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A França é outro país. É cedo para dizer
qual
Macron permite dizer, por agora, que
o centro aguentou.
TERESA DE SOUSA
24 de Abril de 2017, 11:41
A França nunca faz as coisas por menos. De uma assentada,
varreu da segunda volta das presidenciais os candidatos dos dois grandes
partidos do sistema. Em 2002, no dia 21 de Abril, os eleitores tinham varrido
os socialistas, deixando Lionel Jospin a algumas décimas de Le Pen, o pai.
Desta vez, decidiram por um duplo 21 de Abril. O candidato socialista, Benoît
Hamon, desapareceu em combate, com um score inimaginável, deixando o campo
aberto para a esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon. A derrota da direita
gaullista, ainda que um pouco menos humilhante, é inédita na V da República,
fundada por De Gaulle em 1958 para tirar a França da instabilidade política e
acabar com a guerra da Argélia. François Fillon também vinha da ala mais
conservadora de Os Republicanos, depois de derrotar Alain Juppé, mas não lhe
serviu de nada. Vai agora morrer às mãos de Nicolas Sarkozy, que deixou de
estar interessado na segunda volta para já estar a pensar nas legislativas de
Junho, que funcionaram até aqui como uma espécie de terceira volta das
presidenciais. O problema é que na França da V República não há “grandes
coligações” mas apenas pequenas ou médias coabitações. Mitterrand- Chirac
(1986-1988); Mitterrand-Balladur (1993-1995); Chirac e Lionel Jospin
(1997-2002). Não há uma cultura de consenso, como na Alemanha, mas uma cultura
de confronto.
A questão seguinte é saber até que ponto a disciplina
republicana que fez eleger Jaques Chirac em 2002, com mais de 80% dos votos,
vai funcionar desta vez. No domingo, apenas os dois candidatos dos partidos
centrais da política francesa, o PSF e Os Republicanos, apelaram imediatamente
ao voto em Emmanuel Macron. Foi penoso mas altamente significativo ver
Mélenchon retorcer-se para evitar reconhecer a vitória de Macron e, mais ainda,
recusar-se a indicar um sentido de voto contra Marine Le Pen. Na França, na
primeira volta escolhe-se, na segunda, elimina-se. Foi o que fizeram Hamon e
Fillon. Os resultados provam também que o sistema bipolar se transformou num
sistema de quatro partidos quase iguais entre si. E esta é também uma novidade,
que fez a França acordar para um mundo político radicalmente diferente.
A noite foi, naturalmente, de Macron e de Le Pen. A
candidata da extrema-direita pode suspirar de alívio. Foi visível nos últimos
dias da campanha que a Frente Nacional já tinha perdido a dinâmica inicial e
começava a marcar passo. Porventura, batendo no tecto de vidro que, por
enquanto, ainda a impede de ser um partido igual aos outros. Macron já falou
como Presidente, apelando a todos os cidadãos, a todos os “patriotas” para
derrotar sem margem para dúvida o nacionalismo. Antes das eleições, lembrou várias
vezes a célebre frase de despedida de François Mitterrand perante o Parlamento
Europeu: “O nacionalismo é a guerra”. As sondagens, que afinal estavam
certíssimas, dão-lhe uma vitória folgada sobre Le Pen, mas longe dos 82% de
Chirac.
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