quarta-feira, 26 de abril de 2017

Portugal é a nova Miami para os brasileiros ricos

Os Portugueses pobres ou jovens diplomados partem porque são obrigados pelas circunstâncias ...
Os Brasileiros ricos chegam ...
OVOODOCORVO

O que ninguém te conta sobre morar em Lisboa
by Flavia Motta

Lisboa está na moda, e não só entre os turistas. Nos últimos dois anos, tem crescido bastante o número de brasileiros que, decidindo trocar o Brasil por outro país, vêm morar em Portugal, muitos aportando em Lisboa. E a cidade é mesmo incrível: solar, cosmopolita, rica em história e vida cultural, cheia de energia. Com tudo isso, não faltam revistas, jornais, blogs e canais de YouTube vendendo o sonho dourado de morar em Lisboa. Mas sejamos honestos: morar em Lisboa pode ser tão delicioso quanto complicado. E é para trazer algumas verdades sobre morar em Lisboa que escrevemos esses post.

Cinco hábitos que eu mudei quando vim morar em Lisboa

Morar em Lisboa, no Centro, não é barato

Lisboa já foi um lugar bem barato de se morar, mas a especulação imobiliária crescente e a turistificação de algumas regiões têm impactado diretamente os valores dos aluguéis. Se já foi possível encontrar quarto-e-sala no charmoso Príncipe Real por 400 euros, hoje em dia esse valor não paga nem o aluguel de um quarto numa casa compartilhada na região. Há bairros em que simplesmente não há oferta de imóveis para aluguel residencial, apenas turístico.

Além disso, os imigrantes ainda têm outros empecilhos com relação a aluguel: sem fiador e/ou comprovação de renda, acabam tendo que se sujeitar a preços mais altos, adiantamento de aluguéis e ainda à boa vontade dos senhorios, porque há quem não alugue sua casa para brasileiros.

Recentemente uma amiga brasileira se viu obrigada a desembolsar 6 mil euros de uma só vez para garantir o aluguel do apartamento que queria. Uma outra viu um anúncio publicado às 9h, ligou às 9h30, às 13h estava visitando o apartamento com mais seis casais e ali na hora mesmo precisou fazer sua proposta de aluguel. Quer mais histórias assustadoras sobre alugar em Lisboa? Tem proponente indo visitar imóveis com o dinheiro na mão para já fazer proposta com um pagamento adiantado; tem senhorio que faz leilão e aluga para quem oferece mais; tem gente que só aluga sem contrato registrado, o que deixa o inquilino numa situação não muito estável.

Seis respostas para perguntas sobre morar em Portugal

É claro que se pode morar nos arredores de Lisboa, bairros mais afastados do Centro ou cidades vizinhas. O bom disso é que os valores de aluguéis são mais baixos. O ruim é que os transportes para fora do Centro são menos eficientes, com menor frequência, funcionando em horários reduzidos e, dependendo da zona, o passe mensal fica mais caro, podendo chegar aos 89 euros mensais.

Se sua ideia é ter um carro, prepare-se para o trânsito de Lisboa (mais chatinho no Centro), para a caça às vagas, e para fazer uma nova carteira de motorista, que pode custar entre 60 e 300 euros, dependendo do seu caso. É que, pela lei, brasileiros só podem usar a habilitação brasileira em território português nos seis primeiros meses da estadia.

Regularizar sua situação de imigrante está cada vez mais complicado

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) simplesmente não está dando conta do volume de estrangeiros tentando se regularizar no país. O resultado disso é que várias pessoas que estão em condições de ficar legalmente acabam ficando irregulares por um período devido à morosidade dos processos de regularização.



Faltam funcionários no SEF e faltam horários de atendimento. Não raro uma pessoa faz seu agendamento, comparece ao SEF, não é atendido e, ao fim do expediente do SEF, recebe uma remarcação, muitas vezes para um mês depois. Isso sem contar o desencontro de informações, fazendo com que o imigrante muitas vezes tenha seu processo prolongado porque os funcionários do SEF deram orientações incorretas.

Há centenas de brasileiros (e outros imigrantes, claro) neste momento em Lisboa em situação irregular esperando a conclusão dos seus processos de regularização e com a vida em suspenso, sem poder tirar documentos, trabalhar, abrir conta em banco ou tratar de outras questões essenciais.

Estudar em Portugal: mitos e verdades

A oferta de emprego é muito restrita

Uma das características da nova onda de migração de brasileiros para Portugal é que eles são mais qualificados do que os que vinham em outras épocas. O que as muitas reportagens sobre o tema não contam é que não há emprego à altura dessa qualificação. Não há muitas vagas de trabalho, e boa parte delas é em serviços, como teleatendimento, restaurantes, bares e comércios. Some-se a isso a grande quantidade de trabalho precário oferecida, com baixos salários, contratos temporários, em empresas terceirizadas (aqui conhecidas como outsourcing) ou por recibos verdes (recibos emitidos por pessoa física ao contratante). E, claro, ainda há criminosos que oferecem empregos inexistentes e cobram taxas para que o funcionário comece a trabalhar e também empresas de fachada para negócios bem mais escusos.



