“Lisboa arrisca-se "a ter bairros
única e exclusivamente dedicados ao turista, vazios de gente", alerta o
investigador e prevê que "o único papel que fica reservado aos moradores é
o de serem figurantes neste filme e não serem protagonistas".
A recente exigência de legalizar todo
o alojamento local destina-se a cobrar impostos e não se destina a regulamentar
ou impor qualquer tipo de regras ou regulamento.
Aliás esta legalização é feita com a
colaboração da AIRBNB.
Enquanto as principais cidades do
Mundo impõem restrições e regulamentos, em Portugal a AIRBNB e a Booking vivem
num Paraíso …
As consequências desta política de
muito curto prazo vão ser terríveis para o futuro do Direito à Habitação em
Lisboa, no Porto, etc.,
OVOODOCORVO
Airbnb em Lisboa: Mais de 4 mil
anúncios só em Santa Maria Maior e Misericórdia
26 DE ABRIL DE 2017 - 18:03
A freguesia de Santa Maria Maior tinha, em dezembro de 2016,
2251 anúncios na plataforma de aluguer de curta duração Airbnb, seguida pela
Misericórdia com 1968 ofertas.
De acordo com os dados API, a interface de programação de
aplicações da plataforma, a freguesia de Arroios concentra 1305 anúncios de
residências para turistas, Santo António conta com 951 ofertas e São Vicente
tem 856 casas para aluguer de curta duração no site Airbnb.
Estas cinco freguesias concentravam 7331 anúncios da
plataforma Airbnb em dezembro de 2016, contrastando com outras localidades da
capital como Benfica com 62 ofertas ou Marvila com 36 residências para curta
estadia.
Oiça a reportagem da jornalista Sara de Melo Rocha com
sonoplastia de Miguel Silva
De acordo com dados de setembro de 2016, fornecidos pela
junta de Santa Maria Maior, estão registados 1653 apartamentos de alojamento
local na freguesia, que correspondem a 15% da totalidade de residências.
Os 'superhost'
A maioria dos anfitriões anuncia apenas uma casa, mas há um
top dez que concentra quase 600 anúncios, englobando os anfitriões que mais
propriedades oferecem no site da Airbnb.
É o caso de António Quintão, um dos gestores da Feels Like
Home, uma empresa de gestão de alojamento local com ofertas de dormidas em todo
o país.
"Nós temos cerca de 240 apartamentos em Portugal, 160
ou quase 170 aqui em Lisboa. Aí somos prestadores de serviço, onde o
proprietário coloca o apartamento connosco, fazemos um contrato de prestação de
serviço ao abrigo do alojamento local e somos prestadores de serviços, temos
uma comissão para todo o serviço que desenvolvemos", explicou o gestor.
A empresa trata da promoção dos apartamentos, da receção de
hóspedes e de outros serviços relacionados com a lavandaria e limpeza.
António Quintão quis profissionalizar um setor paralelo com
pouca legalização, tornando a empresa num "prestador de serviços
qualificados na área de alojamento local".
Além da gestão de apartamentos e casas, a empresa também
aluga edifícios "durante 15, 20 anos", fazendo uma parceria com os
proprietários em termos de requalificação dos imóveis, que "podem ser
parceiras ou assumimos essas obras por inteiro". Depois de concluída a
construção, a empresa goza de um período de carência, "para nos permitir
que o negócio seja rentável, e depois fazemos uma operação independente, como
se fosse um contrato de arredamento a longo termo", explicou.
Carla Costa Reis tem também uma empresa de gestão de
alojamento local, que surgiu como forma a escapar ao desemprego.
"No início de 2012, foi o boom dos despedimentos em
Portugal, com imensa gente sair" contou à TSF, acrescentando que foi
abordada por vários amigos que lhe pediram para gerir a casa nas plataformas de
alojamento de curta duração, enquanto estivessem fora do país. "Foi assim
que começou aquilo que viria a ser a Turisma, a ajudar pessoas que queriam
manter a casa, precisavam de pagar a casa ao banco", relatou Carla Costa
Reis.
Hoje gere 30 habitações de alojamento local e chegou ao
estatuto de "superhost" no Airbnb, alcançado por anfitriões
experientes e dedicados.
