Salgado
em prisão domiciliária, mas pode sair de casa com autorização do
juiz
PEDRO SALES DIAS ,
MARIANA OLIVEIRA e ANA HENRIQUES 24/07/2015 - 16:28 (actualizado às
22:01) / PÚBLICO
Judiciária
fez buscas na quarta e quinta-feira na sede da ESEGUR. Ex-presidente
do BES acabou interrogatório por volta das 21h30 e à meia-noite
soube que iria ficar obrigado a permanecer na habitação, sem
vigilância electrónica. Defesa fala em medida "bastante
desproporcional" e admite recorrer.
O ex-presidente
executivo do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, vai
aguardar o desenrolar das investigações ao colapso do BES e do GES
em prisão domiciliária, sem pulseira electrónica. O antigo
banqueiro poderá sair excepcionalmente da habitação, com
autorização do juiz Carlos Alexandre, que lhe aplicou esta e outras
medidas de coacção, ainda não conhecidas.
A informação foi
avançada pelo advogado do ex-banqueiro, Francisco Proença de
Carvalho, que considera a principal medida "bastante
desproporcional" e pondera recorrer dela. O defensor adiantou
que outros agentes processuais também discordaram da medida agora
imposta mas sem se referir aos procuradores, os únicos presentes na
audiência. O interrogatório ao antigo banqueiro terá começado na
manhã desta sexta-feira e ocorreu no “âmbito das investigações
do denominado Universo Espírito Santo”, adiantou a
Procuradoria-Geral da República (PGR) em comunicado
Francisco Proença
de Carvalho falou à saída do tribunal, insistindo que o cliente
colaborou com as autoridades, como sempre fez, uma postura que,
garante, não vai mudar. “O Dr. Ricardo Salgado prestou declarações
como sempre presta. Deu esclarecimentos de forma completamente
cooperante e voluntária”, afirmou.
O advogado só fez
referência à principal medida de coacção, adiantando, no entanto,
que foram decidas “várias”, sem referir quais. No final, nenhum
funcionário do tribunal quis adiantar as medidas decretadas,
remetendo esclarecimentos para a PGR.
Antes de se despedir
dos jornalistas, Proença de Carvalho ainda deixou um recado: “Não
aceitamos julgamentos sumários de ninguém e vamos bater-nos ao
máximo” [pelos direitos de Ricardo Salgado].
Um ano e três
milhões depois
Salgado esteve a ser
interrogado pelo juiz Carlos Alexandre um dia depois de a Polícia
Judiciária (PJ) terminar uma operação com buscas na ESEGUR, uma
empresa de segurança onde o BES detinha quase metade das acções
que agora são propriedade do Novo Banco (44%) e da Gestres –
Gestão Estratégica Espírito Santo. Os restantes 50% pertencem à
Caixa Geral de Depósitos. Contactado pelo PÚBLICO, o departamento
de comunicação da ESEGUR recusou prestar qualquer esclarecimento
sobre o sucedido.
Durante a operação
na empresa que se dedica ao transporte de valores, os inspectores da
Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da PJ apreenderam
inúmeros documentos e centenas de quadros no cofre daquela empresa
que serão propriedade do Grupo Espírito Santo (GES), adiantou ao
PÚBLICO fonte da PJ.
A audição de
Ricardo Salgado foi avançada em primeira mão pela revista Sábado.
O ex-banqueiro foi ouvido a pedido do Ministério Público e na
qualidade de arguido, com o objectivo de lhe serem fixadas medidas de
coacção. Recorde-se que o antigo presidente do BES é arguido num
outro processo, o Monte Branco, que investiga a maior rede de
branqueamento de capitais descoberta em Portugal. Curiosamente, esta
sexta-feira fez precisamente um ano que Ricardo Salgado foi ouvido
durante oito horas pelo mesmo juiz, no mesmo tribunal, tendo então
ficado sujeito a uma caução de três milhões de euros, proibido de
se ausentar de Portugal e de efectuar contactos com determinadas
pessoas.
Processo tem seis
arguidos
Num comunicado
emitido ao final da tarde desta sexta-feira, a PGR revela que, na
passada segunda-feira, Ricardo Salgado “foi interrogado e
constituído arguido pelo Ministério Público, no âmbito das
investigações relacionadas com o denominado ‘Universo Espírito
Santo’, que correm termos no Departamento Central de Investigação
e Acção Penal [DCIAP]”.