Ainda pesa contra nós o fato de sermos estrangeiros disputando vagas com os locais e nossa formação educacional. Muitas profissões só podem ser exercidas depois da validação do diploma, outras exigem conhecimento da cultura local para serem bem executadas. Isso sem falar que em Lisboa, quase todo mundo fala inglês (quando não fala ainda uma terceira língua) e isso nem é um diferencial no seu currículo, mas um item básico.

Mitos e verdades sobre os portugueses (parte 1)

De volta à questão salarial: o salário mínimo em Portugal, de 557 euros brutos, é um dos menores da Europa. Ainda que vagas um pouco mais qualificadas ofereçam salários um pouco melhores, a média não costuma ir muito além dos 800 euros mensais. Quando a empresa oferece benefícios, normalmente é subsídio de alimentação e, às vezes, plano de saúde. O lado bom, se você tiver um contrato formal de trabalho, é que em Portugal pagam-se 14 salários por ano (subsídio de férias e subsídio de Natal).

Para profissionais da área de TI a situação é outra, como no mundo todo, em geral. Esse mercado tem um número relativamente alto de vagas e os salários são melhores quando comparados com outros nichos, mas ainda assim mais baixos que em outros países europeus. No entanto, muitas empresas não querem se comprometer em trazer do Brasil um profissional, tanto pela responsabilidade que isso implica quanto pela burocracia necessária para regularização do estrangeiro em território português.

O que eu costumo dizer é que o melhor caminho para quem vem morar em Lisboa é vir com planos de empreender. Abrir um negócio aqui é bem menos burocrático que no Brasil, mas não se engane: não vai ser fácil. Tanto para identificar a oportunidade ideal, arcar com os custos e conquistar a confiança dos clientes,é preciso paciência e perseverança. Quem vem com pressa de fazer dinheiro tem grandes chances de se decepcionar (e eu nem estou falando de fazer dinheiro a sério, mas o suficiente para viver com conforto).

Ter um passaporte português não faz de você ‘um deles’

Pode ser complicado entender isso, mas os brasileiros que têm cidadania portuguesa só se tornam portugueses perante a lei. O que, sim, facilita um bocado a vida. Mas, na prática, a gente continua mesmo brasileiro: no sotaque, na cultura, nos relacionamentos. Por isso, ter um passaporte português não te livra de viver a rotina na condição de estrangeiro.



O passaporte te permite ter toda a documentação necessária aos portugueses, mas pode haver funcionários públicos que, a despeito disso, dificultam sua vida como à dos estrangeiros. Recentemente, uma brasileira com cidadania portuguesa ganhou notoriedade com um relato de hostilização e xenofobia por parte dos funcionários do metrô do Porto e também da Polícia. O passaporte português também não impede que, na busca por imóveis, o senhorio ouça seu sotaque brasileiro e se recuse a te mostrar o apartamento.

Mitos e verdades sobre os portugueses (parte 2)

O mesmo passaporte português não vai impedir que alguns portugueses (uns até bem intencionados, outros nem tanto) corrijam seu vocabulário e até sugiram que você leia alguns clássicos da literatura portuguesa para melhor seu nível na língua. E certamente não vai impedir que reclamem com você sobre o Novo Acordo da Língua Portuguesa como se fosse você o responsável pelo projeto.

Esse é um post para desencorajar sua decisão de morar em Lisboa? De forma alguma! Esse é um post realista para que você venha morar em Lisboa sabendo um pouco melhor o que te espera. Há pouco mais de dois anos morando em Portugal, eu já perdi a conta de brasileiros que tiveram que voltar ao Brasil porque não conseguiram se encaixar na rotina em Lisboa ou porque vieram com expectativas inatingíveis nessa cidade. Lisboa é linda, é apaixonante, é o lugar onde me encontrei, mas não é bolinho não, gente!

Portugal é a nova Miami para os brasileiros ricos
Classes média e alta trocam Florida por Lisboa, Porto ou Coimbra, entre outros destinos, para fugir da crise

Vistos Gold
26 DE ABRIL DE 2017
João Almeida Moreira

Cansados da economia em frangalhos, da inexistência de serviços públicos de qualidade e principalmente da falta de compromisso dos brasileiros com o trabalho, Luciano e Mônica, ambos de 42 anos, andavam há anos a estudar a ideia de emigrar. Até que numa noite de abril de 2016 um assalto a uma empresa de valores perto da casa onde viviam, em Santos, provocou um tiroteio e três mortes. O casal teve de passar a noite deitado no chão. Por causa da tensão, a filha de ambos, Júlia, vomitou. Foi ela, com 8 anos, quem sentenciou na manhã seguinte: "Quero ir embora do Brasil."

