quarta-feira, 26 de abril de 2017

"Emboscada" em Amiens é amostra dos desafios para a campanha de Macron / Marine Le Pen May Get a Lift From an Unlikely Source: The Far Left / Mélenchon não vai apoiar Macron, Le Pen aproveita / VIDEO:Macron jeered, Le Pen acclaimed at troubled French factory




"Emboscada" em Amiens é amostra dos desafios para a campanha de Macron

O candidato independente à presidência francesa viu-se ultrapassado pela sua adversária numa visita a uma fábrica na sua cidade natal.

 Rita Siza
RITA SIZA 26 de Abril de 2017, 20:38

Triunfalismo, excesso de confiança e complacência; gaffes, novas revelações ou escândalos de carácter pessoal; pirataria informática ou interferência da Rússia na campanha ou ainda desinteresse do eleitorado e abstenção elevada. Estes são, dizem os analistas e comentadores, os riscos e perigos que a campanha do candidato centrista e independente Emmanuel Macron enfrenta nas próximas duas semanas, até à derradeira votação para eleger o futuro Presidente de França.

O concorrente favorito, que esta segunda-feira esteve na sua cidade natal de Amiens, no Norte do país, foi recebido com assobios e apupos à porta de uma fábrica de electrodomésticos Whirlpool – que fora visitada pela sua adversária da segunda volta, Marine Le Pen, numa acção surpresa destinada a embaraçar a campanha de Macron.

Foi uma primeira amostra da inexperiência ou ingenuidade da sua equipa perante a “emboscada” montada pela agressiva candidatura rival. Aproveitando a reunião de Macron com os delegados sindicais daquela unidade, numa sala da Câmara de Comércio de Amiens, a concorrente da extrema-direita realizou uma visita não anunciada à fábrica, que poderá ser deslocalizada para a Polónia. Le Pen tirou fotografias com os trabalhadores em greve, a quem manifestou toda a sua solidariedade, e que partilhou depois no Twitter com a legenda: “Comigo, esta fábrica não fecha!”.

Quando mais tarde o centrista se deslocou à fábrica, havia vários militantes da Frente Nacional entre os grevistas, descreveu a Reuters. Macron, um antigo ministro da Economia, foi acolhido com insultos pelos trabalhadores que se queixaram da falta de empregos. “Percebo que haja angústia, e até raiva, e não fujo às minhas responsabilidades. Mas é muito importante não acicatar os ânimos e alimentar a fúria”, contrapôs o candidato.

Alguns dos seus apoiantes, entre os quais dirigentes socialistas e autarcas conservadores, alertaram para a dureza do combate político que se avizinha e criticaram a impreparação da campanha de Macron. Muitos temem que o jovem candidato não seja capaz de transpor o “terreno minado” por Le Pen sem sofrer ferimentos graves.

A reacção do candidato à passagem à segunda volta – um jantar comemorativo num restaurante de Paris reservado pela sua campanha – mereceu a crítica generalizada. Uma sondagem Harris Interactive divulgada esta quarta-feira mostrava que 52% dos eleitores consideravam que Macron tinha entrado “mal” na recta final da campanha, contra 61% que entendiam que Marine Le Pen esteve “bem”.

Para os comentadores, Macron não pode cometer gaffes infantis como a do jantar, que foi interpretado como um gesto triunfalista muito pouco apropriado, “primeiro porque ele ainda não ganhou nada, e segundo porque não há nada para festejar quando a extrema-direita passa à segunda volta”, concedeu um conselheiro da campanha, citado pelo Politico.

Também há receios de que Macron sucumba a outros imponderáveis: a exposição de algum escândalo pessoal – por exemplo a divulgação de e-mails comprometedores, de informações bancárias ou de comportamentos pessoais reprováveis, como sucedeu aos dois concorrentes nas presidenciais norte-americanas.

A campanha do independente já confirmou ter sido alvo de ciberataques, pela mão do grupo de hackers Pawn Storm, o mesmo que pirateou os servidores da campanha de Hillary Clinton e que alegadamente está ligado aos serviços de informação russos. O seu movimento “En Marche” acrescentou, porém, que os ataques não foram bem sucedidos, nem na recolha de informação, nem na disseminação de páginas falsas na Internet.

Marine Le Pen May Get a Lift From an Unlikely Source: The Far Left
By ADAM NOSSITER
APRIL 25, 2017

PARIS — The far-right leader Marine Le Pen faces an uphill battle in France’s presidential runoff, less than two weeks away. But she saw daylight through a small window on Tuesday, and from an unlikely source: her defeated counterpart on the far left.

