sábado, 4 de maio de 2013

Onde antes navegavam caravelas e naus, hoje passeiam turistas.


Onde antes navegavam caravelas e naus, hoje passeiam turistas.

Por João Pedro Pincha
04/05/2013 in Público

Passeios por terra e rio são a mais recente proposta turística em Lisboa. A empresa quer "regressar à tradição" da navegação lusa

O momento é de ansiedade e expectativa. Num ambiente de alguma solenidade, ao som de Assim Falou Zaratustra, de Richard Strauss, o autocarro entra no rio Tejo, para grande espanto dos muitos turistas que andam nas imediações da Doca do Bom Sucesso, em Belém. Um breve suster de respiração, um abanão e eis que Lola, autocarro anfíbio da empresa HippoTrip, se faz às vagas do Tejo, provocando uma salva de palmas dos cerca de vinte convidados para a viagem inaugural.
"Flutua, fizemos mil e um ensaios", afiança Frank Alvarez, proprietário da empresa, motorista e marinheiro deste veículo turístico anfíbio, que ontem recebeu passageiros pela primeira vez. Foi na Doca de Santo Amaro, em Alcântara, que se fez a inauguração do autocarro/barco, que será o primeiro no país a permitir fazer passeios turísticos tanto em terra como em rio (ou mar).
Para chegar a esta primeira viagem, o processo foi moroso. "Foram necessárias dezenas de licenças perante várias entidades", refere Frank, garantindo que o veículo agora estreado foi comprado em Dezembro de 2008.
Agora que todas as formalidades estão cumpridas, o autocarro faz-se à estrada, seguindo em direcção ao Cais do Sodré e passando depois pela Praça do Comércio, Rua da Prata, Rossio, Av. da Liberdade, Marquês de Pombal, Rato, Estrela e Belém, onde, já na última meia hora de percurso, se passeia nas águas do rio.
Ontem, devido à maré, só se navegou entre o Padrão dos Descobrimentos e o Centro Champalimaud, junto à Torre de Belém, mas David Ferreira, o guia, admite que, com outras condições, se possa ir até perto do Museu da Electricidade. O guia, que fala em português e inglês, vai alternando, ao longo do percurso, entre explicações históricas de Portugal e Lisboa e lendas que ele próprio admite serem duvidosas.

Dois anfíbios até Dezembro

"Se por acaso houver um maremoto, estamos bem, porque estamos num anfíbio", diz, ao passar pela Rua do Arsenal. Aqui, a principal atracção para os turistas apeados parece ser mesmo o autocarro "virtualmente inafundável" - nas palavras de David - que vai a passar, com alguns solavancos. Muitos tiram fotografias e muitos correspondem com acenos ao grito que David pede diversas vezes aos passageiros: "Hippo, hippo, hurray!"
A HippoTrip "é uma pequena empresa com um grande sonho", diz Frank no discurso que profere ainda antes da partida do veículo. Depois de vários agradecimentos às várias entidades ali representadas, é Andreia Ventura, administradora do Porto de Lisboa, que corta a fita vermelha que ornamenta a escada de acesso ao veículo.
"É um regresso à tradição" da alma navegadora portuguesa, salienta Frank Alvarez na sua intervenção, manifestando o desejo de que a empresa se torne "um motivo de orgulho para os habitantes da cidade".
Luso-canadiano, Frank teve a ideia de montar a HippoTrip em 2005, quando estava em Harvard a estudar. O autocarro anfíbio que agora passará a fazer parte da paisagem lisboeta "é o 55.º veículo do género" em todo o mundo, garante David Ferreira.
A empresa espera ter um segundo autocarro em operação até ao fim do ano e prevê um total de quatro para a cidade de Lisboa, mas conta lançar-se igualmente no Porto.
Para já, durante o mês de Maio, as viagens realizam-se de sexta a domingo, a cada duas horas, a partir das 9h. Em Junho, os passeios serão diários e custarão 25 euros para adultos e 15 euros para crianças.

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