"Hoje temos um café em Braga", conta ao DN Luciano Blandy, advogado de formação. Descendente de portugueses e ingleses e com cidadania italiana, foi para Portugal, rodou pelo Norte até encontrar o café onde investiu cinco mil euros. "Agora já não tenho medo de levantar dinheiro à noite." Além da segurança, o ex-advogado conta: "Aqui, apesar dos problemas, as pessoas têm compromisso com o que estão a fazer, têm uma vontade genuína de encontrar uma solução para os problemas. No Brasil é tudo paliativo, tudo para inglês ver."

Christiano Mascaro, 41 anos, ainda não deu o passo definitivo. "Em maio vou a Lisboa fazer uma viagem de prospeção", conta ao DN, "e pode ser o penúltimo passo antes da emigração". Designer e ilustrador com longa carreira no país natal, Mascaro tem medo "do Brasil de amanhã". "Desenha-se um conservadorismo brutal, a agenda que os evangélicos impõem é assustadora", diz. "Portugal está a moldar-se a valores liberais com os quais me identifico, mais cosmopolita, mais aberto, livre de amarras que só trouxeram sofrimento e distorções." Pelo contrário, diz, "o Brasil corrupto está a perder o seu aditivo, que era a espontaneidade e a tolerância, está em contramão e vai perder mais uma oportunidade".

Corrupção, crise económica, insegurança, maus serviços públicos e agenda conservadora são os motivos apontados por uma certa classe média e alta para sair do Brasil - mas já eram mais ou menos essas as razões mencionadas há quatro anos, quando houve debandada geral para os Estados Unidos, em particular para a Florida. Na altura, médicos chegavam a abrir clínicas em Miami e cobravam fortunas para brasileiras endinheiradas darem à luz por lá e garantirem cidadania americana aos seus filhos.

Hoje, em vez da Florida, é Portugal que está na moda. "Preferi Portugal a Miami pela calmaria", disse à revista Veja a empresária Christiana Braga, hoje a morar no Estoril. Além disso, a facilidade para obter passaporte e visto, por contraste com as resistências dos EUA versão Donald Trump, ajudam. "Os brasileiros descobriram Portugal há pouco. Tinham fascínio pelos EUA, só queriam ir para Miami", diz Pedro Lancastre, diretor da JLL Consultoria Imobiliária. Hoje, o Brasil responde por 14% da clientela.

"Sem contar com o clima aprazível em qualquer época do ano e a comunidade de afetos que nos une", acrescenta ao jornal Folha de S. Paulo Gilmar Mendes, juiz do Supremo Tribunal Federal e figura--chave nos processos de impeachment e dos desdobramentos da Operação Lava-Jato, hoje com apartamento comprado no Príncipe Real.

Tudo somado, estima-se que o movimento que leva o Consulado de Portugal em São Paulo a conceder 820 novas cidadanias por mês faça crescer o número de brasileiros no país colonizador dos atuais 85 mil para 100 mil, em breve. Que essa diferença resulta da emigração de cidadãos mais qualificados e abastados, nota-se no aumento de transferências financeiras de Portugal para o Brasil - de 55,6 milhões de dólares em 2014 para 71,1 em 2016. Em 2014, a percentagem de brasileiros entre os estrangeiros que mais procuravam imóveis em Portugal era de 6%, hoje é de 10%. Até 2015, tinham sido concedidos 69 vistos gold (autorização de residência em troca de investimento de um milhão de euros) a cidadãos do Brasil, hoje são 282.

"Recomendamos fortemente o investimento em imóveis em Portugal. Você paga barato, está na Europa, forma um património em euros e o retorno varia de 5% a 15%", avalia Renato Breia, sócio da Empiricus, consultoria financeira que abriu filial em Lisboa. O metro quadrado em áreas nobres de Lisboa, apesar de uma subida de 46% nos últimos dois anos, ainda é barato comparado com outras capitais europeias - ronda euro oito mil euros; em Paris chega a euro 18 mil e em Londres a 27 mil euros.

Depois de ter sido feita refém num assalto em Curitiba, a família de Aroldo Schultz, um dos tais 282 brasileiros com visto gold, vive agora no Belas Clube de Campo, entre Sintra e Lisboa, em nome "da segurança". Dono de uma produtora de vídeo, José Luiz Nogueira, 57 anos, trocou o caos de São Paulo por um apartamento com vista para o Tejo, pela "qualidade de vida". "Os meus filhos de 13 e 10 anos andam sozinhos de metro", uma missão arriscada para pré-adolescentes paulistanos, relata ao jornal Folha de S. Paulo.

Porém, a cidade mais procurada pelas classes média e alta brasileiras não é Lisboa: é Coimbra, onde mais de 10% dos alunos da universidade são naturais de Terras de Vera Cruz. Um indicador de que no futuro o número de brasileiros e descendentes em Portugal continuará a crescer.


Em São Paulo

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