital portugesa quase duplicou no
espaço de uma década.
De acordo com a Associação Turismo de Lisboa (ATL), em 2008,
a capital contava com 105 unidades hoteleiras. Em 2017, tinha já 204. O maior
aumento aconteceu entre 2014 e 2015, altura em que abriram 23 novos hóteis.
De acordo com a ATL, para este ano, ao todo, Portugal espera
pela abertura de mais 61 hotéis, 25 dos quais em Lisboa.
Em entrevista, Vítor Costa, diretor-geral da ATL, explica
que "o mais importante não é discutir se há a mais ou a menos, mas como é
que podemos gerir e continuarmos a desenvolver o turismo positivamente".
Recorde-se que a questão do crescimento do setor tem
levantado várias questões. Em alguns países nascem até movimentos para travar o
aumento de turistas.
Fobia ao turismo alastra na Europa
Há taxas, limitações ao número de visitantes que podem
entrar por dia nas cidades e até proibições em plataformas de alojamento ou
licenças de construção para novos hóteis.
Os números chegam das mais variadas fontes e não deixam
margem para enganos: o turismo continua a crescer em Portugal e é já um dos
maiores suportes da economia nacional. A verdade é que o país nunca recebeu
tantos turistas como agora e isso tem contribuído para um aumento das receitas
na hotelaria e nas companhias aéreas. O ano de 2016 acabou por ficar na
história nacional como o melhor ano de sempre no setor. Todos aplaudiram. No
ano passado, a tendência manteve-se e muitos são os empresários que acreditam
que o turismo vai continuar a atingir recordes atrás de recordes. Mas é exatamente
no meio de todo este cenário de crescimento que se começam a levantar algumas
vozes que chamam a atenção para a necessidade de ser estabelecido um plano de
crescimento mais sustentável.
A discussão em torno deste assunto ganha cada vez mais
relevância e é suportada pelo facto de a ONU ter declarado o ano de 2017 o Ano
Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento. Mas em que
consiste afinal este ponto na agenda internacional? A ideia é alertar para a
necessidade de todos reconhecerem "a importância do turismo internacional
e, em particular, a designação de um ano internacional de turismo sustentável
para o desenvolvimento, para promover uma melhor compreensão entre os povos em
todo o mundo, levando a uma maior consciencialização sobre o rico património
das diversas civilizações".
Até porque, se por um lado as pessoas viajam cada vez mais,
há também cada vez mais cidades a colocar um travão na entrada de estrangeiros.
A verdade é que em algumas cidades europeias já está aberta a caça ao turista.
Há quem avance mesmo que o turismo de massas está a caminho de uma verdadeira
explosão social. Assistimos a cada vez mais manifestações, há queixas por causa
do aumento das rendas e dos custos de vida. Os velhos habitantes falam de uma
invasão e os governos tentam fazer face ao crescimento do número de turistas.
O que não faltam são exemplos de medidas criadas por vários
países e a promessa é que os casos se comecem a multiplicar.
Barcelona quer porta fechada
Há quem se queixe de ter deixado de andar nas ramblas para
evitar as centenas de turistas que lá passam todos os dias. E quem pensa que
para os comerciantes as notícias são apenas boas, desengane-se. A maioria
assegura que são mais os que apenas passeiam e tiram fotografias do que os que
compram alguma coisa.
Uma forma de proteger mais a cidade do turismo de massas
passa por aplicar taxas. "Se não queremos acabar como Veneza, temos de
impor limites", explicou Alda Colau, a presidente da câmara local, quando
tomou posse. Uma das primeiras medidas foi criar uma proibição de novas
licenças para a construção de hotéis.
O movimento contra os turistas na cidade já chegou mesmo a
furar os pneus de bicicletas dos
turistas e tornou-se frequente ver frases como "voltem para casa" nas
mais variadas ruas da cidade.
Entretanto, outras regiões espanholas já colocaram também a
turismofobia no vocabulário. Em Palma de Maiorca, por exemplo, os protestos
também marcam o ano de 2017.
Exemplos multiplicam-se
Em Londres, Inglaterra, uma das medidas aplicadas para
controlar o número de turistas que procuram a cidade foi criar um limite de
alugueres em plataformas como o Airbnb. Já em Milão, onde para já as medidas
ainda são tímidas, foi proibida a selfie sticks e garrafas de plástico em
algumas das principais áreas da cidade.
Também em Berlim têm estado a ser pensados caminhos para regular
a entrada de turistas estrangeiros. Com ou sem controlo nas plataformas, os
movimentos contra o turismo de massas ganham cada vez mais espaço numa velha
Europa, que recusa receber tanto sangue novo. Na Croácia, em Dubrovnik,
discutia-se, em setembro do ano passado, a possibilidade de limitar a entrada
de cruzeiros. A cidade, que foi placo de gravações da famosa série Game of
Thrones, assistiu a um aumento da procura sem precedentes.
Também em Roma já foram tomadas várias medidas. Os problemas
com turistas obrigou a cidade a destacar alguns seguranças para zelarem pelas
fontes da cidade. Além do limite de visitantes que podem aceder a alguns locais
emblemáticos, existem multas de 240 euros para quem entrar ou se sentar em
redor das fontes.
A estas regiões junta-se ainda Santorini. Com a entrada de
cerca de 10 mil pessoas por dia, principalmente por causa dos cruzeiros, a ilha
estipulou um máximo de pessoas que podem entrar por dia.
Veneza é um outro exemplo. Falamos de uma região que tem
cerca de 50 mil habitantes, mas recebe diariamente mais de 60 mil. Contas
feitas é o suficientes para que os habitantes locais reclamem que sejam tomadas
medidas.
Mais exemplos existem um pouco por todo o lado. Por exemplo,
à semelhança de outros países europeus, também a Áustria cobra taxas aos
turistas, mas à saída. Neste caso, o dinheiro angariado reverte para medidas
ligadas ao ambiente. Assim, quem sair do país paga oito euros, se a viagem for
dentro da Europa, ou 40 euros para o resto do mundo.
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