Alone among all of France’s major political personalities, Jean-Luc Mélenchon, the leader of his own “France Unsubjugated” movement, who finished a strong fourth in Sunday’s voting, has refused to endorse Ms. Le Pen’s opponent, the former economy minister Emmanuel Macron.

Mr. Mélenchon’s critics say his obstinacy is petulant, wounded pride that can only help Ms. Le Pen’s National Front. But it also speaks to the passions that Mr. Macron, a seemingly mild-mannered centrist, provokes in large parts of the French electorate, far left and far right, who share a view of the 39-year-old former investment banker as a fire-breathing incarnation of evil market culture.

As populism and anger over the impacts of globalization energize much of the electorate, Mr. Mélenchon’s stand has added a new element of uncertainty into the final round of voting on May 7.

It has also set off a dynamic in the French race much like when Hillary Clinton defeated Senator Bernie Sanders in the Democratic presidential primaries last year — leaving his supporters, still in the thrall of populism, up for grabs as party allegiances broke down.

Mr. Mélenchon’s 19.6 percent of the vote Sunday is now a rich booty — triple the score of the mainstream Socialist Party, whose collapse has elevated Mr. Mélenchon to be de facto leader of the French left. He even won in big cities like Marseille and Lille.

But it is not clear where that vote will now go, not least because far-left populism and far-right populism may have more in common than the seemingly vast gulf between them on the political spectrum would suggest.

Mr. Mélenchon, 65, a former Trotskyite, ran a campaign denouncing banks, globalization and the European Union — just like Ms. Le Pen.

A grizzled orator with a penchant for Latin American dictators, he has the same forgiving attitude she does toward the Russian president, Vladimir V. Putin.

Supporters of Mr. Mélenchon at a rally in Nantes last week. Credit Jean-Sebastien Evrard/Agence France-Presse — Getty Images
Both were competing for working-class voters suspicious of the global financial elite. Mr. Macron had already “ruined the lives of thousands of people” with his pro-market policies, Mr. Mélenchon said during the campaign.

And like Ms. Le Pen, Mr. Mélenchon regularly attacked the news media during the campaign. On election night, after his defeat, he tore into what he called “mediacrats” and “oligarchs.” They were “rejoicing” over “two candidates who approve and want to maintain the current institutions” of government, the longtime fan of Castro and Hugo Chávez said.

The shared lines of attack gave the candidates at the political extremes their best showings ever, if from opposite ends of the spectrum. Mr. Mélenchon almost doubled his 2012 result, refused to concede for hours and then attacked both finalists, refusing to distinguish between them.

In that, he is alone. Across the board, politicians and other former candidates have urgently counseled their supporters to vote for Mr. Macron to block Ms. Le Pen’s path to the Élysée Palace.

The French call this the “Republican Front,” and it has proved effective at preventing the National Front — perceived by many in France as a threat to democracy — from taking power before.

Mr. Mélenchon is having none of it.

Instead, his party has announced an internet “consultation” of his followers, with three choices offered for the May 7 vote: a blank ballot, a vote for Mr. Macron or an abstention. A vote for Ms. Le Pen is not one of the choices, and Mr. Mélenchon’s aides insist that is the last thing they want.

On Tuesday, a site linked to Mr. Mélenchon’s party bristled with debate, with one poster saying Mr. Macron and Ms. Le Pen represented “the failure of the system” and others agonizing over whether to abstain or vote blank.

Critics of Mr. Mélenchon — who have become numerous in the Socialist Party and Mr. Macron’s camp — say a blank ballot or abstention can only help Ms. Le Pen.

“It’s his pride. It’s led him to make an extremely serious mistake,” a leading Socialist member of Parliament, Malek Boutih, said in an interview Tuesday. “He’s given them a huge boost,” he said of the National Front.

“This gesture of Mélenchon, it’s exactly like the political behavior of the whole European far left,” added Mr. Boutih, who is part of the centrist bloc Mr. Mélenchon despises. “The radical left has a problem with democratic culture. It’s a new force, but with old Stalinist ideas.”


Campaign posters for Ms. Le Pen, right, and Jean-Luc Mélenchon in Caestre, in northern France, last week. Critics of Mr. Mélenchon say his refusal to endorse Mr. Macron can only help the National Front, Ms. Le Pen’s far-right party. Credit Philippe Huguen/Agence France-Presse — Getty Images
The National Front is delighted. The party has extended a welcome mat to Mr. Mélenchon’s supporters, pointing out similarities between the candidates.

