sábado, 11 de maio de 2013

Porto passa a ter porta aberta para os Maus Hábitos em plena luz do dia.


Porto passa a ter porta aberta para os Maus Hábitos em plena luz do dia.

Por Pedro Rios in Público
12/05/2013

Ponto fundamental do roteiro da noite portuense, o espaço da Rua de Passos Manuel vai agora funcionar de dia. Obras estão a criar melhores condições para o trabalho artístico
A ideia já andava na cabeça de Daniel Pires há muito tempo. Mas olhava à volta e tirava uma conclusão: não havia ainda cidade para ela. Agora já há: os Maus Hábitos (MH), espaço clássico da noite portuense, vão funcionar também durante o dia.
Ontem, houve já uma amostra do que aí vem, com um almoço vegetariano, música, dança, animação. Os sábados serão dias fortes, com matinées artísticas como a de ontem, mas durante toda a semana o espaço - uma mistura de sala de exposições, residências artísticas, sala de concertos, café e restaurante, no quarto piso de um velho prédio da Rua de Passos Manuel - terá vida do almoço até à noite. Para isso, os MH estão em obras, um investimento de 50 mil euros.
Os almoços vegetarianos são já uma instituição do espaço. Mas, depois do repasto, os MH fechavam. A partir do final deste mês, ficarão abertos sem interrupções até de madrugada. À noite, o espaço, que quando abriu portas, em 2001, estava quase sozinho na Baixa noctívaga, passou a ter, nos últimos anos, muitos concorrentes, reconhece Daniel Pires, o mentor, proprietário e a pessoa que se confunde com os MH.
Os tempos, austeros, estão de feição, acredita. "O trabalho está débil, a casa está com problemas. As pessoas têm que encontrar espaços de encontro", justifica. "Querem beber um copo de vinho, fumar um cigarro, ver a vista, olhar para o céu, perder uma hora sem fazer nada." Conclusão: "Temos que apostar no dia. E o dia é uma surpresa nos Maus Hábitos. Às vezes, quando a cidade está toda cinza, chegamos aqui e há mais luz". Não é metafórico. "É real. Quando estás num vale, mesmo que esteja a chover, tens sempre mais luz no topo da montanha."
Essa luz, que entra pelas largas janelas envidraçadas de onde se vêem o Coliseu e o casario da Baixa, foi o que fez Daniel apaixonar-se pelo espaço. "Sou fotógrafo, sou um amante da luz", justifica. "Há muitos anos que eu queria abrir isto de dia", conta. Queria, mas a cidade ainda não o permitia. "Não tinha esta população flutuante que está na cidade a não fazer nada", entregue ao lazer.
A cidade não tinha os muitos turistas que batem à porta dos MH à tarde e encontram, neste momento, as portas fechadas. Em breve, vão poder entrar e descobrir, por exemplo, uma nova sala de exposições criada a partir da junção de três pequenos espaços expositivos - os sinais de obras em curso ainda são visíveis. "Vai aumentar as possibilidades de exposições a vários níveis. [Os artistas] Vão poder expor de maneira mais criativa do que anteriormente. Havia uma configuração rígida", diz Daniel Pires. Exposições com obras de maiores dimensões, que até aqui tinham que ser recusadas, vão poder ser feitas.
Nesta "parte esquerda" dos MH, a parte mais vincadamente artística do projecto, há agora também uma oficina - com martelos, espátulas e outras ferramentas - à vista de todos. Dessa forma, Daniel espera também que as pessoas possam "perceber melhor" o projecto, que muitos vêem apenas como um bar (quando, na verdade, esse é apenas o "braço comercial" de um empreendimento multidisciplinar). Os artistas, em residência artística nos MH, terão também novos espaços de alojamento, com quartos e cozinha - como uma verdadeira casa.
A antiga oficina, longe dos olhares do público, foi transformada numa cozinha maior do que a anterior - é também de lá que vão sair os petiscos que, acompanhados, por exemplo, por um copo de vinho, ajudarão a tornar as tardes dos MH mais agradáveis. A cozinha não deixa de ser oficina: lá serão dados workshops de cozinha, que têm muita procura nestes tempos em que o "cozinheiro passou a artista".




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