Votação
de mais reformas é novo teste a Tsipras e à revolta no Syriza
Para
além de negociar terceiro resgate — em discussões que se antevêem
duras —, o primeiro-ministro grego terá ainda de travar cisão no
partido e na base de apoio parlamentar ao Governo
PÚBLICO / 23-7-2015
Sem surpresas, mas
com consequências ainda imprevisíveis para o Syriza, o principal
partido do Governo grego, o Parlamento de Atenas preparava-se para
aprovar, na madrugada de hoje, o segundo pacote de medidas exigidas
pelos credores para o início de negociações para um terceiro
resgate financeiro à Grécia.
Uma semana depois de
ter aprovado um primeiro conjunto de leis, a maioria dos deputados
deveria repetir um voto favorável. Também se esperava que voltassem
a ficar bem visíveis as divisões no Syriza do primeiro-ministro,
Alexis Tsipras.
Eram 22h30 (20h30 em
Portugal continental) quando o debate teve início. A presidente do
Parlamento, Zoe Konstantopoulou, lançou as discussões, afirmando
que só “uma leitura sumária do que deveria ser votado [uma
proposta com 900 páginas] levaria 32 horas”, e sublinhar que o
acordo entre Tsipras e os credores obrigou os deputados a votar em
tempo absolutamente recorde reformas importantes. Não se esperava
nenhuma votação antes das 3h.
Tsipras começou por
atacar os deputados que se opõem ao acordo, acusando-os de “se
esconderem atrás da segurança” da sua assinatura.
Para além do apoio
de parte da coligação governamental, Tsipras esperava o voto
favorável de partidos europeístas da oposição — Nova
Democracia, de direita; To Potami, do centro; Pasok, centro-esquerda.
Há uma semana, os votos favoráveis foram 229. Um aliado de Tsipras
ouvido pela correspondente do jornal britânico dizia esperar o apoio
“de pelo menos 120 deputados do Syriza”.
Uma vez que esteja
garantida a aprovação das reformas exigidas para o início das
negociações, o primeiro-ministro terá novos desafios: a negociação
que se antevê dura em Bruxelas e a tentativa de travar a
fragmentação do partido e da sua base de apoio parlamentar.
Na rua, repetiram-se
os protestos. Mais de seis mil pessoas responderam a apelos do
principal sindicato da função pública, o Adedy, do PAME, afecto ao
Partido Comunista, e de grupos anti-sistema para concentrações
frente ao Parlamento, ao fim da tarde.
“O Governo já não
nos ouve”, disseram à AFP Georges Kokkinavis e Katerina Sergidou,
dois jovens membros da corrente mais à esquerda do Syriza que foram
até à Praça Syntagma protestar contra “o pior memorando já
visto”, como são chamados os empréstimos internacionais que a
Grécia tem recebido desde 2010.
Uma vez mais, houve
incidentes quando anarquistas lançaram
Molotov contra as
barricadas e a polícia — com a chegada destes grupos, o grosso da
manifestação debandou.
Depois de, uma
semana antes, terem aprovado medidas de óbvio agravamento da
austeridade — designadamente o aumento do IVA —, os deputados
gregos tinham desta vez de votar uma reforma do Código de Justiça e
medidas para reforçar a solidez da banca e assegurar os depósitos
até 100.000 euros.
Logo de manhã,
Tsipras reuniuse com responsáveis da banca. “A prioridade neste
momento é normalizar o sistema e, ao mesmo tempo, proteger os
cidadãos com poucos rendimentos”, disse.
À tarde, a agência
Bloomberg noticiou que o Banco Central Europeu aumentou em 900
milhões de euros a assistência de liquidez à banca grega. Foi a
segunda vez que o fez, e em igual montante, desde o acordo de 13 de
Julho entre o Governo de Atenas e os parceiros do euro. A assistência
de liquidez de emergência ultrapassa agora os 90 mil milhões de
euros.
As consequências da
divisão no Syriza são politicamente imprevisíveis. A persistência
da dissidência pode tornar real o cenário de eleições
antecipadas. Na votação da semana passada, a maioria governamental
de 162 deputados — 149 do Syriza e 13 dos Gregos Independentes —
sofreu a deserção de 39 deputados do partido líder. É improvável
que noutras matérias o alinhamento da oposição europeísta se
mantenha.
Acordo é a
prioridade
Tsipras, que após
as “deserções” na votação do primeiro pacote remodelou o
Governo, e mantêm uma popularidade alta, admitiu na terçafeira a
convocação de um congresso partidário para Setembro, mas insistiu
que a prioridade é concluir um acordo que alivie a asfixia
financeira da Grécia.
O seu pragmatismo
mereceu elogios de Jean-Claude Juncker, que, numa entrevista ao
jornal belga
disse que o líder
grego assumiu uma posição de “estadista”, porque “se levasse
o seu pensamento até ao limite, seria o fim da Grécia”.
Ao pronunciar-se
sobre o entendimento entre os países da zona euro na madrugada de 13
de Julho, o presidente da Comissão Europeia disse mais do que isso:
“Evitámos o pior, não por sermos excessivamente sábios mas
porque tivemos medo. Foi o medo que permitiu o acordo. Depois do medo
há sempre o alívio.”
As negociações
para um terceiro resgate devem iniciar-se amanhã. Tanto a Comissão
como o Governo esperam poder concluí-las até 20 de Agosto — dia
em que a Grécia tem de fazer um importante reembolso, de 3190
milhões de euros, ao BCE. Em Setembro chega mais uma factura a
Atenas — 1500 milhões do Fundo Monetário Internacional.
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