A nota adianta que
até sexta-feira “foram constituídos seis arguidos no âmbito
destas investigações, nas quais está em causa a suspeita da
prática de crimes de falsificação, falsificação informática,
burla qualificada, abuso de confiança, fraude fiscal, corrupção no
sector privado e branqueamento de capitais”. Dois deles são
antigos directores do BES que foram constituídos arguidos em
Novembro do ano passado, durante uma mega operação de buscas que
incluiu uma visita à sede do Novo Banco e às actuais instalações
do BES. São eles Isabel Almeida, ex-directora financeira do BES, e
António Soares, ligado à administração do BES Vida. O ex-braço
direito de Salgado, Amílcar Morais Pires, é outro dos arguidos, não
se conhecendo a identidade dos restantes dois.
Além deste
inquérito ainda estão a correr outros quatro processos relacionados
com o colapso do BES e do GES, um dos quais agrega outros 73
processos. “Estes inquéritos apensos respeitam a queixas
apresentadas por pessoas que se consideram lesadas pela actividade
desenvolvida pelo BES e pelo GES”, lê-se no comunicado. Estas
investigações estão a cargo de um grupo de cinco procuradores,
três dos quais estiveram nesta sexta-feira no Tribunal Central de
Instrução Criminal (TCIC).
Director de
segurança detido
A operação de
buscas que visou a sede da ESEGUR no Prior Velho, em Lisboa, ocorreu
no âmbito do mesmo processo em que o ex-presidente executivo do BES
foi ouvido esta sexta-feira e resultou na detenção do director do
departamento de segurança da empresa. A UNCC detectou armas
proibidas na habitação do responsável, o que justificou a sua
detenção. O director de segurança deverá ser julgado em breve em
processo sumário, já que os crimes em causa surgiram como uma
questão colateral ao objectivo das buscas na ESEGUR.
As últimas buscas
neste processo, em que estão em causa crimes de branqueamento de
capitais e fraude fiscal, ocorreram há cerca de um mês e visaram a
família Espírito Santo e ex-administradores do BES. No âmbito
deste mesmo processo foi então apreendida uma grande quantidade de
bens, incluindo barcos, carros, dinheiro, quadros valiosos, ouro e
jóias. De acordo com várias avaliações existentes nas três
dezenas de processos relacionados com o universo Espírito Santo, os
bens móveis e imóveis confiscados pelas autoridades já totalizam
cerca de 1,8 mil milhões de euros.
Uma das buscas foi
levada a cabo na residência habitual de Ricardo Salgado, em Cascais,
e outra na casa de férias da Herdade da Comporta, no Alentejo.
Amílcar Morais Pires e José Manuel Espírito Santo,
ex-administradores do BES, estão entre os visados por essas buscas e
apreensões, confirmou ao PÚBLICO fonte da PJ.
A operação
decorreu depois de, em Maio, a PGR ter adiantado que tinha sido feito
um “arresto preventivo de bens imóveis e valores patrimoniais de
outra natureza titulados por pessoas singulares e colectivas
relacionadas com o 'Universo Espírito Santo'”. Entre os imóveis
arrestados estão propriedades da Rioforte (o braço não financeiro
do grupo) e de subsidiárias desta empresa. Nessa altura, a PGR
especificou que corriam então no DCIAP 29 inquéritos relacionados
com o colapso do BES e do GES.
Vários órgãos de
comunicação, entre os quais o Correio da Manhã e a TVI, depois de
divulgado o arresto de bens, noticiaram então que foram confiscados
entre 500 e 600 imóveis do Grupo Espírito Santo (GES) e milhões de
euros de produtos bancários, num valor total superior a mil milhões.
A maioria dos imóveis serão prédios rústicos e urbanos
pertencentes à Rioforte, que é dona, entre outros, da Herdade da
Comporta.
Na base deste
processo está uma queixa-crime apresentada pelo Banco de Portugal
após o relatório de auditoria forense contra actos da anterior
gestão liderada por Ricardo Salgado. O próprio BES, que ficou com
os activos tóxicos do banco, é assistente do Ministério Público
neste caso, tendo apresentado uma queixa-crime por infidelidade
contra vários dos seus ex-administradores.
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