"Para ser superhost é preciso responder logo, assim que
eles perguntam, estar disponível para qualquer alteração que eles queiram
fazer, eu tenho cuidado com a cama, com a roupa, com a lavandaria, com o
conforto. É ter, de facto, muito cuidado com as coisas que se apresenta às
pessoas", explicou.
Santa Maria Maior perdeu 11% da população em três anos
O crescimento de alojamento local em cidades como Lisboa e
Porto tem lançado o debate um pouco por todo o país. Se, por um lado, há quem
ganhe com a chegada dos turistas a Portugal, há outros que não encaram com bons
olhos os efeitos que o turismo tem na habitação de longa duração.
"Temos conhecimento de vários casos, dezenas de
famílias que estão a passar por este processo de pressão dos senhorios e de
expulsão das suas casas" para dar lugar ao alojamento local, explicou à
TSF Luís Mendes, um dos representantes do "Morar em Lisboa", um
movimento de cidadãos que pede a mudança das políticas habitacionais na
capital.
Luís Mendes, professor e investigador no Instituto de
Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, receia que a
onda de turismo em Lisboa torne "o centro da cidade muito
monofuncional" em que os "grupos mais vulneráveis não vão ter
capacidade de poder pagar as rendas que são pedidas no centro da cidade".
O movimento "Morar em Lisboa" defende que "o
turismo pode ser controlado" através, por exemplo, do uso de pressão por
parte da Câmara Municipal de Lisboa (CML) junto de plataformas de alojamento de
curta duração como o Airbnb, Homeaway ou Booking.com.
Por outro lado, Miguel Coelho, presidente da junta de
freguesia de Santa Maria Maior, defende a "implementação de uma quota para
o alojamento local que não rompa o equilíbrio e a coesão social que existe
naquele microambiente".
Com uma área de três quilómetros quadrados, a freguesia de
Santa Maria Maior tem uma média de 200 mil visitantes por dia, contrastando com
os cerca de 11 mil habitantes. Miguel Coelho não quer declarar guerra ao
turismo, que "é fundamental e dá emprego a muitas pessoas", mas está
preocupado com a saída de cerca de 11% dos eleitores nos últimos três anos.
"É muito, é significativo, e deixa-me, enquanto
presidente da junta, preocupado", frisou, acrescentando que "a
população que mora aqui está a ser empurrada para fora da freguesia, em virtude
de uma errada perspetiva de desenvolvimento económico e de oferta económica que
está aqui a ser criada muito dependente de determinado tipo de turismo".
Turismo não é o único culpado
Carla Costa Reis lamenta que o turismo seja o bode
expiatório para explicar a saída de população e diz que a venda de património
por parte da CML, o estatuto de residente não habitual e os "vistos
gold" também contribuem para a atual situação.
A gestora aponta ainda o dedo aos hotéis que colocaram
"na boca dos vizinhos toda aquela argumentação que servia os interesses de
um lóbi, que é antigo, pesado em Portugal e no mundo que são os
hoteleiros", contribuindo para uma "animosidade contra o alojamento
local dos vizinhos".
Do lado dos turistas, há trabalho a ser feito através do
"Lisbon does not love", uma plataforma online que mostra aos turistas
"quais são os incómodos de cada veículo, serviço turístico" para quem
vive na cidade, explicou Antoine Carieno, um dos representantes do movimento.
O grupo distribui cartazes e panfletos pelos visitantes,
alertando-os para os efeitos para os habitantes da "turistificação"
da cidade e ensinando-os a evitar armadilhas para turistas.
Luís Mendes defende que a taxa municipal turística, que
garantiu à CML 12,4 milhões de euros em 2016, deve ser aplicada "nas
infraestruturas do bairro, reforçando a recolha de lixo, reforçando - agora que
é de gestão camarária a Carris - os itinerários dos autocarros", ao invés
de ser usada para reforçar mais equipamentos de turismo.
Lisboa arrisca-se "a ter bairros única e exclusivamente
dedicados ao turista, vazios de gente", alerta o investigador e prevê que
"o único papel que fica reservado aos moradores é o de serem figurantes
neste filme e não serem protagonistas".
Sem comentários:
Enviar um comentário