quinta-feira, 23 de julho de 2015

Votação de mais reformas é novo teste a Tsipras e à revolta no Syriza


Votação de mais reformas é novo teste a Tsipras e à revolta no Syriza

Para além de negociar terceiro resgate — em discussões que se antevêem duras —, o primeiro-ministro grego terá ainda de travar cisão no partido e na base de apoio parlamentar ao Governo

PÚBLICO / 23-7-2015

Sem surpresas, mas com consequências ainda imprevisíveis para o Syriza, o principal partido do Governo grego, o Parlamento de Atenas preparava-se para aprovar, na madrugada de hoje, o segundo pacote de medidas exigidas pelos credores para o início de negociações para um terceiro resgate financeiro à Grécia.
Uma semana depois de ter aprovado um primeiro conjunto de leis, a maioria dos deputados deveria repetir um voto favorável. Também se esperava que voltassem a ficar bem visíveis as divisões no Syriza do primeiro-ministro, Alexis Tsipras.
Eram 22h30 (20h30 em Portugal continental) quando o debate teve início. A presidente do Parlamento, Zoe Konstantopoulou, lançou as discussões, afirmando que só “uma leitura sumária do que deveria ser votado [uma proposta com 900 páginas] levaria 32 horas”, e sublinhar que o acordo entre Tsipras e os credores obrigou os deputados a votar em tempo absolutamente recorde reformas importantes. Não se esperava nenhuma votação antes das 3h.
Tsipras começou por atacar os deputados que se opõem ao acordo, acusando-os de “se esconderem atrás da segurança” da sua assinatura.
Para além do apoio de parte da coligação governamental, Tsipras esperava o voto favorável de partidos europeístas da oposição — Nova Democracia, de direita; To Potami, do centro; Pasok, centro-esquerda. Há uma semana, os votos favoráveis foram 229. Um aliado de Tsipras ouvido pela correspondente do jornal britânico dizia esperar o apoio “de pelo menos 120 deputados do Syriza”.
Uma vez que esteja garantida a aprovação das reformas exigidas para o início das negociações, o primeiro-ministro terá novos desafios: a negociação que se antevê dura em Bruxelas e a tentativa de travar a fragmentação do partido e da sua base de apoio parlamentar.
Na rua, repetiram-se os protestos. Mais de seis mil pessoas responderam a apelos do principal sindicato da função pública, o Adedy, do PAME, afecto ao Partido Comunista, e de grupos anti-sistema para concentrações frente ao Parlamento, ao fim da tarde.
“O Governo já não nos ouve”, disseram à AFP Georges Kokkinavis e Katerina Sergidou, dois jovens membros da corrente mais à esquerda do Syriza que foram até à Praça Syntagma protestar contra “o pior memorando já visto”, como são chamados os empréstimos internacionais que a Grécia tem recebido desde 2010.
Uma vez mais, houve incidentes quando anarquistas lançaram
Molotov contra as barricadas e a polícia — com a chegada destes grupos, o grosso da manifestação debandou.
Depois de, uma semana antes, terem aprovado medidas de óbvio agravamento da austeridade — designadamente o aumento do IVA —, os deputados gregos tinham desta vez de votar uma reforma do Código de Justiça e medidas para reforçar a solidez da banca e assegurar os depósitos até 100.000 euros.
Logo de manhã, Tsipras reuniuse com responsáveis da banca. “A prioridade neste momento é normalizar o sistema e, ao mesmo tempo, proteger os cidadãos com poucos rendimentos”, disse.
À tarde, a agência Bloomberg noticiou que o Banco Central Europeu aumentou em 900 milhões de euros a assistência de liquidez à banca grega. Foi a segunda vez que o fez, e em igual montante, desde o acordo de 13 de Julho entre o Governo de Atenas e os parceiros do euro. A assistência de liquidez de emergência ultrapassa agora os 90 mil milhões de euros.
As consequências da divisão no Syriza são politicamente imprevisíveis. A persistência da dissidência pode tornar real o cenário de eleições antecipadas. Na votação da semana passada, a maioria governamental de 162 deputados — 149 do Syriza e 13 dos Gregos Independentes — sofreu a deserção de 39 deputados do partido líder. É improvável que noutras matérias o alinhamento da oposição europeísta se mantenha.
Acordo é a prioridade
Tsipras, que após as “deserções” na votação do primeiro pacote remodelou o Governo, e mantêm uma popularidade alta, admitiu na terçafeira a convocação de um congresso partidário para Setembro, mas insistiu que a prioridade é concluir um acordo que alivie a asfixia financeira da Grécia.
O seu pragmatismo mereceu elogios de Jean-Claude Juncker, que, numa entrevista ao jornal belga
disse que o líder grego assumiu uma posição de “estadista”, porque “se levasse o seu pensamento até ao limite, seria o fim da Grécia”.
Ao pronunciar-se sobre o entendimento entre os países da zona euro na madrugada de 13 de Julho, o presidente da Comissão Europeia disse mais do que isso: “Evitámos o pior, não por sermos excessivamente sábios mas porque tivemos medo. Foi o medo que permitiu o acordo. Depois do medo há sempre o alívio.”

As negociações para um terceiro resgate devem iniciar-se amanhã. Tanto a Comissão como o Governo esperam poder concluí-las até 20 de Agosto — dia em que a Grécia tem de fazer um importante reembolso, de 3190 milhões de euros, ao BCE. Em Setembro chega mais uma factura a Atenas — 1500 milhões do Fundo Monetário Internacional.

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