No pedido cível, Menezes acrescenta que se sentiu “durante vários meses” inibido de sair à rua e de frequentar locais públicos, tendo passado várias noites sem dormir e sentindo “vontade de chorar”. |
Menezes
exige 943 mil euros de indemnização a jornais e jornalistas
MARIANA OLIVEIRA
01/07/2015 - PÚBLICO
O
ex-autarca de Vila Nova de Gaia pede 250 mil euros por danos morais e
693.600 euros por serviços de "aconselhamento" que não
chegou a fazer ou teve de cancelar.
Luís Filipe
Menezes, ex-presidente da Câmara de Gaia e ex-líder do PSD, acusa
vários jornalistas do Jornal de Notícias e do Correio da Manhã de
crimes de difamação agravada, exigindo aos profissionais e às
respectivas empresas uma indemnização de 943.600 euros por danos
morais e patrimoniais, comum a todas as empresas e jornalistas
visados.
Estes dois pedidos
já deram entrada nos tribunais, mas o ex-autarca, que agora se
assume como “empresário”, admite vir a alargar a reivindicação
ao PÚBLICO e à revista Visão, contra quem já correm dois
processos-crime no Departamento de Investigação e Acção Penal do
Porto ainda não concluídos.
As duas acusações
particulares, que são acompanhadas pelo Ministério Público, surgem
na sequência de várias notícias sobre negócios celebrados pela
autarquia de Gaia durante os mandatos de Menezes que estão a ser
investigados pela Polícia Judiciária e sobre o património que o
ex-autarca acumulou nos últimos anos. Na altura, em Setembro do ano
passado, a Procuradoria-Geral da República confirmou estar a
investigar casos relacionados com o anterior mandato autárquico de
Gaia, adiantando que o inquérito ainda não tinha arguidos.
Num dos processos, a
que o PÚBLICO teve acesso, os representantes de Menezes garantem que
as notícias “são falsas”, acusando os órgão de comunicação
social de uma “campanha difamatória” que pretende afectar a
credibilidade e honorabilidade do antigo presidente do PSD.
Menezes pede uma
compensação 250 mil euros em danos morais e de 693.600 euros em
danos patrimoniais. Estes reportam-se a rendimentos que o antigo
autarca diz ter ficado privado na sequência das notícias. Para tal,
apresenta três declarações de empresários, em que os mesmos
afirmam que iriam contratar Menezes como consultor, tendo recuado na
sequência das notícias.
Por exemplo, o
presidente do conselho de administração da Soltrópico - Viagens e
Turismo, Augusto Machado, assegura que tinha contratualizado com o
actual conselheiro de Estado “uma assessoria, válida por um
período de três anos”, que visava “acompanhar e aconselhar os
procedimentos necessários à expansão das actividades deste grupo”
em Portugal e no Brasil.
Os conselhos
deveriam render a Menezes 4300 euros mensais. “Acontece que as
notícias que de forma massiva, nos meses de Setembro e Outubro de
2014, colocaram em causa a sua honorabilidade recente como gestor
público” aconselharam a adiar “a decisão sobre essa eventual
colaboração”, justifica Augusto Machado, num documento anexado ao
pedido de indemnização. Os advogados Castanheira Neves e Nuno
Oliveira fizeram as contas e à conta desta assessoria exigem aos
jornais e aos jornalistas 154.800 euros, que se juntam a uma parcela
de 150 mil euros relativa a uma avença com a Empatias – Decorações
de Interiores durante cinco anos.
“O motivo que nos
leva a tomar esta posição que esperamos desde já compreenda, é
que no presente momento e face a algumas notícias que têm saído na
comunicação social a Empatias considera que o valor acrescentado
que nos poderia trazer, neste momento não se aplica”, escreveu
Isabel Santos, da Empatias, num outro documento. Uma justificação
similar é dada por Paulo Dâmaso de Andrade, presidente do conselho
de administração da KapaInvest- Hotelaria e Similares S.A. para
cancelar o “serviço de aconselhamento” num projecto que envolvia
“dezenas de milhões de euros” e que, ao longo de três anos,
deveria ter rendido a Menezes 183.600 euros.
No pedido de
indemnização, o ex-autarca garante ainda que tinha acordado com o
Porto Canal um novo programa com início em Outubro de 2014, que
decorreria às sexta-feiras em horário nobre. O antigo presidente da
câmara diz que ficou assente que auferiria 50% das receitas de
publicidade que o programa gerasse, o que estima em 10 mil euros
mensais e 120 mil anuais. Para comprovar essa perda arrola como
testemunha Adelino Caldeira, administrador da SAD do FC Porto, que
controla o canal.
Entre os montantes
reivindicados estão 43.200 euros que Menezes esperava receber com a
colaboração mensal, por um período de três anos, com o Jornal de
Notícias, uma das entidades a quem exige a indemnização e que diz
“teve que suspender”.
Para sustentar os
danos morais, o antigo líder social-democrata apresenta quatro
relatórios médicos que dão conta da agudização de alguns
problemas de saúde, na sequência de um estado de grande ansiedade
cuja motivação não se encontra justificada. Em causa estão
problemas digestivos, crises mais recorrentes de prostatites,
insónias, cefaleias e depressão, entre outros.
No pedido cível,
Menezes acrescenta que se sentiu “durante vários meses” inibido
de sair à rua e de frequentar locais públicos, tendo passado várias
noites sem dormir e sentindo “vontade de chorar”. Por causa das
notícia, “milhares de pessoas formularam um juízo desonroso
quanto à probidade, lealdade e rectidão da vida familiar do lesado
que aliado à vertente familiar, profissional e política, o tornam
num alvo perfeito à chacota popular, à especulação e à projecção
negativa do homem público nos centros de poder e especialmente no
partido político em que se insere”, argumentam os advogados de
Menezes, que acusam os jornalistas de terem a intenção de ferir a
honra, consideração, bom nome e dignidade do cliente.
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