Quarteirão da Suíça em obras, mas sem
hotel à vista
Sociedade
Hoteleira Seoane tem projeto aprovado, mas inquilinos contestam em tribunal.
Câmara obrigou a obras de conservação
13 DE ABRIL DE 2017
Ana Bela Ferreira
É um dos prédios centrais do Rossio. Quem passa por lá
talvez só veja a esplanada da pastelaria Suíça ou as montras da Casa da Sorte,
da Pérola do Rossio ou da Ourivesaria Portugal, mas se levantar o olhar para o
céu ou se estiver um pouco mais afastado será difícil ignorar as ervas daninhas
que crescem no telhado. O edifício conhecido com quarteirão da Suíça está
semi-abandonado (os pisos superiores estão vazios, com lojas a ocupar o
rés-do-chão e um escritório no 2.º andar) e à espera de uma nova vida há mais
de uma década. Os proprietários querem construir um hotel, que alguns
inquilinos tentam travar em tribunal. No meio deste impasse, o imóvel foi-se
degradando. Agora, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) intimou os donos - a
Sociedade Hoteleira Seoane - para que fizessem obras de recuperação e elas vão
mesmo arrancar.
"Levantaram a licença para fazer as obras de
recuperação do telhado e das fachadas há duas semanas", anunciou, esta
semana, o vereador do urbanismo, Manuel Salgado, em entrevista ao DN/TSF. No
local ainda não há sinal de que algo esteja para mudar e não foi possível saber
junto dos proprietários quando arrancam os trabalhos de recuperação do telhado.
Quem trabalha nas lojas que aqui se encontram fala apenas de
uma questão estética e de alguma água que se infiltra quando chove com mais
intensidade. É o caso da Casa da Sorte onde, às vezes, é preciso recorrer a
baldes para apanhar as gotas que caem do teto.
Mas os comerciantes têm pouca vontade de falar sobre o
proprietário e a necessidade de obras. Nem nunca referem ter processos em
tribunal contra a construção do hotel. Na Ourivesaria Portugal o único reparo é
para "a dificuldade de não haver interlocutor". "Pagamos a renda
e nada mais", dizem quase todos, quando questionados sobre a relação com
os proprietários.
O DN tentou obter informações junto do grupo hoteleiro e da
imobiliária dos proprietários, mas a indicação que dada foi a de que estariam
de férias. Publicamente pouco se tem dito sobre o caso. Uma das poucas
referências é de 2008, quando, ao Correio da Manhã, José Seoane, um dos
proprietários, assumiu que "ultrapassadas as barreiras burocráticas",
ali nasceria um hotel.
Entretanto, o espaço tem vindo a degradar-se e a câmara a
insistir com os proprietários para que façam obras, uma vez que se trata da
zona histórica da cidade. "Os proprietários dizem que não podem fazer
obras porque estão impedidos pelo tribunal e a câmara insiste que isso não os
impede do dever de conservação do imóvel", explica Isabel Maciel, da
Unidade de Intervenção Territorial Centro Histórico. A responsável garante que
o estado do prédio "não põe em risco a segurança nem de pessoas nem de
bens", mas "não deixa de ser necessário fazer a sua
reabilitação".
A posição dos proprietários junto da CML tem sido a de que
vão fazer obras quando for para avançar com o hotel, no entanto, perante uma
intimação acabaram por ceder. Em cima da mesa, esteva a hipótese - "que
ainda não está totalmente afastada" - de a câmara tomar posse
administrativa para a realização coerciva das obras. O que obrigaria os
proprietários a ressarcir o município de todos os gastos, aponta Isabel Maciel.
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