The Front’s founder, Jean-Marie Le Pen — kicked out of the party by his daughter partly over his racism — hailed Mr. Mélenchon’s position warmly in an interview on French radio Tuesday.

“This seems very worthy to me, coming from a candidate who made a remarkable breakthrough, and who was — it must be said — the best orator,” Mr. Le Pen said.

His daughter’s top lieutenant in the far-right party, Florian Philippot, said “many voters” for Mr. Mélenchon may now join Ms. Le Pen in the second round, adding that there was a “a kind of coherence, after all” in his refusal to endorse Mr. Macron.

“Among his voters, many will refuse to vote for Macron, and many could vote for us,” Mr. Philippot said on France Info, tying the former economy minister to “finance,” as Mr. Mélenchon does, and to the unpopular government of President François Hollande, in which Mr. Macron served.

“Lots of voters in the electorate that chose Fillon, Dupont-Aignan” — two candidates on the right — “and even Mélenchon are open to a number of our themes,” another top National Front official, Nicolas Bay, said in an internal memo quoted by Agence France-Presse on Tuesday.

The coming vote would be a contest between “fans of Mrs. Merkel and the unsubjugated,” he wrote — an apparent reference to Mr. Mélenchon’s movement and Chancellor Angela Merkel of Germany, who is criticized on both the far left and the far right as pursuing policies that have impoverished European Union states.

One of Mr. Mélenchon’s top aides derided the candidate’s critics in a telephone interview Tuesday. “You’ve got to look at where the criticism is coming from,” said Éric Coquerel, a member of the Paris regional council.

“It’s coming from those whose policies have favored the development of the National Front, from the Socialist Party,” said Mr. Coquerel, referring to the quarrel that divided the French left for five years: the governing Socialists’ mild pro-market turn, seen as a betrayal by France’s far left.

“We don’t want to help Marine Le Pen, but we don’t want to endorse Mr. Macron,” he said.


“He’s the candidate of free trade,” Mr. Coquerel said. “He’s going to assist in the Uberization of society. Everything we are going to fight against in the coming months. There’s no possible rapprochement.”

Mélenchon não vai apoiar Macron, Le Pen aproveita
Muitos eleitores do candidato de esquerda radical declaram que se vão abster. A candidata de extrema-direita está a cortejar os eleitores do campo oposto.

 Maria João Guimarães
MARIA JOÃO GUIMARÃES 26 de Abril de 2017, 20:38

O candidato de esquerda radical Jean-Luc Mélenchon anunciou que não vai apelar ao voto em qualquer dos dois candidatos que passaram à segunda volta das presidenciais francesas, Emmanuel Macron ou Marine Le Pen, quando na Internet muitos dos seus apoiantes lançavam uma campanha pela abstenção nas redes sociais. Marine Le Pen foi rápida a identificar um meio de ganhar votos e enviou um folheto com as semelhanças entre o programa de Mélenchon e o da Frente Nacional (esquecendo obviamente a imigração) aos apoiantes do candidato de esquerda.

A campanha para a segunda volta foi ainda marcada por uma acção de Marine Le Pen, que apareceu, sem aviso prévio, numa fábrica da Whirlpool em Amiens, a cidade de Macron, onde este se reunia com dirigentes sindicais. Le Pen prometeu aos trabalhadores que a fábrica não seria deslocalizada para a Polónia e assim estes manteriam os seus postos de trabalho; foi recebida com euforia e selfies com os trabalhadores em greve.

Macron reuniu-se com representantes sindicais e enfrentou a multidão de seguida. As descrições sobre o que se passou divergem conforme quem conta, uns relatos gabam a coragem do antigo ministro enfrentar trabalhadores enfurecidos e conversar com eles, outros dizem que Macron se mostrou desajeitado perante a cólera dos presentes (onde se encontravam também apoiantes da Frente Nacional).

Nas redes sociais, a candidatura de Le Pen usava duas imagens – uma de Marine rodeada pelos trabalhadores, outra de Macron numa sala com dirigentes – para apoiar o retrato que a Frente Nacional quer impor para a segunda volta: Le Pen, a defensora do povo, contra Macron, o defensor das elites.

