(…) "A história demonstra que cada vez que existe um
período de maior euforia vai também existir um momento em que isto vai
mudar",
( …) "Há imobiliárias que estão a especializar-se
apenas em clientes estrangeiros e eu diria que são mercenários, porque no dia
em que a agulha virar..."
“Greed is not a financial issue. It's a heart issue.” Andy
Stanley
OVOODOCORVO
Casas a preços de Paris já afastam estrangeiros de Lisboa
Trunfos da capital já não chegam para compensar subida de
preços. Ritmo de venda está mais lento, dizem profissionais
7 DE ABRIL DE 2018
Ana Margarida Pinheiro
Comprar casa em Portugal está cada vez mais caro e a
escalada dos preços já nem sequer passa ao lado dos estrangeiros. A procura é
ainda elevada, mas os investidores começam a pensar duas vezes antes de fazer
as malas e rumar a Portugal. "Temos tido casos de clientes estrangeiros
que depois de uma semana de visitas dizem: lamento mas, neste momento, em
Portugal, já não vamos investir", conta ao DN/Dinheiro Vivo Miguel Tilli,
fundador da Home Lovers, a imobiliária que nasceu no Facebook e,
orgulhosamente, não tem nem planeia abrir lojas físicas.
No ano passado, uma em cada cinco casas vendidas em Portugal
foi parar a mãos estrangeiras. Brasileiros, mas sobretudo franceses, foram os
que mais procuraram Portugal para viver. Têm chegado atraídos pelo sol e,
sobretudo, pela segurança, e encontravam no preço dos imóveis um trunfo que
convencia a ficar. Agora, o preço deixou de ser argumento, até porque já se equipara
em algumas zonas de Lisboa e do Porto aos das grandes capitais europeias
conhecidas pelas casas a preço de luxo.
"Muito recentemente um cliente disse-me que já não
queria investir em Lisboa e que ia antes comprar casa em Paris",
acrescenta Tilli, assumindo que "temos zonas de Lisboa que começam a ser
equiparadas aos 11 mil, 12 mil euros por metro quadrado das zonas mais chiques
de Paris, onde o preço médio no primeiro trimestre se fixou nos 10 500 euros.
Estamos a atingir valores que nunca pensámos há ano e meio", confessa.
E as casas começam também a demorar mais tempo a vender.
Nuno Gomes, da Remax Prestige, admite que a subida dos preços já se está a
refletir no tempo que os imóveis demoram a sair. "Já tivemos captações de
dois dias, mas atualmente já são precisos um a dois meses", refere,
admitindo algum arrefecimento da procura depois de uma saciação imediata de
"quem tinha dinheiro para investir e não encontrava nos investimentos
financeiros a solução ideal".
Ainda assim, os tempos para venda de um imóvel mantêm-se
longe dos registados no pico da crise. Com a reabilitação de imóveis em alta, o
tempo médio de venda de um imóvel foi, no ano passado, de seis meses, enquanto
em 2014 era preciso o dobro do tempo.
Miguel Tilli rejeita a existência de uma bolha imobiliária,
mas lembra que a escassez da oferta e contínua escalada de preços possa trazer
a temida crise "dentro de um ano e meio". Porquê? "Quem comprar
agora e não fizer os seus cálculos com a devida precaução poderá daqui a um ou
dois anos ter problemas."
A APEMIP, associação que representa os profissionais da
mediação imobiliária, estima que o mercado possa continuar a crescer durante os
próximos dois anos. Mas Luís Lima, o presidente, entende que o ritmo de
crescimento das vendas terá de abrandar - no ano passado o número de vendas
cresceu mais de 20%; neste ano a meta está fixada nos 30% - para que a
sustentabilidade do mercado não seja ameaçada.
"A história demonstra que cada vez que existe um
período de maior euforia vai também existir um momento em que isto vai
mudar", lembra, por sua vez, Eduardo Garcia Costa, diretor-geral da KW
Portugal, que no ano passado viu duplicar o número de casas vendidas, obtendo
1200 milhões de euros em transações. "Sabemos que os mercados são cíclicos
e as competências que se têm de passar aos colaboradores e clientes
proprietários vão depender desta fase."
Afasta, ainda assim, um travão completo no mercado. "A
procura nunca desaparece. Estamos num país onde o crédito à habitação
praticamente desapareceu e ainda assim não deixaram de se fazer transações
imobiliárias", recorda. E agora o crédito até tem estado a crescer à
boleia das taxas de juro historicamente baixas e da guerra de spreads entre os
bancos.
Miguel Tilli estima que neste ano a procura se mantenha em
níveis idênticos aos do ano passado, apesar de "uma forte aposta em
motores de busca internacionais" para aproveitar o recente interesse no
país. Na Home Lovers, as vendas a não residentes valem 30%. Mas os portugueses
são a aposta segura. "Há imobiliárias que estão a especializar-se apenas
em clientes estrangeiros e eu diria que são mercenários, porque no dia em que a
agulha virar..."
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