Corte de freixos na Praça de Londres
e na Avenida Guerra Junqueiro gera protestos
POR O CORVO • 11 ABRIL, 2017
O previsto abate de
16 freixos na Praça de Londres e na Avenida Guerra Junqueiro, pela Câmara
Municipal de Lisboa (CML), reacendeu a polémica sobre a política de gestão do
arvoredo da autarquia e das juntas freguesia, alvos frequentes de fortes
críticas de alguns grupos de activistas, por levarem a cabo acções do género.
Desta vez, a operação de corte, anunciada na sexta-feira passada (7 de abril),
trás de volta a celeuma ocorrida há dois anos, quando algumas dezenas de
árvores daqueles arruamentos foram sujeitas a podas profundas ou abatidas.
A intervenção é
justificada pela câmara municipal com os “graves sinais de decrepitude e
defeitos estruturais” dos exemplares arbóreos. Razão contestada por diversas
associações, que lançaram uma petição contra a operação, alegando ser
infundada, por “não existir qualquer audição, auscultação, apresentação ou
explicação pública, técnica ou fito-sanitária sobre a necessidade de novo
abate”.
Nos avisos colocados
nos troncos dos freixos, a CML diz que os problemas detectados podem “pôr em
causa a segurança de pessoas e bens”, justificando-se por isso o seu abate e
substituição. Algo que, aliás, servira também de razão para a operação levada a
cabo há um par de anos. E em março de 2016, a Guerra Junqueiro voltou a ser
sujeita a uma poda substancial, que visava completar a intervenção iniciada no
ano anterior.
Na altura, tal como
em 2015, a justificação dada ao Corvo pelo presidente da Junta de Freguesia do
Areeiro, Fernando Braancamp (PSD), para a intervenção desencadeada pela Câmara
de Lisboa prendia-se com o suposto mau estado do arvoredo e as consequências do
mesmo na segurança pública. Argumentação repetida agora. “O corte é, neste
caso, competência da câmara, pois estamos a falar de espaços estruturantes. Mas
a junta não é alheia ao problema. Se se põe em causa a segurança de pessoas e
de bens, há que tomar medidas”, diz, desta vez, o autarca, falando na
existência de “uma doença”.
Frisando sempre não ter a junta a mínima responsabilidade
pelo abate agora anunciado, Braancamp afirma que é conhecido o facto de a
espécie de árvores em questão “ter uma vida útil de 60 a 70 anos, sendo que,
nestes exemplares, foi identificada uma doença que estará a corroer o miolo por
dentro”. A situação de degradação dos freixos, garante, será do conhecimento da
CML há já quase uma década.
“Pelo que sei, a
câmara tem relatórios fito-sanitários, já desde 2008, em que se refere que
estes freixos padeciam deste problema. Eles entenderam que não haveria outra
solução possível, senão mandar abaixo. O corte não foi feito na devida altura,
mas ficou combinado que o mesmo aconteceria, noutra fase, tal como a sua
substituição”, explica o presidente da Junta de Freguesia do Areeiro. No ano
passado, em declarações a O Corvo, o autarca falava na existência de um
documento técnico de 2012 para justificar uma intervenção de desbaste e abate
que, em 2015, todavia, fora tutelada pela junta.
Uma operação evocada
agora em termos negativos pela petição lançada, no último fim-de-semana, por um
conjunto de entidades: Movimento Cívico “Vizinhos do Areeiro”, Associação de
Comerciantes “Bairro em Movimento”, Fórum Cidadania Lx e Plataforma em Defesa das
Árvores. “A poda radical de 2015 deixou a Avenida Guerra Junqueiro
completamente irreconhecível, tendo sido realizada numa altura errada do ano e
o processo que conduziu a essa poda foi marcado pela falta de informação
generalizada, pela ausência de discussão pública e por um comprovado
despropósito (vejam-se as árvores agora exuberantes)”, diz o texto que suporta
a recolha de assinaturas.
Nele, considera-se
ainda o previsto novo abate como algo “surpreendente, uma vez que as árvores
agora marcadas para a morte se apresentam viçosas e pujantes de verde, como
resultado de uma poda selvagem de que foram vítimas há dois anos”. De acordo
com os autores da petição, “volta, agora, a não existir qualquer audição,
auscultação, apresentação ou explicação pública, técnica ou fito-sanitária sobre
a necessidade de novo abate.
A Plataforma em Defesa das Árvores, uma das entidades
responsáveis pela petição, qualifica a operação de abate prevista como
“arboricídio”. “Vão ser abatidas na Av. Guerra Junqueiro 16 freixos com muitas
dezenas de anos e perfeitamente saudáveis, o único problema fito-sanitário que
apresentam resultou de uma poda inadequada feita pela Junta de Freguesia do
Areeiro há dois anos, mas tudo indica que têm capacidade para recuperar. Este
abate é inadmissível, as árvores não são mobiliário urbano que se substitui por
capricho de alguém”, escreve no seu blogue.
Contactado por O
Corvo, um dos elementos da Plataforma, Rosa Casimiro, salienta a necessidade de
serem conhecidas a reais razões para a CML avançar com esta solução drástica.
“É preciso que haja um relatório actual, pois o mais recente que se conhece
será de 2014. As árvores tinham problemas em alguns ramos, mas eles foram
cortados na intervenção de há dois anos. Na minha opinião, parece evidente que
as árvores estão saudáveis e que o se está ali a fazer tem mais que ver com uma
operação de estética e não tento com razões fito-sanitárias”, considera. A
activista salienta também que as árvores que estão ser plantadas no lugar dos freixos,
da espécie ginkgo biloba,“nem daqui a 20 anos terão copas”.
O Corvo contactou,
ontem (segunda-feira, 10 de abril) à tarde, o assessor de comunicação do
vereador responsável pela Estrutura Verde, José Sá Fernandes, para obter um
comentário sobre este assunto. O referido assessor explicou que Sá Fernandes
reunirá esta terça-feira (11 de abril) com os responsáveis pela petição,
nomeadamente o movimento “Vizinhos do Areeiro”. Mas adiantou, desde logo, que
os cortes de árvores previstos se encontram devidamente fundamentados por
pareceres técnicos.
Texto: Samuel Alemão
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