Numa entrevista na véspera à estação de televisão francesa TF1, Le Pen apresentou o seu adversário como “o candidato da oligarquia”, alguém que “só vê as grandes cidades”, acusou. Mais, respondendo a uma questão sobre que qualidades vê no adversário, Le Pen não apontou nenhuma e lançou-se numa tirada contra Macron: “O projecto do senhor Macron é um projecto fratricida”, declarou. “Vai pôr as comunidades umas contra as outras, as pessoas umas contra as outras, como num reality show de televisão violento, brutal, e cruel, em que é o mais forte, o mais duro, que vencerá.”

Macron acusou, pelo seu lado, a adversária de fazer “falsas promessas”, explicando que mesmo que Le Pen fosse eleita a fábrica poderia fechar, e que a candidata da Frente Nacional não iria “resolver nenhum dos problemas de França”.

A rapidez de Le Pen
Mélenchon, que obteve 19,6% dos votos, ficando num quarto lugar muito perto de François Fillon (20%) e de Le Pen (21,3%), poderá dar força a esta ideia ao dizer que não apelará ao voto em Macron (o primeiro com 24%), ao contrário do que fez em 2002 da única vez que a Frente Nacional passou à segunda volta de umas presidenciais francesas com Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, contra Jacques Chirac.

Então, o apoio a Chirac foi generalizado (Mélenchon incluído) e o conservador venceu com 82,2% contra 17,8% de Le Pen. Hoje a situação é totalmente diferente, e embora as sondagens prevejam uma vitória de Macron, que se apresenta como centrista, antecipa-se que Le Pen possa ter 30 ou mesmo 40%, algo absolutamente inédito para a extrema-direita em França.

Outros dados inéditos: nestas eleições venceram dois candidatos que não pertencem aos grandes partidos, o que mostra um grande cansaço dos eleitores com a política tradicional, e ainda a percentagem de votos em candidatos claramente anti-europeus foi de 40%, a mais alta de sempre.

Le Pen foi, mais uma vez, rápida a reagir e a aproveitar as semelhanças (já o tinha feito em palco europeu, quando disse que ficaria feliz com uma vitória do Syriza de Alexis Tsipras na Grécia em 2015), com o cortejar dos eleitores de Mélenchon, sublinhando medidas comuns dos dois programas como a saída dos tratados europeus, da NATO, a manutenção do regime das 35h semanais, diminuição de impostos para os mais pobres, reforma aos 60 anos, e o permitir referendos de iniciativa popular, entre outras.

Por isso a posição de Mélenchon foi criticada – apesar de recusar um voto na extrema-direita, na sua consulta aos militantes, cujo resultado será conhecido a 2 de Maio, pouco antes da votação no dia 7, punha as hipóteses de voto em Macron, abstenção ou voto nulo. O deputado Malek Boutih, do Partido Socialista, foi um dos primeiros a criticar Mélenchon pelo “erro enorme” que “beneficia muito” a Frente Nacional. “Foi o seu orgulho”, concluiu.

Campanha pela abstenção
Por uma amostra nas redes sociais, muitos apoiantes da esquerda radical já decidiram o que fazer e começaram uma campanha pela abstenção com a hashtag #SansMoiLe7Mai, “sem mim no dia 7 de Maio”, prometendo não ir às urnas. “A abstenção é o único modo de nos fazermos ouvir”, diz um dos defensores da ideia. “Na segunda volta temos a escolha entre a extrema-finança e a extrema-direita”, queixa-se outra apoiante de Mélenchon, outro compara o “ódio aos estrangeiros” com o “ódio aos pobres”, e outro questiona os apoiantes de Macron: “Vocês são responsáveis pela subida da Frente Nacional com as vossas políticas e agora querem que votemos em vocês?”

A campanha para a abstenção provocou uma contracampanha: “Em 2002 o PS fez barreira contra a Frente Nacional votando UMP. Façam o mesmo”, pedia uma utilizadora do Twitter, e outra sublinhava que “a abstenção sempre beneficiou a Frente Nacional: por favor, não façam isso”.

Enquanto Le Pen parece estar disposta a agitar e extremar a campanha, Macron está a ser acusado por investir mais tempo a discutir um futuro governo do que a lutar pela presidência.

Uma percepção que pode ter sido sublinhada com o anúncio de que o partido de centro-direita Os Republicanos, do terceiro candidato François Fillon e do ex-Presidente Nicolas Sarkozy, espera ter deputados suficientes após as legislativas de Junho para conseguir um acordo de partilha de poder com Macron. François Baroin, que foi ministro das Finanças de Sarkozy, disse publicamente que estava pronto para chefiar um executivo de “coabitação” com o cand

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